Depois da pandemia, sector dos casamentos volta a acreditar no “felizes para sempre”

Profissionais da área dos casamentos dizem já ter recuperado os clientes de antes da pandemia, com noivos desejosos por fazer a festa. A agenda para 2023 também está praticamente completa.

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Entre Janeiro e Março deste ano realizaram-se 2257 casamentos. Nathan Dumlao/Unsplash

Depois de a pandemia ter levado o sector dos casamentos quase à beira do precipício, este Verão os fornecedores confessam não ter mãos a medir com tantos pedidos — os casais parecem estar mais desejosos do que nunca de fazer a festa. A agenda do próximo ano também já está composta e até já estão a voltar os estrangeiros. “Tem sido a loucura total”, diz, sem rodeios, a wedding planner Maria do Rosário Pinho, da Bouquet de Liz, em Mira. Afinal, ainda há esperança para o “felizes para sempre” e, para quem acredita, talvez Santo António, cuja festa se celebra nesta segunda-feira, tenha dado uma ajuda.

Em 2020, celebraram-se 18.902 casamentos, menos 43,2% do que em 2019. No ano passado, quando a pandemia deu algumas tréguas, o número de matrimónio subiu para 29.057. Agora, a tendência ascendente parece manter-se em 2022 — entre Janeiro e Março deste ano, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), realizaram-se 2257 casamentos.

A recuperação é confirmada pelos profissionais do sector ouvidos pelo PÚBLICO. “Estamos a ter muita procura, até está a ser invulgar. Já temos a agenda praticamente fechada e continuamos a receber pedidos para este ano”, relata Sara Silva, fundadora da empresa de vídeos de casamento Colibri. Também a celebrante Filipa Martinho, da Celebrar Amor, confirma que os serviços têm sido mais requisitados e, só durante o mês de Junho, a empresa tem 17 casamentos.

Catarina Vassalo, joalheira, conta não só ter mais procura, como a curto prazo: “Os acessórios são algo que as noivas optam por escolher mais no final, às vezes com um mês de antecedência.” Tal dificulta o trabalho, já que a maioria das peças com assinatura Cata Vassalo são desenhadas de forma exclusiva e todas feitas de forma artes. “Este ano o que está a acontecer é que os noivos estão a marcar à última da hora”, corrobora a wedding planner Maria do Rosário Pinho.

Essa decisão de último minuto poderá ter várias explicações, entre a incerteza e a impulsividade, na opinião da empresária da Bouquet de Liz. “Durante muito tempo viveram a insegurança de não poder acontecer. Mas também acho que é uma questão geracional de quem está a casar agora e tem dificuldade em perceber que há coisas que levam tempo.” Maria do Rosário Pinho assegura que já alcançou (e até superou) os valores de 2019 — em média, anualmente, entre os vários serviços disponíveis, a empresa faz 150 casamentos.

Fruto da ansiedade para casar e dos exagerados tempos de espera para muitos espaços de eventos, a designer de vestidos de noiva, Pureza Mello Breyner, tem uma perspectiva diferente das colegas Catarina Vassalo e Maria do Rosário Pinho e observa que as clientes chegam cada vez com maior antecedência. “Tenho noivas de Setembro de 2023 a querer marcar e não consigo atendê-las.” Ainda tem algumas noivas a casar desde 202o à semelhança das restantes colegas e faz mais de 100 vestidos por ano.

A braços com a procura elevada, têm surgido outros problemas. “A matéria-prima subiu para valores disparatados”, diz Maria do Rosário Pinho. A inflação também chegou ao sector dos casamentos que se vê a braços com uma escassez de materiais, logo, a custos elevados, desde os produtos para o catering às flores, passando pela mão-de-obra, queixa-se a empresária.

Só há um elemento que, na opinião da empresária da Bouquet de Liz, ainda não recuperou totalmente, os casamentos de estrangeiros em Portugal. “Era um mercado em alta antes da pandemia. Está a retomar. Mas está longe do que era”, reconhece. Contudo, a videógrafa Sara Silva, da Colibri, com cerca de 40 casamentos na agenda, confirma que tem recebido muitos pedidos de fora de Portugal, sobretudo para o próximo ano e antecipa que estejam “a voltar em força”.

Há tendências fruto da pandemia?

Da pandemia ficam as cicatrizes ainda a sarar dos prejuízos financeiros. Seria de pensar que permanecesse a tendência para festas mais pequenas, só com a família e amigos mais próximos, mas Maria do Rosário Pinho diz que rapidamente se voltou aos números de antes (média de 100 a 150 convidados). “Estou a fazer festas como nunca fiz, coisas incríveis na decoração e animação. Temos produções ao nível de espectáculos, mas sempre muito sofisticadas e cuidadas”, assegura.

Na decoração destaca os arranjos suspensos e as iluminações que “vieram para ficar”. A atenção ao detalhe é cada vez mais importante, com foco nos tecidos e nos acessórios. “Nunca senti este nível de detalhe em 22 anos de empresa. Democratizou-se o luxo”, sublinha. Pureza Mello Breyner concorda e garante que o vestido da noiva faz parte dessa dimensão de espectáculo, com as peças transformáveis a ganhar cada vez mais terreno. “Chego a ter vestidos de quatro peças que vão mudando ao longo da noite”, relata. E a tendência estende-se aos acessórios, conta a joalheira Catarina Vassalo: “As peças que tenho vendido mais são as coloridas e arrojadas.”

Já a designer Rita Patrocínio aponta como tendências nos vestidos de noiva também os espartilhados com corpetes, mas acredita que, regra geral, as noivas portuguesas são muitos tradicionais e preferem os vestidos simples com alguns apontamentos de renda. Contrariando a crise do sector, lançou o negócio de um atelier de noivas em plena pandemia. Nesses primeiros tempos começou por fazer máscaras ou outras peças mais pequenas e só no ano passado teve as primeiras clientes. “Foi assustador. Um sonho que pode ter pernas para andar tornou-se um pesadelo”, recorda.

Para este Verão tem 15 noivas e muitos vestidos de convidadas, uma categoria também em crescimento. “Especialmente quando é alguém muito próximo, querem sentir-se bonitas e diferentes. Se for de pronto-a-vestir alguém pode ter um vestido igual”, lembra Rita Patrocínio. No atelier em Campo de Ourique, Lisboa, também já estão a todo o vapor as reuniões com as noivas de 2023, “um cliente muito antecipado”.

As novas cerimónias

Mas há uma grande tendência a destacar nos últimos anos na indústria dos casamentos ─ além da sustentabilidade: a dos celebrantes. Trata-se de alguém que celebra o casamento, numa alternativa às celebrações civis ou religiosas. “É para casais que não se identificam com a cerimónia religiosa, mas sentem que o casamento civil se torna muito impessoal e frio”, explica Filipa Martinho, da Celebrar Amor. No fundo, trata-se de uma cerimónia simbólica para quem procura algo “personalizado e emocionante”, acrescenta.

A wedding planner Maria do Rosário Pinho confirma o crescimento destas cerimónias entre os casais que a procuram e querem uma cerimónia que lhes seja directamente dirigida. A profissional observa também cada vez menos casamentos católicos e elogia que estas opções simbólicas sejam uma boa opção para casais, por exemplo, que têm diferentes crenças religiosas.

É possível ter vários tipos de cerimónia simbólica, com valores a rondar entre os 500 e 600 euros, mas todas têm em conta a história pessoal do casal e envolvem a família e os amigos. Além disso, contemplam quase sempre a troca de votos entre os noivos, uma tradição dos Estados Unidos, mas que tem crescido em Portugal. A maioria dos casais já celebrou o matrimónio civil antes do dia da festa, optando por trocar as alianças apenas nesse momento. Mais uma solução à medida, num sector que percorre um caminho com cada vez maior foco na personalização.

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