Polícia britânica criticada por deter activistas antimonarquia
Acumularam-se vários incidentes durante as cerimónias fúnebres da rainha Isabel II de detenções de pessoas apenas por protestarem contra a monarquia ou contra a família real. Polícia garante que direitos fundamentais devem ser respeitados.
A proclamação de Carlos III como novo rei do Reino Unido estava a ser lida em Oxford, no último domingo, quando um professor de História que por ali passava acidentalmente não se conteve. “Quem o elegeu?”, gritou. A multidão que se tinha juntado mandou-o calar e ele respondeu dizendo que “um chefe de Estado está a ser imposto sem o nosso consentimento”. O professor foi levado para uma esquadra, acabando por ser libertado.
Os poucos sinais de protesto contra a monarquia britânica têm sido reprimidos pela polícia de uma forma preocupante, de acordo com várias associações de defesa da liberdade de expressão. A sucessão de incidentes contra pessoas que manifestaram publicamente oposição à monarquia ou criticaram membros da família real tem sido motivada por um excesso de zelo por parte da polícia que os activistas dizem estar a pôr em causa direitos fundamentais democráticos.
A deputada do Partido Trabalhista Zarah Sultana disse que as notícias de detenções de pessoas durante as acções relacionadas com o funeral da rainha Isabel II são “extraordinárias” e “chocantes”. “Ninguém deve ser detido apenas por exprimir ideias republicanas”, afirmou.
Em Edimburgo, um homem foi detido por aparentemente ter começado a dirigir palavras insultuosas ao príncipe André durante a procissão que acompanhava o caixão da rainha Isabel II.
Poucas horas antes, uma mulher de 22 anos foi detida à entrada da catedral de Santo Egídio, em Edimburgo, por estar a segurar um cartaz em que defendia a abolição da monarquia. O grupo de activistas a que a mulher pertence criticou a acção da polícia e lembrou que “os pedidos de abolição da monarquia são tão antigos como a própria monarquia e são um pilar da liberdade de expressão no Reino Unido”.
Em Londres, Paul Powlesland, um advogado e activista climático, segurava um cartaz em branco na Praça do Parlamento e foi avisado por um polícia que se escrevesse a frase Not my king (Não é o meu rei) seria detido. O homem publicou no Twitter um vídeo em que é possível ouvir o polícia dizer-lhe que as pessoas poderiam “ficar ofendidas” pelo cartaz como justificação para a detenção.
“Um período de luto silencioso pela rainha é correcto, mas usar esse período para consolidar a subida ao trono de Carlos e reprimir qualquer crítica é tão desrespeitoso como revoltante”, afirmou Powlesland, citado pelo Guardian.
Alguns especialistas consideram que estes incidentes se devem a uma interpretação muito rígida da legislação que regula as manifestações em locais públicos. De acordo com esta legislação, “a polícia deve ter fundamentos razoáveis para suspeitar que o acto [de protesto] em causa irá causar intimidação, alarme ou sofrimento”, diz ao Guardian o advogado Tom Wainwright, autor do livro The Protest Handbook (O Manual do Protesto).
“O ‘sofrimento’ tem de ser uma verdadeira perturbação emocional, e não apenas sentir-se ofendido. Não creio que haja muitas justificações disso, mas os agentes podem estar a adoptar uma abordagem muito conservadora”, acrescentou.
A Polícia Metropolitana de Londres reagiu ao vídeo publicado por Powlesland para assegurar que o direito à manifestação deve ser salvaguardado. “O público tem o direito absoluto a protestar e temos deixado isto bem claro a todos os agentes envolvidos nesta extraordinária operação de policiamento que está a decorrer e vamos continuar a fazê-lo”, disse o comissário assistente adjunto, Stuart Cundy.