Juiz admite divulgar documento sobre buscas a Trump, mas só com informação ocultada

Pedido de divulgação foi feito por jornais e estações de televisão, por estar em causa um antigo Presidente dos EUA. Decisão final vai ser anunciada na próxima semana, depois de o Departamento de Justiça esconder a informação que julgue ser prejudicial às investigações.

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As buscas na mansão de Mar-a-Lago, na Florida, foram realizadas no início da semana passada Reuters/MARCO BELLO

O juiz norte-americano que autorizou as buscas na mansão de Donald Trump, na semana passada, anunciou que está “inclinado” a autorizar a divulgação do documento em que o Departamento de Justiça justificou a necessidade da acção dos agentes do FBI, e onde estão descritos pormenores das investigações contra o ex-Presidente dos EUA.

Numa declaração feita em tribunal, nesta quinta-feira, o juiz Bruce E. Reinhart instruiu o Departamento de Justiça dos EUA a rever o documento em causa, e a esconder qualquer informação cuja divulgação considere ser prejudicial às investigações.

Reinhart disse ser “muito importante” que os norte-americanos tenham acesso “à maior quantidade possível de informação” sobre as buscas na mansão de Mar-a- Lago, na Florida. E afirmou que, no seu entender, há partes do documento que podem ser reveladas sem que isso comprometa as investigações em curso.

“Se essas partes terão alguma relevância para o público ou para os media, não serei eu a avaliar”, disse o juiz, que deu uma semana ao Departamento de Justiça para propor alterações ao documento e marcou o anúncio da decisão final para a próxima quinta-feira.

“Transparência”

O pedido para a divulgação pública do documento foi feito por vários jornais e estações de televisão norte-americanos, em nome da transparência e por estar em causa uma decisão inédita na história do país — o cumprimento de um mandado de busca na casa de um ex-Presidente dos EUA.

O Departamento de Justiça manifestou-se contra a publicação do documento, e pediu ao juiz que não autorizasse a sua divulgação — nem na íntegra, nem após uma revisão para ocultar informação sensível.

Segundo os investigadores, a divulgação do documento teria graves consequências para as investigações em curso, incluindo ameaças contra testemunhas ou potenciais testemunhas.

No final da semana passada, o juiz autorizou a divulgação do mandado de busca e do inventário dos documentos retirados da mansão de Trump pelos agentes do FBI — dois documentos distintos daquele que está em causa no pedido dos media norte-americanos.

A divulgação do mandado de busca e do inventário — onde se lê que foram levadas 26 caixas com material diverso, incluindo 11 documentos classificados como confidenciais, secretos ou ultra-secretos — foi feita a pedido do Departamento de Justiça.

A revelação de pormenores sobre qualquer investigação criminal não é prática corrente no Departamento de Justiça, e só se justificaria neste caso, segundo os media norte-americanos, por estar envolvido um antigo Presidente dos EUA.

“A transparência contribui para que o público possa perceber e aceitar os resultados”, disse Charles Tobin, um advogado dos jornais e das televisões que fizeram o pedido ao juiz. “E isso é bom para o Governo e para o tribunal. Não podemos confiar naquilo que não podemos ver.”

Ameaças ao FBI

O ex-Presidente dos EUA reagiu ao pedido de divulgação do documentos, nesta semana, com um apelo à sua publicação imediata, “em nome da transparência"; mas os seus advogados não fizeram nenhum pedido oficial ao juiz da Florida.

Segundo os media norte-americanos, Trump considera que a divulgação dos pormenores das investigações pode servir para entusiasmar ainda mais os seus apoiantes, uma opinião que não é partilhada pela generalidade dos seus conselheiros. Entre estes, há quem tema que o documento revele informações precisas sobre que documentos da Casa Branca foram levados por Trump para a sua mansão na Florida.

Na semana passada, o jornal Washington Post noticiou que alguns desses documentos dizem respeito a armamento nuclear, não sendo certo se contêm informação secreta sobre armas dos EUA ou de países aliados; e, segundo o mandado de busca, Trump é suspeito de reter ilegalmente documentos que podem representar um perigo para a segurança do país, em violação de uma parte da Lei de Espionagem de 1917.

As buscas na mansão de Trump provocaram uma onda de ameaças contra agentes do FBI e contra o juiz envolvido no processo, com o ex-Presidente dos EUA a queixar-se de ser alvo de uma perseguição política por parte da Administração Biden e do Partido Democrata.

Na semana passada, um homem que participou na invasão do Capitólio, em Janeiro de 2021, tentou invadir os escritórios do FBI em Cincinnati, no estado do Ohio, vestido com um colete à prova de bala e armado com uma espingarda semiautomática. O suspeito foi morto numa troca de tiros com a polícia.

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