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A longa viagem dos madeireiros pela Nigéria, onde a pobreza é mãe da desflorestação

Na Nigéria, enquanto uma árvore morta tiver mais valor do que uma viva, os madeireiros não irão dar descanso às suas serras. Entre 2001 e 2021, o país perdeu 1,14 milhões de hectares de área florestal, o que equivale a 11% de decréscimo de área verde no país. A Reuters acompanhou os madeireiros e trouxe um retrato de um país em mudança.

Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, retira os seus troncos da floresta inundada até ao rio, em Ipare, no estado de Ondo, Nigéria. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
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Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, retira os seus troncos da floresta inundada até ao rio, em Ipare, no estado de Ondo, Nigéria. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri

Na Nigéria, enquanto uma árvore morta tiver mais valor do que uma viva, os madeireiros não irão dar descanso às suas serras. Egbontoluwa Marigi, madeireiro de 61 anos, corta metodicamente mais um mogno da floresta Ebute, na aldeia de Ipare, no estado de Ondo, na Nigéria. O estrondoso som da sua queda não condiciona a sua busca pela próxima vítima. “No tempo dos nossos antepassados, havia árvores enormes, mas, tristemente, o que temos hoje são apenas pequenas árvores às quais não se permite que cresçam antes de serem cortadas, disse à Reuters.

Entre 2001 e 2021, a Nigéria perdeu 1,14 milhões de hectares de área florestal, o que equivale a 11% de decréscimo de área verde no país e a 587 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono, de acordo com a Global Forest Watch, uma plataforma que monitoriza as florestas de todo o mundo. Seja para consumo doméstico ou exportação, para criação de zonas aráveis ou para responder às necessidades energéticas da (crescente) população, o corte de árvores em curso na Nigéria está a colocar em risco a sua biodiversidade e a empenhar o seu futuro. Proteger a floresta significa proteger-nos a nós próprios, diz Femi Obadun, director da gestão florestal do Ministério da Agricultura do estado de Ondo. Quando destruímos a floresta, destruímos a Humanidade.

Magiri tem consciência da necessidade de preservação da floresta, mas a sua prioridade é outra: sustentar a sua família. Dantes conseguíamos cortar mais de 15 árvores num só local, mas hoje se encontrarmos duas será uma bênção, lamenta. O abate ilegal de árvores tem consumido a floresta de forma insustentável, sem deixar espaço para a sua renovação. Ciente disto, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari anunciou a criação de um fundo destinado à regeneração florestal do país.

Após o abate das árvores, Magiri trata de empurrar os troncos através das clareiras da floresta inundada até às margens do rio, onde serão agrupados, formando jangadas que serão, às centenas, rebocadas por um barco a motor. De noite, durante a viagem até Lagos, não dormimos, explica o madeireiro, à Reuters. Monitorizamos os troncos e certificamo-nos que eles não se desprendem do barco de reboque. As paragens, de Ondo até à capital da Nigéria, são imensas. Em cada ponto do percurso são acrescentadas à carga do barco a motor dezenas ou centenas de jangadas, compostas por 20 a 30 troncos.

Durante a viagem, os madeireiros mantêm-se vigilantes, debaixo de abrigos que são colocados sobre os troncos que flutuam nas águas. Partilham comida e canções durante a viagem até Lagos. A partir de Lagos, a madeira segue o seu curso: fogueiras para os nigerianos que não conseguem suportar os custos da energia eléctrica ou dos combustíveis, serrarias, pontos de comércio ou outros barcos que rumam a outras paragens.

Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, posa para a fotografia com o seu machado durante o corte de árvores, na floresta de Ipare, no estado de Ondo, Nigéria. Janeiro de 2022
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, posa para a fotografia com o seu machado durante o corte de árvores, na floresta de Ipare, no estado de Ondo, Nigéria. Janeiro de 2022 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye corta uma árvore com uma motosserra, em Ipare, Ondo, Nigéria. Março de 2021
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye corta uma árvore com uma motosserra, em Ipare, Ondo, Nigéria. Março de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Kayode Ikuejamoye descansa um pouco do seu ofício, o corte de árvores, em Ipare, Ondo, Nigéria. Maio de 2021
Madeireiro Kayode Ikuejamoye descansa um pouco do seu ofício, o corte de árvores, em Ipare, Ondo, Nigéria. Maio de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye corta uma árvore enquando Bayo observa, na floresta, em Ipare, Ondo, Nigéria. Outubro de 2021
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye corta uma árvore enquando Bayo observa, na floresta, em Ipare, Ondo, Nigéria. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye bebe água de um galho de árvore, em Ipare, Ondo, Nigéria. Março de 2021
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye bebe água de um galho de árvore, em Ipare, Ondo, Nigéria. Março de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, arrasta um tronco através da floresta inundada, em Ipare. Outubro de 2021
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, arrasta um tronco através da floresta inundada, em Ipare. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye organiza os troncos no rio em Ipare, Ondo, Nigéria. Depois de cortarem as árvores, os madeireiros arrastam os troncos para fora das áreas inudadas da floresta até ao rio, onde serão transformadas em jangadas que irão facilitar o seu transporte até Lagos. Outubro de 2021
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye organiza os troncos no rio em Ipare, Ondo, Nigéria. Depois de cortarem as árvores, os madeireiros arrastam os troncos para fora das áreas inudadas da floresta até ao rio, onde serão transformadas em jangadas que irão facilitar o seu transporte até Lagos. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye descansa um pouco do esforço de empurrar os troncos da floresta inundada até ao rio, onde os troncos são agrupados para serem transportados até Lagos. Outubro de 2021
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye descansa um pouco do esforço de empurrar os troncos da floresta inundada até ao rio, onde os troncos são agrupados para serem transportados até Lagos. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, pesca com os seus amigos em Ipare, Ondo, Nigéria. O ritmo elevado de desflorestação conduziu a uma redução do lucro dos madeireiros, que agora têm de dedicar-se a outros ofícios para garantir o seu sustento. Maio de 2021
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, pesca com os seus amigos em Ipare, Ondo, Nigéria. O ritmo elevado de desflorestação conduziu a uma redução do lucro dos madeireiros, que agora têm de dedicar-se a outros ofícios para garantir o seu sustento. Maio de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Bolaji Ikuejamoye usa um machado para apertar uma junta solta enquanto viaja do estado de Ondo até ao estado de Lagos, Nigéria. Os troncos são transformados em jangadas e transportados juntos através dos canais de água que partem de diferentes parte do país até Lagos, a capital comercial do país. Dezembro de 2021
Madeireiro Bolaji Ikuejamoye usa um machado para apertar uma junta solta enquanto viaja do estado de Ondo até ao estado de Lagos, Nigéria. Os troncos são transformados em jangadas e transportados juntos através dos canais de água que partem de diferentes parte do país até Lagos, a capital comercial do país. Dezembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye conversa com habitantes de Ipare enquanto arrasta os seus troncos no rio. Outubro de 2021
Madeireiro Komiyo Ikuejamoye conversa com habitantes de Ipare enquanto arrasta os seus troncos no rio. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Elewuro, o capitão do barco de reboque, controla a colecção de jangadas atreladas ao seu barco, em Ipare, no estado de Ondo, Nigéria. Depois de agruparem os seus troncos em jangadas, vários madeireiros unem-se para alugar um barco de reboque que é utilizado para transportar os troncos através das águas até ao estado de Lagos. Novembro de 2021
Elewuro, o capitão do barco de reboque, controla a colecção de jangadas atreladas ao seu barco, em Ipare, no estado de Ondo, Nigéria. Depois de agruparem os seus troncos em jangadas, vários madeireiros unem-se para alugar um barco de reboque que é utilizado para transportar os troncos através das águas até ao estado de Lagos. Novembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Sunday posa para uma fotografia enquanto o capitão do barco de reboque, Elewuro, pode ser visto através da janela enquanto se movimentam em direcção a Lagos. Novembro 2021
Sunday posa para uma fotografia enquanto o capitão do barco de reboque, Elewuro, pode ser visto através da janela enquanto se movimentam em direcção a Lagos. Novembro 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Um barco de reboque puxa uma linha de jangadas de troncos em Ipare, Ondo, Nigéria. Fotografia tirada com drone em Novembro de 2021
Um barco de reboque puxa uma linha de jangadas de troncos em Ipare, Ondo, Nigéria. Fotografia tirada com drone em Novembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Um barco de reboque puxa uma cadeia de jangadas de troncos, em Lagos, Nigéria. Depois da partida em Ipare, o reboque pára em vários lugares para transportar mais madeireiros cujas jangadas se fixam às já transportadas. Um só barco de reboque é capaz de puxar até mil jangadas, contendo cada uma aproximadamente 30 troncos. Fotografia tirada com um drone em Dezembro de 2021
Um barco de reboque puxa uma cadeia de jangadas de troncos, em Lagos, Nigéria. Depois da partida em Ipare, o reboque pára em vários lugares para transportar mais madeireiros cujas jangadas se fixam às já transportadas. Um só barco de reboque é capaz de puxar até mil jangadas, contendo cada uma aproximadamente 30 troncos. Fotografia tirada com um drone em Dezembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Egontoluwa Marigi, de 61 anos, sentado sob um abrigo na sua jangada de troncos que viaja do estado de Ondo até à Lagoa de Lagos, na Nigéria. Dezembro de 2021
Egontoluwa Marigi, de 61 anos, sentado sob um abrigo na sua jangada de troncos que viaja do estado de Ondo até à Lagoa de Lagos, na Nigéria. Dezembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Egbontoluwa Marigi lê a bíblia com a ajuda de uma lanterna, no abrigo que foi construído sobre uma das jangadas de troncos que são transportadas até Lagos. Novembro de 2021
Madeireiro Egbontoluwa Marigi lê a bíblia com a ajuda de uma lanterna, no abrigo que foi construído sobre uma das jangadas de troncos que são transportadas até Lagos. Novembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, fuma um cigarro num abrigo feito sobre as jangadas de troncos, em trânsito do estado de Ondo até ao estado de Lagos, na Nigéria. "No tempo dos nossos antepassados, havia árvores enormes, mas, tristemente, o que temos hoje são apenas pequenas árvores às quais não se permite que cresçam antes de serem cortadas", disse Marigi à Reuters. Dezembro de 2021
Madeireiro Egbontoluwa Marigi, de 61 anos, fuma um cigarro num abrigo feito sobre as jangadas de troncos, em trânsito do estado de Ondo até ao estado de Lagos, na Nigéria. "No tempo dos nossos antepassados, havia árvores enormes, mas, tristemente, o que temos hoje são apenas pequenas árvores às quais não se permite que cresçam antes de serem cortadas", disse Marigi à Reuters. Dezembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Jangadas feitas de troncos, transportadas de Onde até outras partes do país, são vistas na Lagoa de Lagos, perto da serraria Ebute Metta, em Lagos. Este é o destino final das madeiras que provêm de Ondo. Aqui, os troncos serão processados e transformados em tábuas e vendidas a fabricantes e a consumidores. Outubro de 2021
Jangadas feitas de troncos, transportadas de Onde até outras partes do país, são vistas na Lagoa de Lagos, perto da serraria Ebute Metta, em Lagos. Este é o destino final das madeiras que provêm de Ondo. Aqui, os troncos serão processados e transformados em tábuas e vendidas a fabricantes e a consumidores. Outubro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Jangadas feitas de troncos transportadas desde o estado de Ondo até outras partes do país na Lagoa de Lagos, nas proximidades da serraria de Ebute Metta, em Lagos, Nigéria. Novembro de 2021
Jangadas feitas de troncos transportadas desde o estado de Ondo até outras partes do país na Lagoa de Lagos, nas proximidades da serraria de Ebute Metta, em Lagos, Nigéria. Novembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Jangadas feitas de troncos transportadas desde o estado de Ondo até outras partes do país na Lagoa de Lagos, nas proximidades da serraria de Ebute Metta, em Lagos, Nigéria. Dezembro de 2021
Jangadas feitas de troncos transportadas desde o estado de Ondo até outras partes do país na Lagoa de Lagos, nas proximidades da serraria de Ebute Metta, em Lagos, Nigéria. Dezembro de 2021 REUTERS/Nyancho NwaNri
Trabalhadores da serraria transportam troncos para fora da Lagoa de Lagos, na serraria de Ebute Metta, em Lagos, Nigéria. Janeiro de 2022
Trabalhadores da serraria transportam troncos para fora da Lagoa de Lagos, na serraria de Ebute Metta, em Lagos, Nigéria. Janeiro de 2022 REUTERS/Nyancho NwaNri
Trabalhador opera uma serra industrial na serraria de Ebute Metta, no estado de Lagos, na Nigéria. Janeiro de 2022
Trabalhador opera uma serra industrial na serraria de Ebute Metta, no estado de Lagos, na Nigéria. Janeiro de 2022 REUTERS/Nyancho NwaNri