“Se me vires, chora”: seca na Europa revela “pedras da fome”, bombas e aldeias fantasma

A seca que pode ser a pior dos últimos 500 anos está a deixar secos os leitos dos rios europeus e a revelar ao mundo o que escondiam debaixo de águas. A Reuters compilou alguns dos ressurgimentos mais surpreendentes e relevantes de 2022: há, entre as descobertas, destroços da Segunda Guerra Mundial, aldeia fantasma da Península Ibérica, pontes medievais e dolmens.

A aldeia fantasma emergiu da seca que esvaziou a albufeira na fronteira entre Portugal e Espanha, atraíndo milhares turistas. Fevereiro de 2022 REUTERS/Miguel Vidal
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A aldeia fantasma emergiu da seca que esvaziou a albufeira na fronteira entre Portugal e Espanha, atraíndo milhares turistas. Fevereiro de 2022 REUTERS/Miguel Vidal

"Se me vires, chora", pode ler-se numa das chamadas "pedras da fome" que ressurgiu recentemente no leito ressequido do rio Elba, em Děčín, no norte da República Checa, junto à fronteira com a Alemanha. Mas o que significa este aviso? O que são "pedras da fome"?

Quando ocorrem cheias, há quem inscreva nas paredes dos edifícios a altura das águas; as "pedras da fome" funcionam sob a mesma lógica, mas com enfoque nos anos de seca extrema. Ao longo dos últimos cinco séculos (a inscrição mais antiga data de 1417), quando o nível das águas dos rios descia perigosamente, os habitantes da Europa central inscreviam o ano em que estavam sobre as rochas que raramente estavam em contacto com o ar, deixando também, por vezes, algumas mensagens de preocupação relacionadas com más colheitas e falta de alimento. Estas pedras inscritas podem ser encontradas nos leitos dos rios Reno, Danúbio, Elba e Moselle.

A seca extrema que afecta a Europa actualmente pode ser, segundo o Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, a mais severa dos últimos 500 anos, competindo apenas com a de 2018. O nível das águas dos rios europeus encontra-se muito abaixo da média de outros anos: o Loire, em França, pode atravessar-se a pé, o Reno está a tornar-se interdito ao tráfego de embarcações, o nível das águas do rio Pó, em Itália, está dois metros abaixo do normal e as do Danúbio marcam 25ºC.

A diminuição do caudal das águas dos rios desvendou alguns dos "tesouros" que se mantinham escondidos debaixo da superfície. A Reuters compilou alguns dos ressurgimentos mais surpreendentes e relevantes, que podem ser conhecidos nas imagens que compõem esta fotogaleria. Há para ver frotas de navios e bombas da Segunda Guerra Mundial a despontar das águas do Danúbio, aldeias fantasma nas margens das albufeiras de Portugal e Espanha, balneários do século XIX, pontes medievais góticas e dólmenes pré-históricos.

Uma das "pedras da fome" é avistada nas águas baixas do Reno, na Alemanha, em Agosto de 2022.
Uma das "pedras da fome" é avistada nas águas baixas do Reno, na Alemanha, em Agosto de 2022. REUTERS/Tilman Blasshofer
Os vestígios do balneário La Isabela, na província de Cuenca y Sacedón, emerge das águas da reserva Buendía, Espanha. Uma seca prolongada e onda de calor extremo deixaram as reservas espanholas a 40% da sua capacidade, em média, no início de Agosto de 2022 - muito abaixo da média dos últimos dez anos, que rondava os 60%.
Os vestígios do balneário La Isabela, na província de Cuenca y Sacedón, emerge das águas da reserva Buendía, Espanha. Uma seca prolongada e onda de calor extremo deixaram as reservas espanholas a 40% da sua capacidade, em média, no início de Agosto de 2022 - muito abaixo da média dos últimos dez anos, que rondava os 60%. REUTERS/Susana Vera
Os vestígios do balneário La Isabela, na província de Cuenca y Sacedón, emerge das águas da reserva Buendía, Espanha. Uma seca prolongada e onda de calor extremo deixaram as reservas espanholas a 40% da sua capacidade, em média, no início de Agosto de 2022 - muito abaixo da média dos últimos dez anos, que rondava os 60%.
Os vestígios do balneário La Isabela, na província de Cuenca y Sacedón, emerge das águas da reserva Buendía, Espanha. Uma seca prolongada e onda de calor extremo deixaram as reservas espanholas a 40% da sua capacidade, em média, no início de Agosto de 2022 - muito abaixo da média dos últimos dez anos, que rondava os 60%. REUTERS/Susana Vera
Vista aérea sobre a aldeia submersa revelada pelos níveis baixos das águas da albufeira em Cabril, Pedrógão Grande, Portugal. Julho de 2022
Vista aérea sobre a aldeia submersa revelada pelos níveis baixos das águas da albufeira em Cabril, Pedrógão Grande, Portugal. Julho de 2022 REUTERS/Miguel Pereira
A aldeia fantasma de Aceredo emergiu da seca que esvaziou a albufeira na fronteira entre Portugal e Espanha, atraíndo milhares turistas. Fevereiro de 2022
A aldeia fantasma de Aceredo emergiu da seca que esvaziou a albufeira na fronteira entre Portugal e Espanha, atraíndo milhares turistas. Fevereiro de 2022 REUTERS/Miguel Vidal
Vista geral sobre a aldeia de Aceredo, no concelho de Lóbios, Espanha. A aldeia foi submersa pelo rio Lima nos anos 1990 após a construção da barragem.
Vista geral sobre a aldeia de Aceredo, no concelho de Lóbios, Espanha. A aldeia foi submersa pelo rio Lima nos anos 1990 após a construção da barragem. REUTERS/Miguel Vidal
Vista geral sobre a aldeia de Aceredo, no concelho de Lóbios, Espanha. A aldeia foi submersa pelo rio Lima nos anos 1990 após a construção da barragem. Janeiro de 2022
Vista geral sobre a aldeia de Aceredo, no concelho de Lóbios, Espanha. A aldeia foi submersa pelo rio Lima nos anos 1990 após a construção da barragem. Janeiro de 2022 José Sérgio/PÚBLICO,José Sérgio/PÚBLICO
Vista geral sobre a aldeia de Aceredo, no concelho de Lóbios, Espanha. A aldeia foi submersa pelo rio Lima nos anos 1990 após a construção da barragem. Janeiro de 2022
Vista geral sobre a aldeia de Aceredo, no concelho de Lóbios, Espanha. A aldeia foi submersa pelo rio Lima nos anos 1990 após a construção da barragem. Janeiro de 2022 José Sérgio/PÚBLICO
O telhado de uma casa na aldeia de Aceredo, em Espanha. A aldeia do concelho de Lóbios foi submersa nos anos 1990, aquando da construção da barragem.
O telhado de uma casa na aldeia de Aceredo, em Espanha. A aldeia do concelho de Lóbios foi submersa nos anos 1990, aquando da construção da barragem. REUTERS/Miguel Vidal
Um dolmen pré-histórico encontra-se totalmente exposto num dos cantos da albufeira espanhola de Vandecanas, na província de Cáceres, que viu a sua capacidade diminuida em 28%. Oficialmente conhecido como dolmen de Guadalperal ou Stonehenge espanhol, o círculo contém dezenas de pedras megalíticas que datam do ano 5000 A.C.
Um dolmen pré-histórico encontra-se totalmente exposto num dos cantos da albufeira espanhola de Vandecanas, na província de Cáceres, que viu a sua capacidade diminuida em 28%. Oficialmente conhecido como dolmen de Guadalperal ou Stonehenge espanhol, o círculo contém dezenas de pedras megalíticas que datam do ano 5000 A.C. REUTERS/Susana Vera
Um dolmen pré-histórico encontra-se totalmente exposto num dos cantos da albufeira espanhola de Vandecanas, na província de Cáceres, que viu a sua capacidade diminuida em 28%. Oficialmente conhecido como dolmen de Guadalperal ou Stonehenge espanhol, o círculo contém dezenas de pedras megalíticas que datam do ano 5000 A.C.
Um dolmen pré-histórico encontra-se totalmente exposto num dos cantos da albufeira espanhola de Vandecanas, na província de Cáceres, que viu a sua capacidade diminuida em 28%. Oficialmente conhecido como dolmen de Guadalperal ou Stonehenge espanhol, o círculo contém dezenas de pedras megalíticas que datam do ano 5000 A.C. REUTERS/Susana Vera
A onda de calor que afectou a Europa em Agosto de 2022 fez baixar o nível das águas da albufeira de Cijara, em Espanha, deixando exposta uma ponte medieval gótica até então submersa
A onda de calor que afectou a Europa em Agosto de 2022 fez baixar o nível das águas da albufeira de Cijara, em Espanha, deixando exposta uma ponte medieval gótica até então submersa REUTERS/Susana Vera
Uma estátua budista outrora submersa é avistada no topo do recife da ilha Foyeliang no rio Yangtze, na China, devido à seca que afectou a região de Chongqing. A estátua terá 600 anos e terá sido criada durante as dinastias Ming e Qing.
Uma estátua budista outrora submersa é avistada no topo do recife da ilha Foyeliang no rio Yangtze, na China, devido à seca que afectou a região de Chongqing. A estátua terá 600 anos e terá sido criada durante as dinastias Ming e Qing. REUTERS/Thomas Peter
Membros do exército italiano removeram uma bomba da Segunda Guerra Mundial que foi descoberta no fundo do rio Po, em Borgo Virgilio, Itália, durante um período de seca, em Agosto de 2022
Membros do exército italiano removeram uma bomba da Segunda Guerra Mundial que foi descoberta no fundo do rio Po, em Borgo Virgilio, Itália, durante um período de seca, em Agosto de 2022 REUTERS/Flavio Lo Scalzo
Membros do exército italiano removeram uma bomba da Segunda Guerra Mundial que foi descoberta no fundo do rio Po, em Borgo Virgilio, Itália, durante um período de seca, em Agosto de 2022
Membros do exército italiano removeram uma bomba da Segunda Guerra Mundial que foi descoberta no fundo do rio Po, em Borgo Virgilio, Itália, durante um período de seca, em Agosto de 2022 REUTERS/Flavio Lo Scalzo
Uma bomba da Segunda Guerra Mundial, de fabrico norte-americano, foi descoberta no rio Po, em Itália, em Agosto de 2022, devido à seca extrema. O exército italiano transportou-a até Medole, onde foi detonada em segurança.
Uma bomba da Segunda Guerra Mundial, de fabrico norte-americano, foi descoberta no rio Po, em Itália, em Agosto de 2022, devido à seca extrema. O exército italiano transportou-a até Medole, onde foi detonada em segurança. Italian Army - 10th Engineer Regiment/ via REUTERS
A pior seca dos últimos anos deixou o Danúbio num dos seus níveis mais baixos do último século, expondo os destroços de dezenas de navios de guerra alemães carregados de explosivos que se encontravam no fundo do rio desde o tempo da Segunda Guerra Mundial, perto da cidade portuária de Prahovo, na Sérvia
A pior seca dos últimos anos deixou o Danúbio num dos seus níveis mais baixos do último século, expondo os destroços de dezenas de navios de guerra alemães carregados de explosivos que se encontravam no fundo do rio desde o tempo da Segunda Guerra Mundial, perto da cidade portuária de Prahovo, na Sérvia REUTERS/Fedja Grulovic
Os destroços de um navio de guerra alemão, do período da Segunda Guerra Mundial, é visto no rio Danúbio, em Prahovo, Sérvia.
Os destroços de um navio de guerra alemão, do período da Segunda Guerra Mundial, é visto no rio Danúbio, em Prahovo, Sérvia. REUTERS/Fedja Grulovic
As embarcações estavam entre as centenas que foram afundadas ao longo do rio Danúbio pela frota do Mar Negro, da Alemanha nazi, em 1944. Os destroços dificultam o tráfego fluvial quando os níveis de água  do rio são baixos.
As embarcações estavam entre as centenas que foram afundadas ao longo do rio Danúbio pela frota do Mar Negro, da Alemanha nazi, em 1944. Os destroços dificultam o tráfego fluvial quando os níveis de água do rio são baixos. REUTERS/Fedja Grulovic