Sunak quer acordo migratório “mais ambicioso” com França para reduzir travessias no canal da Mancha
Planos do novo primeiro-ministro britânico incluem força policial permanente francesa na costa Norte de França e processamento de 80% dos pedidos de asilo no Reino Unido em seis meses.
O novo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, quer aproveitar a sua chegada ao número 10 de Downing Street para “melhorar as relações” entre o Reino Unido e França – muito desgastadas pelo processo político do “Brexit” – e tentar chegar a um acordo “mais ambicioso” com Paris para reduzir o número de migrantes e requerentes de asilo que cruzam o canal da Mancha em barcos improvisados.
“[Queremos] impulsionar a oportunidade criada pela chegada de Rishi para melhorar as relações com França. Estamos determinados em adoptar uma abordagem construtiva e serena com os franceses para fazermos progressos sobre as pequenas embarcações”, disse uma fonte do Governo conservador ao Times.
As propostas do novo executivo britânico incluem a definição de um número mínimo de agentes policiais franceses que devem estar destacados, a toda a hora, na costa Norte de França, para patrulharem as praias.
No que toca ao procedimento interno, o Governo tory pretende reduzir drasticamente o tempo que os funcionários do Home Office (Ministério do Interior) demoram a examinar e a dar resposta aos requerimentos de asilo de quem chega ao território britânico.
O novo objectivo passa por processar 80% dos pedidos recebidos no espaço de apenas seis meses – actualmente, o Home Office demora, em média, 480 dias (cerca de 16 meses), a tomar a primeira decisão administrativa num requerimento de asilo.
O cumprimento desta e de outras metas, escreve o Times, passará por incentivos financeiros aos funcionários, nomeadamente par aqueles que processem quatro pedidos de asilo por semana – em vez dos actuais dois, segundo as estatísticas.
Para tal, o Governo conservador também planeia mudanças nos próprios requisitos do requerimento de asilo, de forma a restringir o âmbito da sua aplicabilidade.
De acordo com os dados do Ministério do Interior, o número de travessias do canal da Mancha deste ano suplantou, logo em Setembro, o número total registado em 2021, sendo que, nos últimos dois anos, o fluxo disparou – nomeadamente com pessoas vindas de África e do Médio Oriente.
No início deste mês, a contagem superava as 33 mil pessoas. No ano passado contabilizaram-se 28,526 chegadas e no ano anterior 8,404.
Segundo o Telegraph, o Governo britânico gasta cerca de 5,6 milhões de libras (perto de 6,5 milhões de euros) por dia para acomodar requerentes de asilo que atravessam o canal da Mancha em hotéis e noutros estabelecimentos semelhantes.
A esta quantia soma-se outros 1,2 milhões de libras destinadas a imigrantes afegãos, no âmbito dos compromissos assumidos pelo Reino Unido aquando da retirada das tropas ocidentais do Afeganistão e da reconquista do poder pelos taliban, no Verão de 2021.
Contra a “imigração ilimitada”
Filho de imigrantes indianos que chegaram ao Reino Unido nos anos 1960, Rishi Sunak nunca escondeu ser favorável ao reforço do controlo britânico das suas fronteiras – fez campanha pelo “Brexit”, em 2016, com esse argumento, entre outros –, nem de se assumir como um crítico da “imigração ilimitada”, que, aliás, diz ser a posição do Partido Trabalhista, na oposição.
Na terça-feira, pouco depois de ter sido oficialmente declarado primeiro-ministro – substituindo Liz Truss, que esteve apenas 49 dias em funções, depois de suceder a Boris Johnson –, Sunak reconduziu Suella Braverman ao cargo de ministra do Interior, apesar de esta se ter demitido do posto, na semana anterior, por tratamento indevido de informação confidencial.
A ministra é uma defensora acérrima do polémico programa migratório anunciado em Abril pelo Governo de Johnson e promovido como uma solução para acabar com as redes de tráfico de seres humanos naquela rota.
O programa implica a deportação para o Ruanda dos migrantes e requerentes de asilo que cheguem ao Reino Unido através do canal da Mancha, e foi amplamente criticado pela oposição, por centenas de organizações de direitos humanos, pela Igreja de Inglaterra, pelas Nações Unidas, pelo secretariado do próprio Home Office e, alegadamente, pelo príncipe – hoje rei – Carlos.
Ainda assim, Braverman assumiu recentemente que assistir ao primeiro voo com migrantes com destino ao país africano – o Tribunal Europeu de Direitos Humanos suspendeu, em Junho, a implementação deste plano – é, para si, um “sonho” e uma “obsessão”.