UNESCO alerta para a falta de 69 milhões de professores no mundo

A maior escassez de docentes verifica-se na África Subsaariana, com “algumas das salas de aula mais superlotadas do mundo”. Já o fosso entre os salários pagos aos professores e aos profissionais com qualificações semelhantes é mais acentuado nas nações mais desenvolvidas.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

A UNESCO alertou esta quarta-feira para uma crise global de falta de professores e sublinhou que são necessários 69 milhões de docentes em todo o mundo para dar resposta ao ensino básico universal até 2030.

Num comunicado divulgado para assinalar o Dia Mundial do Professor, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) apelou aos governos para intensificarem o seu apoio ao sector do ensino, tendo em conta as “dificuldades” em “manter o seu pessoal e atrair novos talentos”.

A maior escassez de professores, segundo a agência da ONU, verifica-se na África Subsaariana, que tem “algumas das salas de aula mais superlotadas do mundo”, os “professores mais sobrecarregados” e os sistemas de ensino “com falta de pessoal”.

“A falta de formação, condições de trabalho pouco atractivas e financiamento inadequado são factores que minam a profissão e agravam a crise global de aprendizagem”, afirmou a directora-geral da organização, Audrey Azoulay, no texto publicado.

As projecções da UNESCO indicam que para alcançar a meta da educação básica universal da Agenda 2030 são necessários mais 24,4 milhões de professores para o ensino primário e mais 44,4 milhões para o nível seguinte.

Na África Subsaariana, as necessidades para o ensino primário são de 5,4 milhões de professores e para o ensino secundário, com 90 % das suas escolas a enfrentar uma grave carência de professores, 11,1 milhões. A região com o segundo maior défice é o Sul da Ásia, onde serão necessários 1,7 milhões adicionais de professores primários e 5,3 milhões adicionais de professores do ensino complementar para atingir o objectivo.

Entre os aspectos que requerem melhorias, a UNESCO assinala a melhoria das condições para os professores, especialmente no que diz respeito à carga de trabalho.

Nos países de baixos rendimentos, cada professor do ensino primário tem uma média de 52 alunos por turma, enquanto a média mundial é de 26.

A UNESCO também apelou para uma melhor formação dos professores e aludiu ao necessário cuidado com o ambiente onde vivem nas áreas mais desfavorecidas e remotas, especialmente no caso das professoras.

A crise na profissão é também acentuada por salários não competitivos. Os dados da UNESCO indicam que seis em cada dez países pagam menos aos professores primários do que a outros profissionais com qualificações semelhantes e que o fosso é mais acentuado nas nações mais desenvolvidas.

“Apenas três países de elevados rendimentos têm uma política louvável de remuneração de professores: Singapura, com um salário médio igual a 139 % das profissões comparáveis, Espanha (125 %) e Coreia do Sul (124 %)”, acrescentou a agência da ONU.