O iraniano Mehran Karimi Nasseri, que ficou conhecido por ter vivido no Aeroporto Charles de Gaulle durante 18 anos, morreu, neste sábado, aos 76 anos, tendo sofrido um ataque cardíaco quando se encontrava no Terminal 2F, confirmou a agência noticiosa AFP.
Quando em 2004 chegou às salas o filme Terminal de Aeroporto, em que Tom Hanks dava vida a Viktor Navorski, a trama parecia impossível. Um cidadão de um país de Leste descobre, durante uma viagem a Nova Iorque, que rebentou uma guerra civil no seu país e houve um golpe de Estado, ficando sem documentos e encalhado.
Mas a história inspirava-se num caso real: o de Merhan Karim Nasseri (ou Alfred, como era conhecido no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris). Merhan era um cidadão iraniano, exilado político depois de se ter manifestado contra o xá do Irão nos anos 1970.
Em 1988, não consegue entrar em Londres por ter apenas uma fotocópia do passaporte e é expulso para Paris, local onde embarcara. Aí, sucedem-se uma série de absurdos burocráticos e Merhan começa a aprender a viver no aeroporto, entre pilotos, comissários e assistentes de bordo, empregados de cafés e restaurantes. Em 1999, quando a Bélgica se interessa pelo seu caso e resolve dar-lhe um passaporte válido, Alfred já não quer sair do aeroporto.
Acabaria por abandonar o terminal em 2006, altura em que teve de ser hospitalizado, passando a viver, depois disso, num abrigo em Paris. Mas, nas últimas semanas, tinha regressado ao aeroporto, o local que aprendera ser a sua casa, onde “dormia num banco de plástico e tomava banho nas instalações do pessoal”, descreveu um funcionário do aeroporto, citado pela imprensa internacional.
Nascido em 1945, em Masjed Soleiman, na província iraniana do Khuzistão, então sob jurisdição britânica, Mehran Karimi Nasseri, conhecido como Sir Alfred, tinha pai iraniano e mãe britânica. Deixou o país para estudar em Inglaterra em 1974.