Mia Couto defende criação de museu da colonização pensado por portugueses e africanos

Em Óbidos, o escritor moçambicano presidiu à sessão do Prémio Literário Fernando Leite Couto. Maya Ângela Macuacua venceu com o seu romance Diamantes pretos em meio a cristais, e Jeremias José Mendoso com a colectânea de contos Quando os mochos piam.

Foto
Mia Couto e os vencedores do Prémio Literário Fernando Leite Couto CarlosDuarte/FOLIO

O escritor Mia Couto defendeu hoje, em Óbidos, que a construção de um museu da colonização, pensado em conjunto por portugueses e africanos não abriria feridas do passado e que seria mais terapêutico do que pedidos de desculpa.

“Penso que era importante Portugal construir aqui um museu da escravatura, da colonização, que ao contrário do que se pensa não iria reabrir feridas do passado, pelo contrário, seria terapêutico do que pedidos de desculpas"afirmou o escritor moçambicano à agência Lusa, sublinhando que “desde que fosse pensado em conjunto por portugueses e africanos e que fosse um museu para construir memórias comuns”.

Em Óbidos, onde este sábado presidiu à entrega do Prémio Literário Fernando Leite Couto, Mia Couto defendeu que Portugal deveria ter um programa estruturado para portugueses e moçambicanos “revisitarem a sua história comum”, potenciando a vinda de jovens moçambicanos a este país “para fazer amigos e vivenciar culturas e experiencias em conjunto”.

Para o escritor, esta partilha cultural “não se resolve com conferências e seminários, que duram dois ou três dias e depois não fica nada”, devendo o país apostar em receber para permanências mais alargadas os jovens escritores moçambicanos.

Mia Couto falava à agência Lusa no final da entrega do Prémio Literário Fernando Leite Couto, que na sua terceira edição premiou pela primeira vez dois escritores no mesmo ano.

Maya Ângela Macuacua venceu com o seu romance Diamantes pretos em meio a cristais, e Jeremias José Mendoso com a colectânea de contos Quando os mochos piam.

O prémio foi, pelo segundo ano consecutivo entregue no Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos, numa mesa de autores em que participaram os dois jovens escritores.

Filipe Daniel, presidente da Câmara de Óbidos, anunciou na sessão a intenção de “reactivar um antiga biblioteca”, no norte de Moçambique, onde Geremias José Mendoso intensificou o seu gosto pela literatura, mas que acabou por fechar.

“Óbidos tem muitos livros, muitos títulos até repetidos, e vamos avançar com parcerias para enviar acervo para Moçambique e reactivar a biblioteca que pode ser tão importante para tantos outros jovens que por essa via podem fomentar o seu gosto pela literatura”, disse o autarca.

O Folio decorre até ao dia 16 em 24 espaços da vila de Óbidos, por onde passam, em 11 dias, cerca de 300 autores de cerca de dez países, no âmbito da programação que integra 16 exposições, 36 concertos, 14 mesas de autores, 62 apresentações e lançamentos de livros, 16 oficinas, ao que se juntam tertúlias, workshops e masterclasses e sessões de cinema, entre muitas outras iniciativas.