Instituto do Porto bate recorde de profundidade na exploração de grutas inundadas
Uma expedição com portugueses explorou a gruta natural inundada mais profunda do mundo, fez o seu mapa a três dimensões e recolheu dados de parâmetros da água.
Investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec), do Porto, chegaram até aos 450 metros de profundidade na gruta natural mais profunda do mundo, na República Checa, batendo o recorde mundial.
Esta equipa de investigadores conseguiu, pela primeira vez, levar um veículo autónomo subaquático até aos 450 metros, o UX-1Neo, da gruta de seu nome Abismo de Hranice, referiu o instituto, em comunicado. “O UX-1Neo é um dos robôs subaquáticos tecnologicamente mais evoluídos do mundo e foi desenvolvido pelo Inesc Tec, no âmbito do projecto Unexup”, sublinhou. O recorde anterior havia sido alcançado em 2016, com recurso a um robô subaquático operado de forma remota, que atingiu 404 metros numa expedição da National Geographic, salientou.
Depois de anos de investigação e inúmeras missões de exploração no Abismo de Hranice, os investigadores Alfredo Martins, Carlos Almeida, Eduardo Soares, Pedro André Peixoto e Ricardo Pereira integraram, no início de Agosto, uma expedição para explorar a gruta natural inundada mais profunda do mundo, fazer o seu mapa a três dimensões e recolher dados de parâmetros da água.
Alfredo Martins, que é também docente no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), adiantou que “a gruta, que se julga ter mais de 900 metros de profundidade, tem sido explorada com recurso a mergulhadores até aos 200 metros”. A missão mais recente decorreu no âmbito do projecto Unexup e, pela primeira vez, foi possível “explorar a caverna, com sucesso, até aos 450 metros e obter um mapa detalhado, algo que não era possível anteriormente”, ressalvou.
Enquanto veículo autónomo subaquático (em inglês AUV, de Autonomous Underwater Vehicle) efectua missões de exploração de forma completamente autónoma e com um posicionamento preciso, características únicas que podem ser utilizadas dependendo da missão ou do seu risco, explicou. Em específico, o robô combina a informação de um sonar multifeixe, com dois sonares de varrimento rotativo, seis câmaras e seis sistemas de reconstrução tridimensional de luz estruturada, que permitem construir, com detalhe, um mapa 3D, sustentou. Graças a esta tecnologia, o robô conseguiu mapear “em dois dias de mergulhos, o que tem sido feito nos últimos 50 anos”, disse um dos mergulhadores que acompanhou a expedição, citado no comunicado.
Segundo Alfredo Martins, os mapas existentes da gruta foram construídos, ao longo dos anos, com base em medições feitas por mergulhadores até aos 180 metros, em relatos de um mergulhador que desceu até aos 217 metros e em duas sondas acústicas que foram largadas com um cabo até aos 384 metros. A missão de exploração foi organizada pela Associação Checa de Espeleologia e com o envolvimento do consórcio do projecto Unexup.
“Este projecto pretende criar um novo serviço de mapeamento de minas, baseado numa nova classe de robôs subaquáticos autónomos com capacidade para explorar até mil metros de profundidade, obtendo informação relevante como o estado estrutural e mapa das mesmas (permitindo saber se existiram derrocadas ou outros problemas) e informação geológica importante para determinar a existência de recursos minerais com interesse económico, que de outra forma seria mais difícil e perigoso obter ou teria custos mais elevados”, relatou o instituto.
O Unexup é financiado pelo EIT Raw Materials, do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, em cerca de 2,9 milhões de euros e termina em Dezembro de 2022.