Júlio Resende, Júlio Pomar, Alberto Carneiro, Julião Sarmento, Graça Morais, Pedro Cabrita Reis... Vai longa a lista de artistas que personalizaram rótulos de garrafas Esporão desde 1985, ano do primeiro vinho da herdade alentejana. O livro Colheitas e Artistas 1985 – 2015, lançado em 2018, já mencionava 29 artistas portugueses, dois angolanos e um brasileiro. Recentemente juntou-se-lhes Abel Mota, que aos 22 anos passa a ser o mais novo a ilustrar um rótulo, interpretando não só as novas colheitas do Esporão Reserva mas também, e especialmente, a paisagem outonal feita de tons acastanhados, laranjas e vermelhos da herdade, onde passou quatro dias.
“Os dias começavam muito cedo. Fazia uma estimativa de quantas telas iria trabalhar naquele dia, colocava tudo no carro e procurava o lugar com o enquadramento certo. Tive sempre o enoturismo como ponto de referência e andei à volta. Acho que percorri toda a herdade em pintura”, recorda o jovem artista, com formação dividida entre a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (UP) e o estúdio de Tim Eitel na École Nationale Supérieure des Beaux-arts de Paris e algumas exposições no currículo, Museu Nacional Soares dos Reis, Galeria Meng Tak Building, China (2019), Reitoria da UP, Galeria Clube de Desenho, Museu da FBAUP e XXI Bienal de Cerveira (2020).
“Foram mais de trinta pinturas em mais ou menos quatro dias”, conta ao Terroir Abel Mota, natural de Bouro (Santa Marta), Amares, fascinado com as perspectivas amplas da paisagem e com os detalhes, as nuances das cores ao longo do dia, as sombras a correrem as vinhas e a subirem pela torre. E a terra. “Quando entrei na vinha comecei a olhar para baixo e a observar o solo. Não era só o céu que mudava consoante a altura do dia, a terra também. Ao pôr-do-sol começava a ficar siena, roxo avermelhado e saturada. A partir daí olhei mais para baixo e encontrei uma paleta de cores incríveis na terra”.
Pintou desde “de manhã cedo até aos últimos minutos de luz”, confessa. Pintou inclusive às escuras, socorrendo-se das memórias de um dia cheio. “A quantidade de cores que ao longo do dia se reflectem no branco da torre vão desde os tons rosa, vermelho, laranja, roxo até chegar ao azul. O pôr-do-sol acontece em simultâneo em dois lugares e normalmente só olhamos para o mais óbvio”.
A pintura de paisagem, diz ao site do Esporão, é “um bom pretexto para pintar”. “É uma pintura feliz. A paisagem dá tempo para ver as coisas. Estou dentro do momento, um momento que vai acabar e que tenho de aproveitar. Coloco tudo naquela tela.”
Uma das suas telas já faz parte do Esporão Reserva Branco 2021, do qual sobressai a “cor palha com reflexos esverdeados e aspecto cristalino”, aroma “com notas de tangerina e limão, com apontamentos de hortelã complementados com pimenta branca e noz-moscada”, condimentos quase visíveis nesta tela, que Abel Mota pintou no primeiro dia na herdade junto à represa. “Foi nesse momento que comecei a aperceber-me que o clima e o tipo de terreno levavam os arbustos e árvores a ganharem formas arredondadas e muito baixas”, recorda.
Em breve, voltaremos a ver o pincel de Abel nos rótulos do Esporão. O próximo será o Reserva Tinto (“Os tintos serão momentos de fim de tarde onde os roxos e os vermelhos são as cores principais”) e mais duas telas serão incorporadas nos Private Selection branco e tinto.