Estamos no lugar de Soutulho e os medronheiros na encosta que vem de Viseu dão o nome a este projecto polivalente. Na Quinta do Medronheiro, às portas da capital de distrito, existe um hotel rural onde os dias correm sem pressa junto à piscina ou entre as vinhas. A propriedade de 37 hectares, conhecida na região por ter sido em tempos o maior fornecedor de carvão vegetal de Viseu, foi adquirida em 2001 pela família Oliveira, que nove anos depois abriu o hotel. Unidade que hoje convive com outras actividades, complementares: a organização de eventos e a produção de vinho.
“Somos cá de Viseu. Adquirimos a propriedade como investimento, começou por ser um retiro e o projecto foi-se desenvolvendo. Isto era uma mini-aldeia com três caseiros. Estava muito abandonada. O vinho surgiu como um complemento, já depois de abrirmos o hotel”, conta-nos Luís Oliveira, enquanto damos um giro pela quinta e entramos na adega, sempre acompanhados pelo rafeiro Jonathan. Os pais de Luís chegaram a ter uma vacaria, onde produziam leite, e tiveram durante anos uma pastelaria muito conhecida na cidade. Os avós sempre estiveram ligados à agricultura, tinham inclusive vinhas. Esse passado está na origem de um projecto que hoje é explorado, nas suas diferentes valências, por Luís, pelo amigo de infância Vítor Brandão e pelo cunhado Pedro Freitas.
Nas três casas de pedra e lousa, “ligadas” pela piscina com vista para o vinhedo com cerca de cinco hectares, existem 16 quartos e um apartamento T1, identificados com nomes de plantas e onde o granito foi deixado à vista e marca uma decoração sóbria e confortável. É na casa principal que funcionam a recepção, o restaurante, a loja e o bar do hotel.
Nesse e nos outros dois edifícios viveram outrora os caseiros e funcionários da antiga exploração agrícola e pecuária. A vinha, no topo norte da propriedade, já existia quando os pais de Luís compraram a quinta, mas foi reestruturada. Entre as castas plantadas, em solo granítico de textura arenosa, há Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Encruzado. Esta última, uma casta branca, foi plantada mais tarde e os primeiros Encruzados da Quinta do Medronheiro nascerão da colheita deste ano. No portefólio actual, há três referências tintas, um blanc de noirs (branco feito a partir das castas tintas) Touriga Nacional e Tinta Roriz, um rosé e dois espumantes. O enólogo é Hugo Chaves mas Luís acompanha todas as fases da produção, que ronda as 22 mil garrafas por ano e está disponível no restaurante e na loja.
Em meados de Setembro o hotel, que está inserido na Rota dos Vinhos do Dão, costuma receber a Festa das Vindimas. As vindimas deste ano começaram esta semana, mas o evento será sempre uma oportunidade para visitar as vinhas e a adega – onde, no piso superior, nasceu o salão de eventos –, saber mais sobre a produção de vinhos e fazer uma refeição diferente na quinta.
Apesar de a propriedade estar encaixada entre as auto-estradas A25 e a A24, é a natureza que capta quase todos os nossos sentidos. Há os tais medronheiros, mas também carvalhos-negrais e pinheiros. Há ovelhas, dois cavalos – a égua Violeta e uma poldrinha ainda sem nome – e “criação, em regime extensivo, de vacas arouquesas nos lameiros junto ao rio Pavia”, que limita a quinta. Os hóspedes podem ir a pé até ao curso de água que vem de Viseu, situado a seis quilómetros, e onde foram recuperados dois moinhos. Ou passear de bicicleta pela propriedade – há bicicletas disponíveis. Há cercas que delimitam as áreas onde ficam os animais, mas há sempre passagem entre essas vedações e o visitante pode ir até ao rio. E ao fim do dia, mas ainda com luz, pelas oito da noite a passarada toma conta das bordas da piscina.
No restaurante, cuja carta foi elaborada com o chef consultor Henrique Ferreira (Paço dos Cunhas), há um menu de degustação que “foi pensado para fazer o pairing” com os vinhos produzidos na quinta, explica o cunhado de Luís. Pedro formou-se em Pintura no Porto, mas trocou o Norte por Viseu há 18 anos. É ele quem está habitualmente na recepção do hotel e supervisiona hotel e restaurante.
Ao jantar, experimentámos o arroz caldoso de robalo e lima e o magret de pato com molho soubise e batata camponesa à Medronheiro, mas foi o ensopado de laranja da quinta com creme de chocolate e flor de sal que nos convenceu. Uma espécie de queque molhado, feito com laranjas da quinta. O menu de degustação custa 45 euros, 60 quando harmonizado com os vinhos da quinta.
No bar ou na esplanada adjacente, e para um mínimo de oito pessoas, está disponível uma prova de vinhos, acompanhada por produtos regionais, por 20 euros por pessoa. E, a pedido e sob consulta, é possível fazer um piquenique ao ar livre. A equipa é muito acolhedora e está, de resto, habituada a aconselhar os hóspedes em roteiros vários pela região.
A Fugas esteve alojada a convite da Quinta do Medronheiro.