Emitido parecer desfavorável à reconstrução do Beach Club na praia do Ourigo no Porto

A reconstrução da estrutura de betão no areal gerou uma onda de contestação.

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Obras foram interrompidas Paulo Pimenta

A Direcção de Serviços dos Bens Culturais (DSBC) emitiu um parecer não favorável à proposta de alteração ao projecto de reconstrução do Beach Club na praia do Ourigo, no Porto, dada a proximidade ao Forte de São João.

Em resposta à agência Lusa, a Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) adiantou ter dado entrada na Direcção de Serviços dos Bens Culturais, a 01 de Setembro, um requerimento relacionado com o Beach Club na praia do Ourigo, estrutura de betão que gerou uma onda de contestação.

De acordo com a DRCN, a Direcção de Serviços dos Bens Culturais emitiu um parecer não favorável, a 22 de Setembro, “tendo em conta a proximidade do Forte de São João e o actual perfil sem obstáculos, para os conjuntos classificados, das linhas de mar e da margem do rio”.

“Não poderá haver nenhum elemento acima da amurada confinante com o arruamento”, acrescenta aquela entidade.

Na segunda-feira, o Jornal de Notícias avançava que uma nova proposta de alteração ao projecto de reconstrução do Beach Club na praia do Ourigo tinha dado entrada na Câmara do Porto.

À Lusa, a Câmara do Porto confirmou na quinta-feira ter dado entrada, em Agosto, o processo de licenciamento e que o mesmo se encontra, neste momento, “em fase de apreciação”.

A Lusa tentou obter esclarecimentos junto do Ministério do Ambiente e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mas até ao momento não obteve resposta.

Em causa está a construção de um apoio de praia em betão no Ourigo, que gerou uma onda de contestação e levou várias forças políticas a pedir o embargo da obra. Em 07 de Junho, a APA mandou suspender a obra e determinou a demolição do equipamento.

O anterior ministro do Ambiente e da Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, considerou, em 11 de Outubro, “inaceitável” aquela construção sobre o areal, e admitiu que “o Ministério do Ambiente e as suas estruturas administrativas também estiveram mal neste processo”.

Reafirmando aquilo que já tinha dito há um ano, o então responsável pela tutela deixou claro que a responsabilidade pela demolição é da APA.

O caso levou à abertura de dois inquéritos à actuação das entidades envolvidas na aprovação da construção em betão, tendo um deles sido conduzido pela Inspecção-Geral do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) que, em Junho, adiantou ter arquivado aquele procedimento por considerar que a APA desencadeou procedimentos tendentes à reposição da legalidade.

O documento aponta, contudo, incoerências na actuação da Administração da Região Hidrográfica do Norte (ARHN) e defende que a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), que concessionou o espaço por 20 anos, não o podia ter feito.

Além da IGAMAOT, a APA procedeu à abertura de um inquérito interno, sobre o qual, até ao momento, ainda não foi possível obter informações.

Inicialmente, a APA tinha emitido parecer favorável condicionado à construção daquele apoio de praia, decisão que foi revertida e comunicada ao município do Porto em 27 de Maio.

À data, o Público avançava que a mudança de posição da APA “é justificada pela iminência da publicação do POC-CE [Programa da Orla Costeira Caminha - Espinho], um “elemento novo” que aconselha à não aprovação do projecto em causa, um edifício em ferro, vidro e madeira assente em pilares e numa laje de betão a poucos metros do mar”.

Em comunicado, em 31 de Maio, o promotor, que pretendia construir um Beach Club na praia do Ourigo, avisava que, “a concretizar-se o referido propósito revogatório, o mesmo constituirá causa de incalculáveis danos materiais e reputacionais que os responsáveis pelo mesmo terão, necessariamente, que suportar”.