Krk: na Croácia, uma ilha separada do mundo
“Como uma criança a olhar pela primeira vez para o oceano, redescobri-me na tranquilidade do Adriático”, escreve o leitor Duarte Pacheco, que aqui nos leva à descoberta de uma ilha especial.
Começámos a percorrer o trajecto cedo, de Koper até Krk, uns 150 quilómetros. As estradas não eram as melhores e fazia um calor sufocante, mas, ao menos, tínhamos a companhia das gigantes montanhas cinza, no horizonte, do lado de fora da viatura. À medida que nos aproximávamos deste destino longínquo, a cidade revelou-se: pequenas casas de paredes caiadas e telhados em tijolo organizavam-se num caos de bairros separados por pequenos matagais. Agora os montes enormes encolheram, deixando-se atravessar pelos carros, numa reviravolta triste de conspurcação urbana do idílio montanhoso.
Finalmente, encontrámo-nos no nosso destino, Krk, na Croácia. Ao sair do carro, fui acolhido por uma brisa subtil a soprar para a costa, empurrando-me levemente na sua direcção — obedeci-lhe. Caminhámos, embebidos pelo clima quente e ameno. A cidade não é muito grande e, por conseguinte, qualquer ponto não dista mais de um quarto de hora ao mar. Ao chegar à ansiada praia, tive o meu primeiro encontro com as cristalinas águas de safira da costa croata. Como uma criança a olhar pela primeira vez para o oceano, redescobri-me na tranquilidade do Adriático. As fotografias não fazem jus ao esplendor dos tons esmeralda e azul-topázio, que dançavam calmamente até ser a sua vez de rebentar como onda, suave e preguiçosa. O solo cobria-se com rochas de tamanho médio (pouco menores que um punho fechado) que, no seu ócio soalheiro, armazenavam toda a energia que os raios solares oferecem, de forma a aquecer os pés à medida que as pisávamos.
Almoçámos num restaurante à beira do “areal”, que nitidamente visava alimentar os turistas, com as clássicas ementas com imagens, traduzidas para inglês, francês, italiano e alemão. A comida não me cativou, pois eu estava noutro lugar, por completo enlevado com a paisagem que observava.
Noutro dia, fomos a uma praia mais oculta. Saímos da vila e rumámos ao outro lado da ilha. Seguindo fielmente o mapa, fomos até ao final da estrada de terra batida e estacionámos. Prosseguimos a pé pelo pequeno bosque até avistarmos um edifício de tijolo, inacabado, abandonado, cheio de graffiti na sua base — o nosso ponto de referência. Seguimo-lo. Nesta praia havia menos espaço que na anterior, pois era limitada por formações rochosas e árvores. A minha curiosidade levou-me a investigar o que estaria por detrás de um rochedo, que bloqueava a continuidade do “areal” para a direita. Isto obrigou-me a entrar dentro de água — não que eu me importasse, estava sempre quente e sem ondas. O que descobri além do penedo foi um cantinho de beira-mar, deserto de gente. O mais pacato abrigo dos perigos da civilização moderna, esta pequena porção de pedras e água salgada emanava sossego. Todos os elementos que me rodeavam enchiam-me de contentamento só por estar naquele lugar. As formações rochosas; as árvores; o mar; algumas estruturas abandonadas, à distância — tudo isto se conjugava num quadro perfeitamente harmonioso. Esta fuga chegou ao fim com o pôr do Sol neste local pitoresco.
Duarte Pacheco