A história de Anamare, uma mãe vítima de alienação parental
A alienação parental surge, muitas vezes, quando os pais estão implicados num processo de separação ou divórcio conflituoso e um dos pais (mãe ou pai) expõem os filhos/filhas a comportamentos parentais alienantes, com dinâmicas violentas e ofensivas, em que os filhos se aliam fortemente a um dos pais, em consequência da manipulação psicológica perpetrada pelo mesmo.
Este é mais um testemunho real de uma mãe, Anamare (nome fictício), sobre a tristeza, a dor e o desespero decorrentes de um processo de alienação parental da sua filha pelo pai, um entre muitos casos que acontecem diariamente no nosso país.
A alienação parental surge, muitas vezes, quando os pais estão implicados num processo de separação ou divórcio conflituoso e um dos pais (mãe ou pai) expõem os filhos/filhas a comportamentos parentais alienantes, com dinâmicas violentas e ofensivas, em que os filhos se aliam fortemente a um dos pais, em consequência da manipulação psicológica perpetrada pelo mesmo, fazendo com que os filhos, rejeitem, muitas vezes, com agressividade, estar com o outro pai/mãe. Esta alienação tem por objetivo eliminar para sempre o outro pai/mãe da vida dos filhos em comum, utilizando manifestações de sentimentos muito desapropriadas, sem razão e justificação, face ao que antes foi um relacionamento saudável.
Neste exemplo, Anamare relata a lealdade da filha a um pai abusivo: “Permaneceu num ambiente alienante e, neste momento, manifesta a sua fidelidade a um dos progenitores como uma vitória e conquista da sua vida”. Anamare é uma mãe que sente a sua filha aprisionada numa aliança de fidelidade “doentia” ao pai: “Vejo metaforicamente a minha filha a fechar-se dentro da gaiola de um pássaro por dentro e olhar-me pequena e encurvada, e eu não consigo trespassar as grades. Diz que prefere ficar ali, aprisionada porque não quer ser livre. Informa-me que gosta de mim, mas manifesta sempre o contrário”. São defesas psicológicas de distanciamento e fuga, as atitudes que a filha de Anamare toma em relação à mãe: “Relato ao telefone uma das experiências mais fascinantes à minha filha de 12 anos que sei que é apaixonada por tal, e o que oiço é: É só isso?!, não tenho nada a contar mãe, podemos desligar?”
A filha de Anamare é uma vítima indefesa de mau trato psicológico, utilizada como instrumento de agressividade de um pai alienador, porque é induzida por este a abandonar, a desqualificar a mãe que ela ama, procurando provocar a desarmonia de sentimentos e destruição do vínculo existente entre ambas: “Mas esta e tantas outras crianças, são aprisionadas pelo ‘amor’ doentio de um dos pais, utilizadas para rasurar o outro, ferir, denegrir, circunscrever e afastar permanentemente de quem as esteve no seu útero, ligados, interconectados”.
Os filhos alienados que usam palavras e discursos que não são os seus, e encenam conflitos, num estado psicológico fusional, com o pai/mãe alienante: “Argumenta com todas as frases construídas e replicadas por discursos que ouvi na boca de outros acusantes em audiências de Tribunal de Família e Menores, que li em diversos requerimentos durante estes quatro anos”.
Instala-se um sofrimento de injustiça, a dor da separação, a dor de perda de uma mãe: “O tribunal separa-nos em pleno verão, no dia que ia buscar a minha filha para passar a quinzena. Tínhamos planos. Deixámos de ter. Passei o verão quente de 2018 a ver famílias felizes junto ao mar. Eu tinha um mar de lágrimas interior”. Acompanha-a um sentimento de rejeição: “Sou eu a quem proibiram de continuar a viver como família. Sou a rejeitada”.
Mães e Pais maltratados pelos filhos manipulados, escorraçados da convivência com eles: “Afastada e rejeitada pelo seu único amor.” São pais que encetam uma luta dolorosa que leva a exaustão: “Cansada. Mas só uma mãe pode ser exausta a uma causa que embora pareça perdida, e que passados anos de luta e sofrimento, continua. Procurando, vivendo, construindo, nutrindo”. Uma fadiga que, nalguns dias, traz a descrença: “Mesmo recebendo da sua parte tantas desculpas, recusas e a necessidade de não comunicar, como poderei eu como mãe, continuar a enlaçar este amor, a vivificar este cordão que por alienação apodrece, rompe, numa incerteza de que um dia poderá acontecer uma natural e verdadeira retoma de afeto”, mas a que se consegue também resistir, nunca deixando de acreditar: “Mas eu, continuo a acreditar que é importante defender os seus direitos, os nossos direitos de liberdade e de escolha”. Estas mães e pais não desistem de lutar, porque o amor pelos filhos é incondicional, aconteça o que aconteça estão lá para eles, na expetativa de que no presente e no futuro seja ainda possível estarem de novo juntos: “Sou eu que visto todas as camadas para que no Encontro e Desencontro com a minha filha estejamos bem”.
Os comportamentos parentais alienantes são evidências observáveis e mensuráveis dentro das famílias, mas pouco intervencionados: “Todos sabem, todos percebem, mas a criança continua a ser observada, inquirida, maltratada pelo sistema que não resolve, mas perpetua o seu estado alienado”. E por isso os pais sentem-se sozinhos: “com uma vontade de romper, com uma dor exausta de avançar e recuar. Um sentimento defraudado de não ter recebido ajuda quando a pedi, e da criança continuar a ser manipulada e ter aprendido a manipular”.
A alienação parental, é uma forma de violência doméstica, que deixa golpes e escoriações invisíveis, nos filhos e pais alienados: “Sou eu e somos nós as duas, que temos as marcas das feridas de uma violência continuada no corpo interior, no ardor do sangue que corre nas veias e inunda toda a superfície”. Feridas que decorrem de uma parentalidade patológica, composta da invenção de falsas histórias, falsas queixas, de falsos acontecimentos sobre a mãe alienada: “Continuando a denegrir a imagem da mãe (no casamento e após), é por prevenção o Tribunal retira, afasta, empodera o pai e a sua relação”.
Anamare sente a tristeza e a saudade do tempo perdido, do tempo roubado, que nunca volta atrás: “Tenho saudades. As lágrimas escorregam-me dos olhos. Este tempo não voltará”.