Juros da dívida agravam-se e euro desvaloriza no rescaldo das eleições em Itália
Os juros da dívida italiana a dez anos estão a subir para os níveis mais elevados desde 2013, uma tendência que é seguida pelos restantes países da zona euro. A moeda única está a desvalorizar, assim como as bolsas.
No primeiro dia após as eleições legislativas em Itália, os mercados financeiros vão começando a reagir à vitória da extrema-direita, com os primeiros sinais a apontarem para algum receio dos investidores quanto ao rumo que a terceira maior economia da zona euro irá tomar nos próximos tempos. Para já, os juros das dívidas soberanas estão a agravar-se de forma significativa, com Itália a liderar estas subidas, enquanto o euro segue a desvalorizar, assim como as bolsas accionistas.
Com a contagem de votos em Itália quase terminada, a coligação liderada pelo partido de extrema-direita Irmãos de Itália obtém perto de 44% dos votos, confirmando um resultado que, nas últimas semanas, tem gerado nervosismo entre os investidores. Em causa, os receios de que o novo governo, eurocéptico, entre em conflito com Bruxelas quanto às suas regras orçamentais, levando a um ciclo de quedas de ratings, perda de financiamento do Banco Central Europeu (BCE), falências bancárias e, em última análise, fazendo ressurgir a ameaça de uma saída do euro.
Num primeiro momento após a vitória de Giorgia Meloni – e mesmo depois de os partidos que formam a coligação de direita terem retirado dos seus programas qualquer intenção de saída do euro –, confirma-se uma reacção negativa dos mercados. A maior evidência deste receio dos investidores reflecte-se, para já, nos juros das dívidas soberanas dos países da zona euro, que estão a agravar-se para máximos de vários anos.
A liderar estas subidas está, precisamente, Itália, cujos juros da dívida a dez anos, maturidade usada como indicador de referência para os mercados, já ultrapassam os 4,5%, os níveis mais elevados em mais de nove anos. Por cá, a tendência é a mesma, com os juros da dívida portuguesa a dez anos a ultrapassarem os 3,2% durante a sessão desta segunda-feira, um máximo de mais de cinco anos. Entretanto, registou-se um alívio nesta subida e os juros acabaram por se fixar em 3,16% no final da sessão. Já em Espanha, os juros avançam para 3,28%, o nível mais elevado desde 2014, enquanto, na Alemanha, os juros da dívida a dez anos chegaram a ultrapassar 2,13%, um máximo de mais de uma década, acabando por recuar para 2,09%.
Também no mercado cambial há sinais de tensão entre os investidores. Por esta altura, o euro segue a negociar nos 0,96 dólares, mas, esta manhã, chegou a cair para a casa dos 0,95 dólares, um novo mínimo em mais de 20 anos.
O mesmo sentimento está a ser vivido nas bolsas, que fecharam esta sessão em queda, com a praça portuguesa em destaque, ao derrapar mais de 3%. O Stoxx 600, índice accionista de referência que reúne as 600 maiores cotadas europeias, desvalorizou 0,4%, mas chegou a cair mais de 1% e toca em mínimos de mais de dois anos. A excepção foi a bolsa italiana, que fechou a valorizar perto de 0,7%.
Apesar destes primeiros sinais negativos, os analistas mantêm-se cautelosos em afirmar que o novo governo italiano poderá vir a ter um impacto significativo sobre os mercados, acreditando que os investidores estarão mais focados na evolução macroeconómica do conjunto da zona euro.
“Há algum agravamento dos juros das dívidas soberanas, mas não é sério, até porque estamos a assistir a uma subida de todas as taxas de juro”, comenta um analista da Axa Investment, citado pela Reuters. “O mercado parece estar mais orientado para questões macroeconómicas. Se assistirmos a uma penalização dos activos italianos, pode ser devido às eleições, mas, essencialmente, Itália é um país com finanças públicas preocupantes, independentemente de quem está no governo”, acrescenta um analista da Anthilia Capital Partners.
Notícia alterada com os valores actualizados dos juros das dívidas soberanas, do euro e das bolsas accionistas.