Última Festa do Avante! como líder do PCP? Jerónimo de Sousa hesita
É a primeira vez que Jerónimo de Sousa, que está à frente do partido há 18 anos, não é conciso e directo quando é questionado sobre a sua sucessão.
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, hesitou esta sexta-feira pela primeira vez quando foi questionado sobre a possibilidade de esta ser a última participação na Festa do Avante! enquanto dirigente do partido.
Questionado sobre a possibilidade de este ser o último “Avante!” enquanto dirigente do partido, Jerónimo de Sousa respondeu peremptoriamente que “como militante” vai continuar a vir depois de estar escolhido o seu sucessor.
Face à insistência na pergunta, o secretário-geral comunista pausou por um momento, ficou pensativo, engasgou-se um pouco, mas acabou por responder a mesma coisa sempre que a pergunta surge: “Um dia será”.
É a primeira vez que Jerónimo de Sousa, que está à frente do partido há 18 anos, não é conciso e directo quando é questionado sobre a sua sucessão, que atira para um futuro um tanto longínquo.
Uma hora depois da abertura de portas, Jerónimo de Sousa visitou duas exposições, uma delas intitulada “Crianças e pais com direitos, por um Portugal com futuro”, alusiva a uma das bandeiras dos comunistas nos últimos anos: os direitos das famílias com crianças.
No final da visita o membro da Comissão Política do Comité Central comunista falou sobre uma “vida cara que dispara cada vez mais” e deixou três recados ao Governo de António Costa sobre o que é preciso fazer para reverter este caminho.
Aumentar salários e pensões – que “cada vez minguam mais” -, reinvestir no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e controlar a crise na habitação que vai “atingir particularmente as novas gerações” são a solução do PCP para enfrentar o aumento da inflação, a degradação das condições de vida dos portugueses e a especulação imobiliária.
Jerónimo de Sousa ainda foi mais longe nas críticas à saúde e voltou a acusar o executivo socialista de estar a favorecer os privados enquanto enfraquece o SNS.
“Como dizia um ministro do PSD [Luís Filipe Pereira]: “Quem quer saúde paga-a. É esse o objectivo”, sustentou.
Interpelado sobre a decisão do Governo de não avançar com um imposto sobre os lucros extraordinários de várias empresas, Jerónimo de Sousa respondeu que o partido é favorável a essa taxa: “Não acaba com a injustiça, mas pelo menos poderia levar a que os sacrifícios que o povo português vai correr sejam ultrapassados”.
A 46.ª edição do certame político-cultural do jornal comunista e também rentrée do partido vai realizar-se entre hoje e domingo na Quinta da Atalaia, no concelho do Seixal.
Para a noite desta sexta-feira está previsto um concerto da Orquestra Sinfonietta de Lisboa para celebrar o centenário do nascimento do Nobel da Literatura português, José Saramago, e antigo militante comunista.