Os Los Espookys continuam gloriosamente parvos e bizarros

A segunda época da série cómica da HBO estreada em 2019 está a chegar ao fim. Falámos com duas das actrizes, Greta Titelman e a estrela pop alemã Kim Petras.

Greta Titelman e Kim Petras em <i>Los Espookys</i>
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Greta Titelman e Kim Petras em Los Espookys Diego Araya Corvalán/HBO
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Cassandra Ciangherotti, Ana Fabrega, Julio Torres, Fred Armisen e Bernardo Velasco em Los Espookys DR

As cabeças de Julio Torres e Ana Fabrega não funcionam como as do resto das pessoas. O que é óptimo para quem faz comédia, e transborda por todos os poros de Los Espookys, a série cómica da dupla cuja segunda temporada — estreada, devido à pandemia, mais de três anos após o final da primeira chega esta semana ao fim na HBO.

Torres e Fabrega protagonizam a série, falada maioritariamente em espanhol, ao lado de Bernardo Velasco e Cassandra Ciangherotti. Mas também foram eles que a criaram, com a ajuda de Fred Armisen. A acção passa-se num país não especificado da América do Sul e centra-se num grupo de amigos, fãs de terror, que formam uma empresa para fazer sustos e encenações à medida. Torres é Andrés, que cresceu rico e ia casar rico, mas se separou e agora procura um novo parceiro que lhe possa pagar uma vida de opulência (trabalhar não é uma hipótese). Fabrega é Tati, personagem adorável e requintadamente parva que casou com o ex-noivo de Andrés.

Por esta segunda temporada, ainda mais deliciosamente bizarra do que a primeira, e também ainda mais pungente, perpassa toda uma narrativa sobre a forma como, ao longo de décadas e décadas, os Estados Unidos têm interferido brutalmente na política da América Latina. Mas essa temática de fundo cruza-se com os serviços para que os Los Espookys são contratados, ou com a carreira nova de Tati, construída à base de plágios literários que a tornam uma estrela. Há ainda uma campanha presidencial, que se disputa entre o actual presidente, um fantoche dos Estados Unidos, e uma candidata pouco preparada. E reencontramos, agora a fazer de lua, Yalitza Aparicio, que foi nomeada para o Óscar de Melhor Actriz em 2019, pelo seu papel em Roma, de Alfonso Cuarón, e depois quase desapareceu de cena.

Greta Titelman encarna, desde a primeira época de Los Espookys, a embaixadora dos Estados Unidos no país ficcional da série: Melanie Gibbons, cujo sonho é vir a ser embaixadora dos Estados Unidos em Miami (assim mesmo, não é erro). No penúltimo episódio, chegado cá via HBO Max no sábado passado, conhecemos finalmente a sua patroa, Kimberly Reynolds, a Secretária de Estado, interpretada pela estrela pop alemã Kim Petras, na sua estreia na representação. As duas falaram com o PÚBLICO no início de Outubro, via Zoom; ao longo da conversa, completavam e complementavam as frases uma da outra, com gestos a condizer, sobre a dupla de “raparigas giras e más” que formam nesta série.

Kim, para quem “a comédia e o terror” são duas grandes obsessões, afirma que há de facto sobreposições entre a sua vida pública como cantora e a personagem que interpreta em Los Espookys: “A minha persona de estrela pop, especialmente [no disco] Turn Off the Light, é como a Kimberly. Foi uma coincidência sortuda ter criado uma pessoa um bocado cabra e assustadora para a minha música. Tem muito que ver com o que sou, não tive de estudar uma personagem.” Apesar disso, diz, estudou figuras como “Angela Merkel e Sarah Palin”. “Vamos buscar inspiração a todas as miúdas da política”, comenta Greta.

Sobre a interferência dos Estados Unidos na política sul-americana que o argumento enfatiza, eis o que a actriz tem a declarar: “É [uma parte] brilhante e importante, acho que a melhor comédia tem as suas raízes na realidade e é divertido fazer de alguém que é vil e está a trabalhar para um país que pode ser muito, muito vil. Isto é muito real, mesmo estando nós a ser parvos”, resume.

Finda esta segunda temporada, Kim não se importaria de voltar à série, mesmo que não se afirme como actriz nem ande à procura de outros trabalhos de representação. “Adoraria fazer mais coisas neste mundo específico e adoro tudo o que faças as pessoas rir e as distraia do quão merdosa a realidade pode ser por vezes”, diz ao PÚBLICO.

Sobre a relação entre as duas, Kim declara que ficaram “instantaneamente amigas, com os mesmos maneirismos e personalidades”. “O que é mais divertido do que ser uma rapariga gira e má?”, pergunta Greta. “Não me consigo lembrar de nada”, responde Kim. “Absolutamente nada”, remata Greta.

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