Rainha Letizia e professora vestidas de igual numa cerimónia. O que fazer quando isso acontece?
Quando encontrar “uma cópia” num evento deverá encarar a situação com humor, propondo até que tirem uma fotografia em conjunto, aconselham os especialistas em etiqueta, protocolo e imagem Gabriela Pinheiro, Mónica Lice e Vasco Ribeiro.
A rainha espanhola Letizia preparava-se para entregar um prémio numa cerimónia em Mérida, nesta quarta-feira, quando se deparou com uma das vencedoras a usar um vestido igual ao seu. A situação já terá acontecido a muita gente, e o que se faz nestas ocasiões? Finge-se que não se viu ou fala-se do tema com humor? A rainha optou pela segunda. Ouvidos pelo PÚBLICO, os especialistas em etiqueta, protocolo e imagem garantem que é a atitude correcta.
No vídeo dos prémios epónimos do Conselho Real sobre Deficiência — que promovem o esforço de pessoas, empresas e instituições para a inclusão — vê-se a rainha divertida, a abraçar e até a posar com Inmaculada Vivas, professora catedrática de Direito Civil, na Universidade de Sevilha. As duas estão com um vestido igual preto e branco da marca espanhola Mango — custa 49,99€ e já se encontra esgotado na loja online.
Vasco Ribeiro, especialista em protocolo e etiqueta, elogia a postura da mulher de Felipe VI, que agiu de “forma natural e descontraída”. Deverá ser esse o comportamento a adoptar quando se encontra alguém vestido da mesma maneira num evento, defende o autor de Etiqueta Moderna: “Não devemos ficar constrangidos, envergonhados ou tão-pouco atrapalhados.” A reacção deverá assentar no humor e na boa disposição. Numa festa maior poderá tentar ignorar a situação, especialmente se não conhecer a sua “cópia”.
A consultora de imagem Mónica Lice concorda e aconselha a que se mimetize precisamente o comportamento de Letizia: “Devemos rir-nos da situação. Comentar o bom gosto que temos em comum. Mesmo que, por dentro, estejamos aborrecidos por tal ter acontecido.” A stylist Gabriela Pinheiro propõe que se tire uma fotografia com a outra pessoa. “Além disso, hoje ter roupas iguais é sinal de bom gosto. Sobretudo porque as pessoas não estão 100% idênticas. Resta saber quem está melhor”, diz, com humor.
Ainda que alguns prefiram levar um coordenado de reserva para quando acontecem situações destas, Mónica Lice diz não aconselhar essa opção. Já Gabriela Pinheiro relata ter vivido um episódio semelhante com uma das suas clientes e mudou o styling do coordenado no momento, trocando o casaco. Por isso, propõe que se coloque um lenço ou uma echarpe, por exemplo, de forma criativa e o visual passará a ser distinto.
Em localidades mais pequenas e até eventos mais reduzidos, Mónica Lice reconhece que a situação é mais fácil de contornar e até diz que há lojas que fazem registos de onde é para ser usada a peça comprada. A stylist de figuras públicas também dá este exemplo: “É obrigatório perguntar sempre na loja se há registo daquele vestido já ter sido comprado para um evento.”
É claro que tal não é reproduzível em lojas de centros comerciais e de fast-fashion, onde a venda é impessoal. Comprar uma peça da nova colecção destas marcas, fácil de encontrar , é meio caminho andado para vivenciar um embaraço semelhante ao de Letizia, que é conhecida por usar e abusar de roupas produzidas pelos grupos espanhóis Mango e Inditex — dono de marcas como a Zara e a Massimo Dutti. A estratégia da rainha, lembra Gabriela Pinheiro, é uma forma de provar que “o estilo não está no custo da peça”.
Conselhos para prevenir encontrar uma sósia
Ainda assim, a stylist propõe que se a pessoa quer usar uma peça de fast-fashion num evento, deve deixas passar seis meses a um ano entre o momento de compra e o dia que a vai usar. “Especialmente se são peças com estampado. Se quiser usar logo o que comprou, opte pelos lisos com um styling diferente”, sugere. Mónica Lice lembra que há estampados intemporais, como os florais mais clássicos e que podem ser uma boa aposta para casamentos, particularmente se forem em tecidos “mais sofisticados”, como a seda.
Se possível, a pessoa deve evitar as lojas mais populares e optar por marcas mais pequenas, sobretudo nacionais, não só com maior qualidade, como com produções mais reduzidas, aconselha a consultora de imagem. Por seu lado, Gabriela Pinheiro reforça a importância de privilegiar o que é nacional e recomenda igualmente projectos internacionais emergentes com coordenados de festa menos comuns — na sua opinião, uma boa opção para compras de última hora.
O segredo para nunca ter alguém vestido de igual poderá estar mesmo na personalização, acreditam as duas especialistas. Para quem tem tempo e disponibilidade financeira, fazer uma peça por medida é a solução perfeita. Mas os arranjos e alterações também são uma opção eficaz. Basta mudar uma manga, cortar o comprimento, alterar o decote ou cintar mais o vestido e será uma peça nova. “As pequenas modificações tornam aquela peça mais exclusiva, só nossa”, defende Gabriela Pinheiro.
Mas antes de comprar não se esqueça de o que já tem em casa. “Se tivermos uma base de vestidos de cerimónia de qualidade, não é preciso comprar um novo em cada festa. O mesmo vestido pode ser usado em várias ocasiões com acessórios diferentes”, lembra Mónica Lice. Gabriela Pinheiro vai mais longe: “É possível fazer arranjos maravilhoso que dão uma nova vida, como tingir o tecido ou ir a uma costureira para fazer alterações sem gastar muito.” Além disso, a pessoa não se preocupar se o vestido já tem dez ou 15 anos, afinal, a moda é cíclica.
E por isso mesmo, Mónica Lice dá uma última sugestão: “A segunda mão está em forte crescimento e é um óptimo sítio para se fazer boas compras.” Quem sabe “em vez de comprar um vestido novo, compra um Carolina Herrera mas ao mesmo preço”, destaca a consultora de imagem. Aí a probabilidade de encontrar uma cópia é quase nula e a pessoa pode ir para a festa de consciência tranquila, a dar cartas no estilo e na sustentabilidade, em simultâneo, termina.