Projecto europeu quer prevenir o burnout com criatividade e resiliência
Financiado pelo programa Erasmus+, Heartland vai dar a conhecer a forma criativa que concebeu para prevenir o burnout num evento em Lisboa, nos próximos dias 7 e 8. Resiliência, autoconhecimento e saúde mental são as palavras-chave.
E se fosse possível prevenir o burnout de forma criativa, lúdica e meditativa ao mesmo tempo? Com actividades que obriguem a sair da zona de conforto, desenvolvendo a resiliência e o autoconhecimento?
Eis a ideia promovida pela iniciativa Heartland, financiada pelo Erasmus+, que será apresentada pela primeira vez ao público nos próximos dias 7 e 8 de Setembro, em Lisboa. Ao longo dos dois dias, os participantes poderão experimentar algumas das 40 “ferramentas de aprendizagem informais” que foram sendo desenhadas nos últimos anos e que englobam quatro áreas diferentes: o autoconhecimento, a expressão artística, a relação com a natureza e o movimento. Uma “combinação de técnicas” que visa a “prevenção e fortalecimento da pessoa para evitar situações complexas” de esgotamento.
Quem o diz é Susana Alves, formada em psicologia educacional e responsável por O Lugar Específico, um projecto de mediação cultural, arte e educação, em Lisboa, actualmente sem sede, mas que vai sendo acolhido por outros espaços. Foi este o parceiro escolhido, de entre os quatro que colaboram no Heartland (os restantes três são oriundos da Hungria, Letónia e Roménia), para ser o “embaixador desta palavra”.
“A missão para este evento é a disseminação, é passar a palavra”, para as pessoas ficarem a saber a quem recorrer caso queiram aplicar elas mesmas as ferramentas, seja para uso pessoal ou em contexto educacional, sublinha a responsável ao PÚBLICO.
Isto porque este “kit de actividades”, que vai desde criar um poema até experienciar o som de instrumentos musicais com uma venda a cobrir os olhos para activar a “consciência do nosso interior” (a criatividade é vasta), encontra-se disponível no site oficial do projecto europeu, sob o formato de cartões. Neles são apresentadas as orientações, que incluem os materiais necessários, a explicação do objectivo e da actividade em si, bem como o convite à reflexão final.
Libertar a mente
A intenção das actividades propostas é atingir um “estado mindless (esvaziar a mente), [para] não [se] estar ansioso em relação aos pensamentos”, mas também saber como aproveitá-los para “aumentar a auto-estima” e preservar a saúde mental, complementa Zsuszka Juhasz, a coordenadora do projecto e colega húngara.
Embora o Heartland já assinale a terceira edição deste projecto europeu, só agora é que todas as ferramentas foram testadas, assim como os cursos online onde são esclarecidas e trabalhadas. Dadas as diferenças culturais entre os parceiros, foi desafiante integrar todas as “diferentes perspectivas de como desenvolver uma pessoa ou um grupo”, recorda a coordenadora.
Lisboa dará assim o pontapé de saída. E terá uma particularidade acrescida: ao contrário dos eventos teste anteriores, que decorreram em retiros imersos na natureza, este acontecerá “no meio do caos da cidade de Lisboa”. Para Susana Alves, é importante aprender a “chegar à tranquilidade, ou ascender a um maior equilíbrio, no nosso próprio meio”.
No dia 7, que estará reservado a um grupo de participantes internacionais, o programa inclui actividades de “deambulação” pela capital para “sentir o espaço” e “estar atento aos sons”. A ideia assenta no conceito de arte in situ, com o qual Susana Alves tem trabalhado noutros projectos enquanto mediadora cultural e que, neste caso, significa “adaptar as actividades ao contexto da cidade”. Daí que, por exemplo, farão uma actividade que incita ao alargamento do horizonte no Miradouro da Graça.
O dia seguinte, que já será aberto ao público (mediante inscrição, que é gratuita), começará no Hospital Júlio de Matos, em Alvalade, onde decorrerá uma conversa com técnicos acerca da importância deste tipo de projectos que actuem na linha na prevenção — e evitem situações clínicas graves. Depois de um piquenique no Campo Grande, a tarde será passada a experimentar as múltiplas actividades, numa sequência pensada de modo a que a experiência seja a mais completa possível.
Apesar de estar aberto a todas as pessoas, o público-alvo do evento são sobretudo cuidadores, como os professores, educadores ou os profissionais da área artística, uma vez que estes grupos “estão geralmente focados em trabalhar para fora e esquecem-se de trabalhar para dentro” — tal como os próprios organizadores do evento, reconhece Susana Alves.
Para as duas responsáveis, uma mais-valia do Heartland é que não se trata de psicologia, nem de expressão artística, movimento ou mindfulness. Criou-se foi uma fusão de metodologias que estimula “uma visão holística do que se é enquanto pessoa [e que serve] para ganhar consciência do seu interior, exterior — e do que se quer”.