Xi elogia “um país, dois sistemas” nos 25 anos da passagem de Hong Kong para a China

Presidente chinês avisou que sinais de perturbação do desenvolvimento económico e político do território “devem ser eliminados”. EUA e Reino Unido acusam Pequim de não respeitar direitos e liberdades de Hong Kong.

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Xi Jinping não saía da China continental desde o início da pandemia de covid-19 PAUL YEUNG / Reuters

No discurso em que assinalou os 25 anos da transferência da soberania de Hong Kong para a China, o Presidente chinês, Xi Jinping, elogiou as virtudes do modelo “um país, dois sistemas”, que os críticos de Pequim dizem estar a ser posto em causa pelo regime.

Sem dizer nada de surpreendente, Xi marcou a data com a primeira deslocação para fora da China continental desde o início da pandemia, embora tenha estado no território menos de 24 horas. O discurso do líder chinês incidiu sobretudo na defesa e na promessa da manutenção do modelo “um país, dois sistemas” – a fórmula política que vigora em Hong Kong desde 1997, quando passou da soberania do Reino Unido para a China, e que garante aos cidadãos do território um conjunto de liberdades e direitos que não existem na China continental. O tratado de transferência de soberania prevê que este modelo se mantenha até 2047.

“Para este tipo de sistema bom não há razões para o mudar. Deve ser mantido no longo prazo”, afirmou Xi.

Ao contrário de outras ocasiões, o Presidente chinês não se quis pronunciar de forma demorada sobre a onda de protestos dos últimos anos que contestavam a forma cada vez mais agressiva de exercício da soberania chinesa sobre Hong Kong. “Depois de ter experimentado o vento e a chuva, todos percebem de forma dolorosa que Hong Kong não pode ser caótica, nem pode tornar-se caótica outra vez”, declarou.

Em tom de aviso claro para futuras demonstrações de indisciplina por parte dos cidadãos da metrópole, Xi afirmou que “o desenvolvimento de Hong Kong não pode voltar a ser atrasado e qualquer interferência deve ser eliminada”.

Xi presidiu ainda à cerimónia de tomada de posse do novo chefe-executivo de Hong Kong, John Lee, antigo responsável pelo aparelho de segurança do território e um dos principais obreiros da Lei de Segurança Nacional, considerada um dos principais instrumentos de repressão ao serviço do regime chinês. A aprovação desta legislação, que vem endurecer as penas para qualquer tipo de actividade considerada “traição”, foi acompanhada de enormes protestos em Hong Kong, em 2019, sobretudo por parte da população mais jovem.

Os críticos da Lei de Segurança Nacional dizem que vem pôr em causa os direitos consagrados pelo modelo “um país, dois sistemas” e que serve sobretudo para aproximar Hong Kong do sistema autoritário em vigor na China continental.

Críticas dos EUA e Reino Unido

Antes do discurso de Xi, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, acusaram Pequim de não estar a respeitar o acordo que garante os direitos previstos pela fórmula “um país, dois sistemas”.

Johnson prometeu “não desistir” de Hong Kong e descreveu a situação na antiga colónia britânica como “ameaçadora dos direitos e liberdades dos cidadãos” do território. Blinken disse que é “evidente que as autoridades de Hong Kong e de Pequim já não encaram a participação democrática, as liberdades fundamentais e os media independentes como parte” do percurso político da cidade.

A cerimónia de aniversário da transferência de soberania foi acompanhada por um enorme aparato de segurança para garantir o mínimo de perturbações. Foram proibidas quaisquer acções de protesto e elementos de algumas organizações políticas pró-democráticas foram interrogados pela polícia e as suas casas foram alvo de buscas na véspera, de acordo com o Guardian.

A entrada de jornalistas para cobrir o discurso de Xi foi altamente restringida, tendo sido permitido o acesso físico a repórteres de meios de comunicação previamente escolhidos pelas autoridades locais. Apesar da aproximação de uma tempestade tropical, os guarda-chuvas dos jornalistas foram confiscados à entrada do recinto – desde os protestos de 2014, conhecidos como a “Revolução dos Guarda-Chuvas”, que estes objectos ganharam um significado político indesejável para as autoridades locais.

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