Incêndio da serra da Estrela está “estabilizado”. Cerca de 1600 operacionais combatem as chamas

Fogo, que tem um perímetro de mais de 100 quilómetros, estava a ser combatido por 1597 operacionais às 20h. Ao longo do dia “o incêndio não sofreu acréscimos” na sua área, mas verificaram-se reacendimentos, refere a Protecção Civil.

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Segundo dados de satélite, o incêndio da Serra da Estrela terá afectado uma área de mais de 16 mil hectares Tiago Lopes

O incêndio que destrói há seis dias a serra da Estrela continua a progredir esta sexta-feira e registaram-se pelo menos duas frentes activas, uma mais intensa na freguesia de Videmonte, no concelho da Guarda, e outra, mais pequena, no concelho de Manteigas. No último ponto de situação, a Protecção Civil referiu que a situação está estabilizada.

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Ao início da tarde, Miguel Cruz reconhecia que, num fogo com um perímetro de mais de 100 quilómetros e face ao agravamento das condições meteorológicas, durante a tarde havia um risco sério de reactivações, o que se veio a confirmar.

No último ponto de situação feito pela Protecção Civil, pelas 19h, o segundo comandante nacional, Miguel Cruz, que lidera a operação de combate, precisou que “o incêndio não sofreu acréscimos significativos na sua área” durante a tarde, apesar de se registarem “algumas reactivações no seu perímetro”. “Diria que está estabilizado, é um termo que se pode aplicar apesar de não ser um estado da evolução do incêndio, mas não o consideramos ainda como dominado”, acrescentou.

Ao avaliar os trabalhos desta sexta-feira, o segundo comandante nacional afirmou: “Podemos dizer que esta foi uma tarde mais calma e que conseguimos fazer um trabalho de consolidação de grande parte das frentes activas. Falta fazer também um trabalho de reorganização do teatro de operações no sentido de garantir permanentemente que todo este perímetro está circundado por meios.”

Segundo Miguel Cruz, há ainda “um longo trabalho pela frente até dominar este incêndio​”.

Pelas 20h, quase 1600 operacionais combatiam as chamas

Esta manhã, Sérgio Costa, autarca da Guarda, disse que se mantinha activa uma frente no seu concelho e outra, mais pequena, no de Manteigas. Deu ainda conta de uma reactivação em Famalicão da Serra. Desolado e revoltado, o presidente da Câmara da Guarda lançou um alerta: “O país ainda não percebeu o impacto do que está a acontecer aqui. É na serra da Estrela que nasce o principal rio português. Isto terá consequências ao nível dos recursos hídricos, da biodiversidade e da fixação de carbono”. E remata: “Oxalá não acordemos todos tarde demais para o que está a acontecer.”

População lamenta a “jóia” que se perdeu na Serra da Estrela. Leia a reportagem na Serra da Estrela Tiago Lopes

O autarca da Guarda lamenta que duas máquinas de rasto, que deveriam ter começado a funcionar quinta-feira ao fim da tarde, só tenham iniciado a operação às 6h desta sexta-feira. E conta que, apesar de a câmara não ter este tipo de maquinaria, contratou duas viaturas à hora. “Estão desde as 7h à espera que lhes seja atribuída uma missão”, critica, já depois das 11h.

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É provável que o incêndio tenha afectado a população de víboras-cornudas, que são endémicas da Península Ibérica (e também do Noroeste de África) CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DA SERRA DA ESTRELA

Pelas 20h, o fogo estava a ser combatido por 1597 operacionais, apoiados por cinco aeronaves e perto de 500 veículos, informava a página da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. Desde a última actualização, ao início da tarde, verificou-se um decréscimo dos recursos.

Já arderam mais de 16 mil hectares

O Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (conhecido pela sigla inglesa EFFIS), que, através do recurso a imagens de vários satélites, permite detectar fogos com áreas ardidas superiores a um hectare, contabilizava na manhã desta sexta-feira 16.310 hectares afectados pelo incêndio da serra da Estrela, que deflagrou na madrugada do passado sábado.

Mas esta sexta-feira nem tudo são más notícias. A frente do incêndio que progredia pelos concelhos de Gouveia está dominada, o que foi confirmado pelo presidente da câmara. “Felizmente não temos nada aceso no concelho neste momento”, afirmou Luís Tadeu. O autarca de Gouveia explicava que tal foi possível devido ao trabalho de combate feito durante a noite, que aproveitou a janela de oportunidade dada pelas condições meteorológicas mais favoráveis.

“Agora estamos a apostar na vigilância, com brigadas dispersas pelo terreno, para evitar qualquer reacendimento”, diz o autarca de Gouveia, que lamenta o que está a acontecer no Parque Natural da Serra da Estrela, a segunda maior área protegida em Portugal, com 89 mil hectares.

Entre os danos materiais ocorridos nas últimas 24h, Sérgio Costa destaca quatro segundas habitações que arderam esta quinta-feira na aldeia Quinta da Taberna, na freguesia de Videmonte, onde as chamas destruíram outros tantos palheiros e apoios agrícolas. O autarca diz que não activou o plano de emergência municipal porque se trata de uma “mera formalidade” que implicava uma reunião que ia obrigar a tirar do teatro de operações profissionais que estão a ser necessários. “A câmara já está a ir muito além do que está previsto no plano, tanto a nível da alimentação dos operacionais, como da disponibilização de meios ou no apoio às populações”, garante o presidente do município da Guarda.

Luís Tadeu, como o colega, diz que ainda tem pouca noção dos prejuízos materiais causados pelo fogo. Os levantamentos ainda estão em curso. Os mais prementes têm a ver com uma zona em Figueiró da Serra, onde vive uma comunidade de 30 estrangeiros em habitações mais rudimentares, que foi afectada pelo fogo. “As pessoas foram alojadas esta quinta-feira em casa de amigos, mas ainda é preciso perceber se têm condições para regressar a casa”, especifica o autarca de Gouveia. Os pastores e outros criadores são outra das prioridades, já que muitos ficaram sem nada para alimentar os animais.

Também a associação ambientalista Guardiões da Serra da Estrela está com esta preocupação, tendo esta quinta-feira já distribuído 1500 quilos de ração e 4500 quilo de fardos em várias aldeias afectadas pelo incêndio, como explicou ao PÚBLICO o seu vice-presidente, Manuel Franco. “A ideia é suprir as necessidades imediatas. Sem esse apoio muitos pastores podem acabar por desistir de uma actividade que é de grande importância para a serra”, justifica.

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