Nos carros destruídos pela guerra pintam-se girassóis. É como um “renascimento”

Grupo de artistas está a pintar girassóis num amontoado de carros destruídos pela guerra na cidade ucraniana de Irpin. Querem mostrar que "a vida continua" e o inimigo será vencido "com pincéis ou armas", mas a intervenção não é consensual. “As memórias ainda estão muito frescas.”

Grupo de artistas está a pintar girassóis nos destroços da guerra Reuters/GLEB GARANICH
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Grupo de artistas está a pintar girassóis nos destroços da guerra Reuters/GLEB GARANICH

Em Irpin, um amontoado de carros destruídos ganha novos tons. Um grupo de artistas ucranianos e americanos está a pintar girassóis nos destroços da guerra e planeiam vender NFTs da obra, angariando dinheiro para artistas nacionais, para a reconstrução de alguns projectos e outras causas.

A maioria dos carros foi recuperada de uma ponte destruída pelas forças ucranianas para travar o avanço das tropas russas, disse à Reuters Trek Kelly, artista de Los Angeles que ajudou a começar o projecto. Estão agora numa estrada principal em direcção a Irpin, onde as autoridades locais dizem que 200 a 300 civis foram mortos por ataques russos antes de a cidade ser recuperada por forças ucranianas, em Março. A Rússia nega que tenha atacado civis.

As autoridades aprovaram a ideia do projecto artístico e asseguram que ninguém morreu dentro dos veículos. A intervenção, porém, não é consensual entre os locais. Um casal proprietário de um dos veículos agradeceu-lhes por “tornarem estes carros em algo bonito”, disse Kelly. Mas outras vozes, como a de Casimir Kiendl, questionam o timing.

“Eu entendo a ideia de mostrar esperança no futuro com as flores e de que a Ucrânia não pode ser destruída apesar do que os russos tentaram fazer aqui, mas talvez seja demasiado cedo”, disse o galês, que estava a viver na Ucrânia quando a invasão começou. “As memórias ainda estão muito frescas”, concorda Yuliya Zaliubovska, natural de Kiev, que foi para França quando a guerra começou e agora regressou para uma visita.

Kelly e Olena Yanko, artista ucraniana envolvida no projecto, respeitam a opinião, mas esperam que o local se torne um espaço para reflexão. “Sim, há pessoas que não nos entenderam. Pensam que estamos a dançar nas sepulturas de quem morreu”, diz Yanko. “Mas queremos mostrar que… a vida continua, vamos ganhar [a guerra] e podemos vencer o inimigo, seja com pincéis ou armas.”

A organização sem fins lucrativos americana Beautify Earth está a aceitar doações para os artistas e em breve serão partilhados mais detalhes sobre os NFTs. E outras cidades já ofereceram aos artistas locais para receberem os girassóis, a flor nacional da Ucrânia, conta Kelly. “Querem embelezar estas áreas perturbadas até que consigam reconstruir-se para que… haja algum brilho, cor e natureza a brotar das ruínas numa espécie de renascimento.”

Não são os primeiros com este pensamento. Em Bucha, Ivanka Siolkowsky começou a pintar flores nos buracos de balas. Para "trazer imagens de alegria de volta para a cidade".

Artista ucraniano Viacheslav Rybka pinta um carro
Artista ucraniano Viacheslav Rybka pinta um carro Reuters/GLEB GARANICH
Uma mulher olha para os carros
Uma mulher olha para os carros Reuters/GLEB GARANICH
Trek Kelly é um artista de Los Angeles e ajudou a começar o projecto
Trek Kelly é um artista de Los Angeles e ajudou a começar o projecto Reuters/GLEB GARANICH
Trek Kelly pinta um carro
Trek Kelly pinta um carro Reuters/GLEB GARANICH
Trek Kelly pinta um carro
Trek Kelly pinta um carro Reuters/GLEB GARANICH
Um militar observa os trabalhos
Um militar observa os trabalhos Reuters/GLEB GARANICH
Os artistas ucranianos Viacheslav Rybka e Olena Yanko a trabalhar
Os artistas ucranianos Viacheslav Rybka e Olena Yanko a trabalhar Reuters/GLEB GARANICH
"A vida continua, vamos ganhar [a guerra] e podemos vencer o inimigo, seja com pincéis ou armas”, diz Olena Yanko
"A vida continua, vamos ganhar [a guerra] e podemos vencer o inimigo, seja com pincéis ou armas”, diz Olena Yanko Reuters/GLEB GARANICH
Artistas querem vender NFTs da obra
Artistas querem vender NFTs da obra Reuters/GLEB GARANICH
Nem toda a gente concorda com a intervenção
Nem toda a gente concorda com a intervenção Reuters/GLEB GARANICH
“Eu entendo a ideia de mostrar esperança no futuro com as flores e de que a Ucrânia não pode ser destruída apesar do que os russos tentaram fazer aqui, mas talvez seja demasiado cedo”, disse um observador
“Eu entendo a ideia de mostrar esperança no futuro com as flores e de que a Ucrânia não pode ser destruída apesar do que os russos tentaram fazer aqui, mas talvez seja demasiado cedo”, disse um observador Reuters/GLEB GARANICH
Outras cidades já mostraram disponibilidade para receber os artistas
Outras cidades já mostraram disponibilidade para receber os artistas Reuters/GLEB GARANICH