Tripulantes da Portugália, “descontentes e cansados”, ameaçam com greve no futuro
Comunicado do sindicato diz que na reunião que se realizou nesta terça-feira foi dada uma “demonstração irrefutável da insatisfação generalizada” dos trabalhadores. Se nada mudar, afirma-se, “não restará outra alternativa” senão a de “tomar medidas mais fracturantes, nomeadamente o direito à greve”.
Na reunião de tripulantes de cabine da Portugália que se realizou nesta terça-feira ficou bem patente, de acordo com o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que os trabalhadores andam descontentes, cansados e, sobretudo, invadidos por um sentimento de injustiça, fruto do desrespeito contínuo a que são continuamente sujeitos pela comissão executiva do Grupo TAP”.
Entre os exemplos dados está, segundo o comunicado enviado nesta quarta-feira à tarde, “o agravamento das condições de trabalho”, o “aumento das cargas de trabalho com a inerente fadiga e cansaço” e o “desprezo pelo esforço dos tripulantes de cabine na colaboração da reestruturação da empresa”.
O SNPVAC diz esperar que a empresa “tenha a consciência, de uma vez por todas, da actual e geral insatisfação dos tripulantes”. “Caso contrário”, afirma-se, “não restará outra alternativa a esta direcção senão tomar medidas mais fracturantes, nomeadamente o direito à greve, indo ao encontro das posições mais exacerbadas dos nossos associados”.
Recurso ao tribunal
Na segunda-feira, o SNPVAC emitiu um comunicado no qual explicava que o encontro de ontem tinha como estratégia “demonstrar o seu descontentamento contra uma gestão errática, que trata de forma diferente e discriminatória os tripulantes da Portugália, como se estes tripulantes não fizessem parte do Grupo TAP”.
“Se para a presidente da TAP a Portugália é um simples ACMI, semelhante a Hi Fly ou a Air Bulgária, porque é que foram implementadas aos tripulantes da Portugália, na apresentação do plano de reestruturação para o Grupo TAP, as mesmas medidas cegas, sem considerar empresas ou classes profissionais, independentemente das condições laborais e remuneratórias de cada uma?”, interrogou-se o SNPVAC, numa referência à entrevista dada pela presidente executiva da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, ao Eco.
Questionada pelo Eco sobre o processo de integração da Portugália na TAP SA, deixando de estar na holding (com concentração numa só companhia do negócio da aviação, deixando na TAP SGPS os activos para venda, como é o caso das posições na Groundforce e na Cateringpor), a gestora afirmou que a relação entre as duas empresas “será a mesma”. “A Portugália providencia capacidade para a TAP com um nível de custos que é competitivo. É o nosso próprio ACMI [do inglês aircraft, crew, maintenance, insurance, uma estratégia que passa por alugar aeronaves a terceiros com tripulação incluída]. É o mesmo que trabalhar com a Hi Fly ou a Air Bulgária, mas é a nossa própria empresa.”
O sindicato disse ainda que, apesar do que diz serem “muitas tentativas de clarificação e correcção do SNPVAC, desde o primeiro momento que o ATE [acordo temporário de emergência de 2021] celebrado” tem vindo a ser a aplicado “com uma interpretação própria”, com a aplicação “de cortes em valores como dívidas relativas a diuturnidades não atribuídas. O processo foi para tribunal “depois de esgotados todos os mecanismos de conciliação”, estando marcada uma audiência para o dia 14 de Setembro.
“Perante a situação operacional e laboral que a Portugália vive presentemente, chegou o momento de tornar pública a nossa insatisfação e exigir da parte da administração respeito e sobretudo alterações na gestão da companhia em muitas áreas operacionais que têm provocado um desgaste tremendo junto dos tripulantes que legitimamente questionam determinadas decisões de gestão”, referiu o sindicato. Como exemplo foi dada a subcontratação externa da Bulgaria Air e da Eastern Airways “com custos financeiros acrescidos” e “com uma clara diminuição dos padrões standard”. O sindicato falou ainda em “dumping social/laboral, com um risco de diminuição de direitos dos trabalhadores”, e fala na “extinção dos pressupostos económico-estruturais que fundamentaram a celebração” do ATE.
O SNPVAC destacou que o objectivo é “que os tripulantes da Portugália usufruam de alguns benefícios já atribuídos a outros dentro do mesmo grupo”.