Cancro digestivo está a aumentar sobretudo entre os mais jovens

Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia alerta para uma maior incidência em pessoas mais jovens, inclusive com o rastreio ao cancro do cólon e do recto a baixar para os 45 anos.

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Os cancros do esófago, estômago, pâncreas, fígado, cólon e recto matam dez mil portugues por ano FABIO AUGUSTO

A incidência dos cancros malignos do aparelho digestivo está a aumentar nas populações mais jovens, alerta esta quinta-feira o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, apelando a uma “atenção redobrada” para a identificação de lesões precursoras destes tumores.

Os tumores malignos do aparelho digestivo (esófago, estômago, pâncreas, fígado, cólon e recto) matam dez mil portugueses por ano, o que corresponde a cerca de 30 mortes por dia, segundo os dados avançados por Guilherme Macedo, na véspera do Dia Mundial do Cancro Digestivo.

“É um número enorme que nos cria um desafio significativo”, diz o gastrenterologista, assinalando a identificação destes tumores em doentes cada vez mais novos, o que se prende com “múltiplos factores”, como ambientais, a alimentação e a “epidemia da obesidade”, que “é nitidamente” um factor que favorece e condiciona o aparecimento de lesões oncológicas do tubo digestivo entre os mais jovens.

“Há aqui um conjugar de forças que nos assola, que acabam por aumentar as solicitações para o grupo mais velho porque, de facto, somos capazes de chegar lá, mas também para o grupo mais novo, porque claramente a incidência destes cancros está a aumentar nas populações mais jovens”, alerta.

Guilherme Macedo exemplificou que “era clássico” que se apontasse os 55 anos para iniciar os rastreios ao cancro do cólon e recto, sendo que neste momento baixou para os 45 anos, segundo as indicações internacionais. “É um sinal inequívoco de que os tumores aparecem no grupo etário mais baixo”, comenta.

Esta realidade também se observa sobretudo nos doentes com cirrose hepática, cuja causa mais frequente em Portugal é a cirrose alcoólica. “Estamos a ver pessoas, sobretudo na faixa etária dos 40 anos, também a ter este tipo de circunstâncias, o que também acontece nos outros cancros, seja no cancro do estômago e, infelizmente, também no cancro do pâncreas temos vindo a identificar cada vez gente mais nova”, diz.

Dos cancros digestivos, responsáveis por um terço de todos os casos oncológicos em Portugal, os do pâncreas e fígado são dos mais mortais com esperança média de vida inferior a um ano.

“Está na hora de todos compreendermos que, se estando a saúde nas nossas mãos, é absolutamente apropriado fazermos uma investigação não invasiva, mas progressiva desde fases mais novas do nosso percurso biológico, porque muitos destes cancros não têm nenhuma manifestação clínica, às vezes, durante muito tempo, meses ou anos, e quando se manifestam cronicamente, temos grandes dificuldades em relação ao seu tratamento”, elucida.

Para Guilherme Macedo, o desafio lançado é para “uma atenção redobrada, cautelosa, prudente, mas sensata para a identificação destas lesões precursoras do cancro digestivo”.

Destacou também o aumento dos cancros digestivos na Europa e, em particular, em Portugal, para o qual contribuíram múltiplas razões, algumas das quais se prendem com alguns atrasos que ocorreram durante o período pandémico, sobretudo no diagnóstico precoce.

“Temos de facto um conjunto significativo de situações oncológicas, muitas das quais com capacidade de podermos actuar preventivamente e precocemente. E, portanto, o nosso grande desafio ao longo de todos estes anos tem sido uma luta pela literacia pública, por um lado, e a própria literacia dos colegas para a referenciação precoce, para a identificação, para o recurso atempado de muitos métodos complementares de diagnóstico que são fundamentais nesta fase”, conclui Guilherme Macedo.