Mar salgado e plastificado
Andamos a plastificar o mar. Uma bióloga deu nome a essa espécie resistente, duradoura e invasora criada por nós: Plasticus maritimus.
O livro já foi lançado há quatro anos, mas o plástico tem vindo a ser lançado no mar há muito mais. E continuamente. Depois de vários dias em que muito se falou sobre o mar (Conferência dos Oceanos das Nações Unidas), fomos recuperar Plasticus Maritimus, que nos convida a conhecê-lo e a dele cuidar.
Tem por subtítulo Uma Espécie Invasora e nele a bióloga Ana Pêgo explica em linguagem clara e acessível: “O plástico pode conter uma grande quantidade de substâncias tóxicas. E, mesmo quando se degrada em partículas muito pequenas, essas substâncias tóxicas continuam presentes. Entrando na cadeia alimentar dos animais dos oceanos, não é difícil que estas substâncias passem para os tecidos humanos através dos peixes e mariscos que comemos.”
A autora conta-nos que não sabe dizer exactamente quando começou a sua preocupação com os plásticos, mas revela como o mar sempre fez parte da sua vida: “Há pessoas que têm um quintal nas traseiras, eu tive a sorte de ter uma praia a dois minutos de casa, o quintal mais incrível que alguém podia ter. Todos os dias, chegava da escola, atirava a mochila para um canto e gritava para dentro: ‘Mãe, vou ver como está a praia!’. E lá ia eu... Este ‘ir ver como estava a praia’ era assim como ir visitar um amigo e sentir o seu estado de espírito.”
Aliando conhecimento científico e sensibilidade, Ana Pêgo cria um guia eficaz na mobilização para a mudança de comportamentos, sem a incitar dramática ou exageradamente. Informa, alerta e depois cada um agirá segundo a sua consciência, possibilidades e necessidades.
Os microplásticos são um macroproblema
Através da leitura do índice, percebe-se imediatamente essa atitude: Plasticus maritimus, a espécie; como preparar uma saída; objectos vulgares; objectos exóticos; reciclagem: será que podemos ficar descansados?; o que podemos fazer; queres saber mais sobre o plástico?
Outra informação importante que transmite é a de que “os microplásticos são um macroproblema” e descreve: “Enquanto vagueia pelos oceanos, o plástico vai sofrendo vários tipos de danos por acção do frio, do calor, do sol, do sal, das ondas e do vento ou do contacto com as areias e as rochas. Gradualmente, torna-se frágil e vai-se partindo, dando origem a milhares de pequenas partículas. A todas estas partículas de plástico com dimensões inferiores a 5 mm dá-se o nome de ‘microplásticos’.”
Os materiais de plástico que começou a recolher nas praias em 2015 transformaram-se numa exposição, que, depois de ter estado no continente, viajou para os Açores. Até Outubro, a mostra pode ser vista na ilha de São Jorge, Museu Francisco de Lacerda, na Calheta.
O livro conta também com fotos desses objectos de plástico e com as ilustrações de Bernardo P. Carvalho, que o torna ainda mais atraente e colorido, num registo jovem, a que se aliam tiras de BD, com sequências que imprimem dinamismo ao conjunto.
Plasticus Maritimus, aconselhado pelo Plano Nacional de Leitura, recebeu várias distinções, como livro científico e ecológico, mas também pela ilustração: foi seleccionado para o Prémio Livro Juvenil Ecológico, no Festival du Livre et de la Presse d’Écologie (França, 2021); nomeado para Prix Sorcières 2021 (França, 2021); seleccionado no Outstanding Science Trade Books (EUA, 2021); recebeu menção honrosa nos Bologna Ragazzi Awards, na categoria de Não-Ficção, atribuído pela Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha (2020) e foi nomeado pelo Prémio BD Amadora: Melhor Desenhador Português de Livro de Ilustração (2019). Todos merecidos.