Pintura de Domingos Sequeira Moeda de César sem comprador em leilão em Lisboa

Proveniente de uma colecção privada, este óleo sobre tela foi o primeiro que Sequeira pintou em Roma. No mesmo leilão foram vendidas, entre outras, obras de pintores portugueses como João Vaz ou Carlos Reis.

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Domingos Sequeira começou esta pintura, "Moeda de César" , em 1789, quando, ainda em início de carreira, estava em Roma com uma bolsa DR

A pintura Moeda de César, de Domingos Sequeira (1768-1837), ficou sem comprador num leilão presencial realizado na segunda-feira à noite, em Lisboa, indicou esta terça-feira à agência Lusa a Cabral Moncada Leilões.

Proveniente de uma colecção privada, o óleo sobre tela, criado na fase inicial da carreira de Domingos Sequeira, foi à praça com uma base de licitação de 45 mil euros, mas “não foi alvo de nenhuma licitação”, segundo a mesma fonte da leiloeira.

No leilão foram vendidas, entre outras, obras de pintores portugueses como João Vaz (1859-1931), o óleo sobre tela Pedra furada, Setúbal, por 60 mil euros, e de Carlos Reis (1863-1940) Interior — Homem sentado junto à lareira, por 40 mil euros.

Moeda de César, de Domingos Sequeira, foi exibida em 1998, na exposição temporária Sequeira 1768-1837. Um Português na Mudança dos Tempos, organizada pelo Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, a entidade que possui a maior colecção de peças do autor, globalmente (cerca de 770 desenhos e 45 pinturas no acervo), segundo o museu.

Iniciado em 1789, este óleo sobre tela foi o primeiro que Sequeira pintou em Roma, inspirado num tema dos Evangelhos, e terá chegado a Lisboa para ofertar à rainha Maria I, em 1791, desconhecendo-se depois o seu paradeiro. Mais tarde, o quadro foi descoberto e adquirido em Lisboa, nos anos 1950, por António Loureiro Borges — antigo secretário de Estado adjunto do ministro das Finanças e do Plano, na década de 1980, e administrador do Banco de Portugal, que morreu em 1991 — tendo permanecido na posse da família.

O trabalho de Domingos Sequeira situa-se entre o Classicismo e o Romantismo, de um modo similar ao espanhol Francisco de Goya (1746-1828). Devido ao seu talento, Domingos Sequeira conseguiu protecção aristocrática e uma bolsa para se aperfeiçoar em Roma, onde privou com vários mestres e conquistou diversos prémios académicos.

O MNAA é a entidade que possui o maior número de desenhos e pinturas do artista, entre elas Adoração dos Magos, sobre o qual foi aberto, pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), em 2021, um processo de classificação como bem de interesse nacional. Exposto ao público no MNAA, desde Julho de 2016, depois de dois meses de restauro pelos técnicos da instituição, com mais sete pinturas de Domingos Sequeira, a obra foi alvo de um trabalho profundo de investigação e recuperação, depois de ter sido adquirida numa campanha pública de donativos.

Em 2015, a campanha de angariação de fundos para aquisição da tela Adoração dos Magos atingiu um total de 745.623,40 euros, ultrapassando largamente os 600 mil euros necessários para a aquisição, anunciados na altura. Esta foi a primeira campanha em Portugal de angariação de fundos para a aquisição de uma obra de arte para um museu público, e contou com a contribuição de milhares de cidadãos a título individual, instituições, empresas, fundações, escolas, juntas de freguesia e câmaras municipais, cujos nomes se encontram impressos em tela, à altura da escadaria de acesso ao piso onde se encontra o quadro.