Mais um ano lectivo que começa
Um Estado que deseja tratar todos os cidadãos por igual deve incluir nas suas medidas “todos” e não apenas os do ensino público.
Nesta semana começa o ano lectivo para a grande maioria dos alunos e dos professores.
Alguns não terão ainda professores de todas as disciplinas, outros têm e deixam de ter logo no início do ano. Refiro-me à colocação dos professores e à fuga dos professores do privado para o público. Desde sensivelmente 2014, começou a migração dos professores do ensino privado para o ensino público, à procura de uma carreira melhor e de um empregador sem rosto, chamado “sistema”.
A pandemia veio agravar tal situação, pois a situação de gestão de recursos humanos nos colégios, não foi, em alguns casos, a melhor. Parece que é difícil entender que a de gestão de recursos humanos nos colégios deve ser feita de forma profissional e efectiva. Na grande maioria das vezes as pessoas não fogem à procura de algo melhor. Fogem do que não conseguem mais suportar, e quase sempre, referem pessoas, concretamente as lideranças. Qualquer coisa será melhor do que continuar a viver em determinados ambientes tóxicos. Este é um alerta para o ensino privado, gestão de recursos humanos, o que inclui a gestão de carreiras e formação ao longo da vida. Como reter talento e atrair talento?
Outra situação de que vale a pena falar é sobre as desigualdades criadas pela oferta dos manuais escolares e de tecnologia. Um Estado que deseja tratar todos os cidadãos por igual deve incluir nas suas medidas “todos” e não apenas os do ensino público. Muitos dos que frequentam o ensino público não o fazem por não terem possibilidades económicas e muitos que frequentam o privado fazem um grande esforço financeiro. Porque não podem todos ter acesso aos mesmos recursos, uma vez que todos os pagamos com os nossos impostos? Nesta altura de crise e inflação, como pode o ensino privado equiparar-se a estas gratuidades do ensino publico? Muito dificilmente.
Este início de ano é marcado, mais uma vez, pela incerteza do que pode acontecer por causa da ainda não sanada pandemia covid-19. A vacinação é uma realidade, mas os números revelam que devemos continuar vigilantes. Vai ser mais uma vez um regresso ao tal novo normal, com tudo o que ficou de instrumentos, estratégias, recursos pedagógicos, e também de hábitos e relações entre alunos e professores, famílias e professores e entre professores e ainda todos os outros agentes educativos.
A vida é feita de evolução, de aprendizagem e hábitos, sobretudo tecnológicos e de relacionamento que ficaram entre nós depois destes três anos atípicos.
Que quem governa a educação nos seus diversos níveis, sectores e valências, saiba escutar, desenvolva a curiosidade sobre a escola e os seus agentes, saiba entender o que se vai escrevendo cada dia, seja próximo para perceber os impactos e as diversas realidades e distante para decidir e normalizar.
Com todas estas variáveis e incertezas a pergunta está no ar: como vai ser este ano? Será certamente um ano marcado pelas dificuldades económicas sentidas através da inflação e da guerra da Rússia – Ucrânia, dos problemas de socialização e interacção derivados dos anos de confinamento, dos avanços e apropriação tecnológica, cada vez mais como instrumento pedagógico.
Para não cairmos na frase “que o novo ano será aquilo que quisermos fazer dele”, vale a pena investir na procura e confirmação do propósito individual e colectivo, no desenvolvimento da resiliência, da perseverança, de construir pontes, dar as mãos e seguir caminho, esquecer diferenças e construir sobre a riqueza da diversidade, e com humildade fazer de cada vulnerabilidade uma força e um motivo de aprendizagem e superação, com objectivos claros e concretos, trabalhando para a equidade e para um bem maior: o bem-estar e desenvolvimento de todos os alunos.
Bom trabalho, muitos desafios e boa aprendizagem!