Nova Iorque
Esta praia é um “porto de abrigo” (e de festas) para pessoas LGBT. Mas a paisagem está a mudar
Junto a uma praia, em Queens, Nova Iorque, existe um hospital em ruínas que a comunidade LGBTQI+ não pretende ver demolido e transformado num parque. O hospital é uma presença icónica na praia que é um "porto de abrigo" para minorias segregadas desde os anos 1960.
Numa petição lançada há mais de um ano na plataforma Change.org em nome da comunidade LGBTQI+ nova-iorquina, 799 signatários exigiam a suspensão do plano municipal que prevê a demolição do Hospital Neponsit, em Queens. O hospital, que acolheu doentes com tuberculose entre 1915 e 1955 e que funcionou, desde essa data até 1998, como lar de idosos, encontra-se encerrado e em ruína desde então.
Diante do hospital, existe uma praia que se tornou um marco para a comunidade LGBTQI+ após a morte por afogamento de Oswaldo Gómez, conhecido por Miss Colombia. Na petição supramencionada, pode ler-se que "a comunidade LGBTQI+ há muito abraçou esta secção de Jacob Riis Park, onde se reúne para tomar banhos de sol e recordar Miss Colômbia". "A praia já serviu mulheres, minorias e membros da comunidade LGBTQI+ quando (...) não tinham lugar noutras praias devido a discriminação e segregação por parte do Governo. Esta praia é um porto de abrigo onde as pessoas se podem expressar de forma autêntica, sem medo do julgamento alheio, assédio ou abuso."
Ao longo dos últimos meses, a Reuters tem visitado a praia e documentado as festas de decorrem por lá, diante do edifício abandonado em que estão inscritos, a graffiti, os chavões "Queer Trans Power" e "Know Your Power". "Gostaríamos de ter a garantia de que poderemos continuar a usar este espaço, que é desde sempre o 'nosso' espaço, aquele onde as pessoas da comunidade queer se reúnem", disse à agência noticiosa Victoria Cruz, de 76 anos, que frequenta Jacob Riis Park desde a década de 1960. Conhecida por Rainha de Riis, Cruz afirma que "esta é a praia do povo". "E nós somos o povo."
Mas nem todos estão de acordo com a manutenção do edifício hospitalar. Os residentes daquela zona de Queens temem os riscos para a saúde pública que o edifício pode representar. A estudante Jenna Tipaldo, de 25 anos, teme o colapso da estrutura, que contém amianto, e o surgimento de pragas no seu interior, que poderão alastrar-se aos edifícios circundantes.
A corporação de utilidade pública sem fins lucrativos New York City Health and Hospitals, a quem pertence o hospital, tem reunido com os residentes e com a comunidade LGBTQI+ no sentido de compreender e discutir as suas preocupações. "Continuaremos a interagir com as comunidades para irmos ao encontro dos seus interesses e, ao mesmo tempo, garantir a segurança pública", explicou à Reuters Stephanie Buhle, do gabinete de comunicação da corporação.
Joann Ariola, vereadora da jurisdição onde se insere o edifício, transmitiu à Reuters que está prevista a construção de um parque no lugar do hospital, e que o processo de demolição se encontra em curso. Estima-se que o parque seja inaugurado antes da época balnear de 2023.