Cerâmica
As voluptuosas mulheres de grés de Filipa Viana são ela própria “várias vezes”
Em exposição no Ó! Cerâmica, no Porto desde 23 de Julho, Viagem apresenta vários corpos femininos em diferentes posições e actividades. Todos pretendem representar faces da sua autora e não o género feminino como um todo.
“A viagem é a vida. Uma narrativa sobre um olhar que vai crescendo com a idade, com a experiência”. É assim que Filipa Viana explica o nome da exposição que inaugurou a 23 de Julho no Ó! Cerâmica, no Porto.
Em Viagem, cada uma das obras assume a forma de um corpo feminino voluptuoso que se dispõe numa posição distinta. Sempre em torno de uma caixa. Algumas em exploração, outras deitadas em posições harmoniosas e descontraídas. Cada uma das mulheres de grés tem uma personalidade distinta, mas todas acabam por ser diferentes representações de Filipa. “Estou ali representada várias vezes. É um olhar de dentro para fora, o meu olhar”, esclarece. A autora acrescenta que o papel atribuído à caixa presente nalgumas peças é representar “o universo exterior ao ser humano”.
Apesar do carácter autobiográfico das obras, Viagem não pretende alienar ou distanciar o público. É uma exposição no feminino, mas que não quer “vincar só um género”, conta Filipa Viana. Sublinha, também, que não pretende representar as mulheres como um todo: “É um bocado egocêntrico dizer que representa todas as mulheres. Não. Isto parte de mim.”
As obras são o culminar do trabalho que desenvolve desde que começou a sua formação em Pintura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. A comunhão “das várias práticas artísticas” a que se foi dedicando. “A cerâmica nunca me abandonou, há uma relação com matéria de que eu senti falta enquanto estive na ilustração”, conta.
Prevê-se que a Viagem esteja em exposição durante dois meses, até Setembro. Questionada sobre o próximo destino, Filipa Viana esclarece: “Não existe. A viagem é um processo.”
Texto editado por Amanda Ribeiro