Montenegro: rumo ao Durmitor, uma paisagem fascinante
Quem viaja para o Montenegro procura a sua admirável Riviera, à beira do Adriático. Envolta numa sublime paisagem montanhosa, oferece praias quase secretas, águas cálidas, mil e um recantos aprazíveis que apetece explorar. Mas este pequeno país é uma caixinha de boas surpresas. No seu interior, de natureza quase intocada, os atrativos multiplicam-se e há muito para descobrir. A leitora Antónia Matos Serôdio mostra-nos o caminho.
Não seria justo para os outros destinos da nossa road trip pelos Balcãs dizer que esta foi a etapa mais bonita da viagem, porque estivemos em lugares memoráveis como Plitvice, Pula, Mostar, Sarajevo ou Kotor. Mas o Durmitor foi, sem dúvida, especial e o mais surpreendente.
Explorados os prazeres do Adriático, alguns locais imperdíveis da baía, como a preciosa Kotor, Porto de Montenegro, Tivat, Buvda ou Sveti Stefan, seguimos rumo ao Durmitor. Até Zabljak, a vila no coração do Parque que escolhemos como base, são cerca de 180 quilómetros de belas paisagens.
Localizado no Norte do Montenegro, o Parque Nacional Durmitor faz parte dos Alpes Dináricos e é a maior área protegida deste pequeno, mas maravilhoso país. Declarado Património Mundial pela UNESCO, distingue-se por uma paisagem fascinante moldada por vários picos acima dos 2000 metros de altitude, 18 lagos de origem glaciar, lindas florestas alpinas e numerosos rios inseridos na Reserva da Biosfera da bacia do rio Tara.
O Parque pode ser visitado em qualquer altura do ano e cada época tem os seus atrativos. A primavera, o verão e o outono são mais propícios a caminhadas, o inverno aos desportos de neve.
Zabljak, rodeada pelos altos picos do Durmitor e as verdes florestas alpinas, surge dispersa por vastos campos floridos. No Hotel Pavlovic, um apartamento simples, mas muito confortável esperava-nos.
No centro da vila, o posto de turismo fornece mapas, sugestões e toda a informação necessária. Privilegiámos as caminhadas pelo Parque Crna Jezero e pela zona que envolve o desfiladeiro do Tara.
Crno Jezero, um cenário inspirador
O Crno Jezero tem 39 000 hectares de extensão, mas é mais conhecido pela beleza singular de um dos seus dois lagos, o Lago Negro. Junto ao Centro de Visitantes segue uma estrada ladeada pela frondosa floresta que nos conduz a um cenário de suster o ar, como se respirar quebrasse o encanto. Aninhado entre os picos da montanha e o denso arvoredo, ei-lo, o Lago Negro. Apenas se ouve a natureza, um galho de árvore que se solta, um pássaro que se anuncia, saltos de peixes no lago. A tonalidade da água vai mudando ao longo do percurso, mais azul se reflete o céu e o branco dos picos, mais verde se reflete o arvoredo. Um cenário sublime.
Miradouro de Curevac
Outro dos locais imperdíveis do Durmitor é o Miradouro de Curevac. Fica a cerca de 15 minutos de carro de Zabljak e oferece vistas soberbas sobre o desfiladeiro do Tara.
O Desfiladeiro de Tara, proclamado reserva ecológica mundial em 1977, é o maior desfiladeiro da Europa, com mais de 1500 tipos de flora e 130 tipos de aves. Há um trilho até ao miradouro, mas o mau tempo arrebatou-nos as vistas. Como recompensa, assistimos a uma repentina tempestade de nevoeiro. O fenómeno forma-se a partir do vale e em segundos atinge o topo da montanha, que fica imersa na neblina. Simultaneamente magnífico e assustador.
No final da tarde, o forno a lenha do hotel já fumegava, preparava-se um jantar. Curiosos, quisemos saber de que se tratava: assado de borrego. Nada mais retemperador e aconchegante para dois alentejanos encharcados do que um bom assado de borrego.
Ponte do Durdevića Tara
Uma passagem pelo Durmitor não fica completa sem a visita a um dos seus pontos mais emblemáticos: a Ponte do Durdevića Tara, sobre o grande desfiladeiro do rio Tara.
A ponte passa cerca de 150 metros acima do rio, e conta com cinco arcos, o maior dos quais com 116 metros. A sua construção terá tido início em 1937, de acordo com o projeto de Mijat Trojanović. É uma obra imponente, um belo monumento que com uma graça quase natural se distingue no verde exuberante. Lá em baixo, no fundo do desfiladeiro, o Tara ou a “Lágrima da Europa”, corre azul e apressado, formando rápidos.
Junto à ponte, pratica-se rafting e zipline. Há grande afluência de praticantes e algum comércio.
P14, a estrada cénica
A saída do Durmitor foi através da estrada cénica P14, 50 quilómetros de picos com mais de 2000 metros, vales ondulantes, campos floridos, ovelhas pelos montes e vacas pela estrada, casinhas coloridas aqui e ali. Um percurso em que paramos vezes sem conta e no final só apetece voltar para trás.
A P14 tem o seu final apoteótico junto a Pluzin, quando a montanha desce em direção ao desfiladeiro do rio Piva num cenário incrível e inesperado. Uma mancha verde parece emergir da rocha e ao fundo do vale o Piva, que nos recebe num intenso azul.
Que forma magnífica de nos despedirmos. Até já, Durmitor!
Antónia Matos Serôdio (texto e fotos)
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico