Mais de metade dos alunos do 9.º ano teve negativa no exame de Matemática

Provas deste ano não contam para a nota final. Médias a Matemática e Português desceram por comparação a 2019, último ano com exames.

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Provas finais do 9.º ano estiveram suspensas durante a pandemia Nelson Garrido

Quase quatro mil alunos do 9.º ano tiveram entre 0 a 0,5% na prova final de Matemática realizada no mês passado, cuja média ficou em terreno negativo: 45% numa escala que vai até 100. Em 2019, último ano em que se tinha realizado esta prova, a média foi de 55%.

A média a Português também desceu de 60% para 55%. Nesta disciplina realizaram-se 90.501 provas, das quais 33.968 tiveram classificação negativa (38%). A Matemática, com 92.646 provas, esta proporção sobe para 57,7%, de acordo com um comunicado do Ministério da Educação enviado nesta segunda-feira.

As provas deste ano não contam para a nota final dos alunos, mas para o Ministério da Educação “assumem especial importância na medida em que têm como objectivo primo informar e sustentar intervenções pedagógicas, permitindo reajustar estratégias que conduzam à melhoria da qualidade das aprendizagens”.

Ou seja, constituem-se como um instrumento de aferição do estado das aprendizagens, depois de dois anos de uma pandemia que levou ao encerramento das escolas por largos períodos. E permitem também fazer uma avaliação do plano de recuperação das aprendizagens (Plano 21

23 Escola+) que começou a ser aplicado no ano lectivo passado, tendo um horizonte de vigência de dois anos.

Para já, as notícias estão longe de serem boas. Nas classificações a Matemática, o grupo mais representado é o dos 20%, com 8368 resultados. Português volta a estar melhor: o grupo mais representado (10370) está nos 50%, mas só 6% dos alunos conseguem classificações entre os 85 e os 100%. Apesar de no geral o desempenho ser pior a Matemática, a proporção de alunos com as classificações mais altas sobe nesta disciplina para 10,3%.

A Associação de Professores de Português tem insistido, a este respeito, que nas provas desta disciplina é mais difícil os alunos conseguirem as notas mais altas do que, por exemplo, a Matemática por o grau de objectividade, entre outros factores, ser menor na disciplina de língua materna.

Conselho de Escolas já tinha alertado para maus resultados

O Conselho das Escolas (CE), o órgão que representa os directores junto do ministério, já tinha alertado para a quase inevitabilidade de maus resultados nas provas finais, tendo recomendado que estas não se realizassem também este ano. Num parecer divulgado em Fevereiro, antes de se saber que as provas não contariam para a nota final, o CE reconhecia os esforços feitos pelo Ministério da Educação, pelas escolas e pelas comunidades “para atenuar e corrigir as desigualdades no acesso ao processo educativo” provocadas pela pandemia, que obrigou milhares de alunos a terem aulas à distância em circunstâncias precárias. Porém, nota, “é inegável” que esses esforços “foram insuficientes para permitir, neste momento, a recuperação das aprendizagens expectáveis e desejáveis, não se tendo conseguido recolocar as condições mínimas para garantir a igualdade de oportunidades e a equidade no processo educativo”.

Também a evolução da pandemia no último ano lectivo condicionou a aplicação das medidas previstas no Plano de Recuperação das Aprendizagens, destacou ainda o CE, lembrando que “os professores assistiram a mudanças constantes dos grupos de alunos com que trabalham, com as turmas a terem sempre um número de alunos mais ou menos considerável em isolamento, sem assistir presencialmente às aulas, e com repercussões negativas na sua aprendizagem”.

Antes das provas finais do 9.º ano tinham sido já feitos estudos de diagnóstico que apontaram também para fortes impactos da pandemia nas aprendizagens. No estudo conduzido pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave, responsável pela elaboração e classificação dos exames,) em Janeiro do ano passado, menos de metade dos alunos do 6.º e 9.º ano mostrou ter o nível esperado em conhecimentos elementares em Matemática, Leitura e Ciências, que foram as três áreas avaliadas.

Na altura, o secretário de Estado e actual ministro da Educação, João Costa, indicou que alguns dos resultados são obtidos “independentemente da pandemia”. Ou seja, correspondem a debilidades estruturais dos alunos.

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