Com o afrouxar da pandemia, nos últimos meses, já se realizaram vários festivais em Portugal, mas só agora regressam os grandes eventos de música Primavera-Verão. O Nos Primavera Sound abre caminho, impaciente como se fosse a primeira vez. Os espectadores também: lotação quase esgotada, 35 mil espectadores para cada um dos três dias de música (idem para Vitor Belanciano e Mário Lopes, que se ocuparam deste dossier)
Há Nick Cave, há Pavement, há Little Simz... veja aqui
E depois veja quem regressa até Setembro: os festivais de massas, os que fazem corpo com a sua localidade, os de rock e pop, os de músicas do mundo, os de metal.
Música, ainda: cinco anos depois de se juntarem, Lila Tiago e João Caçador, o Fado Bicha, editam o álbum de estreia Ocupação. Um disco de homenagem, de partilha, de evocação e de resistência. Tudo embrulhado num pacote de fado puro com influências de pop, música de dança e electrónica. “Viva às bichas! Viva às putas!”. Entoam esta frase num misto de celebração, resistência e afirmação. O “viva!” que cantam é de vida, de viver. De rejeitar a morte imposta. Morte física, psicológica, cultural ou emocional.
É um nome a seguir, pelo humor negro com que enfrenta a existência. Em Mãe Para Jantar cria uma comunidade canibal em extinção para falar do outro, de Deus, da família, de culpa e de castigo. É o humor que vem do sofrimento, inspirado em Kafka ou Beckett.
“Deus continua a ser Deus, continua a ser lunático. É estranho ser-se criado na ideia de que o ser que controla o mundo tudo o que quer fazer é julgar e punir. E temos de rezar para ele; e é um ele; e é branco com umas barbas. É uma loucura. É como crescer numa zona de guerra, não há um momento em que possamos descontrair. Algumas pessoas conseguem perceber a idiotice. Eu não acredito nisso"
Isabel Lucas falou com o escritor Shalom Auslander, que começa por se recordar do dia em que o seu amigo Philip Seymour Hoffman morreu...
Não deixamos os livros sem vos entregar este ramalhete rubro de sangue e fogo, de humor e vida: Contos de Odessa de Isaac Babel
A partir de um pássaro em vias de extinção, o cantor da floresta brasileira, Marcelo Evlin, o coreógrafo de Teresina, criou Uirapuru, peça em que se desvia do habitual “corpo com corpo, carne com carne” dos seus trabalhos para pôr em palco uma coreografia minimalista e “invocativa”. Para ver no Teatro Campo Alegre, esta sexta e sábado.
Começou um ciclo importante na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa: A. Arrietta. É, ainda hoje, um dos nomes mais raros, mais secretos do cinema europeu, e os seus filmes de am(ad)or parecem deliciar-se em justificar esse segredo. Até 9 de Junho, oportunidade para descobrir um autor em estado de graça.
E last but not the least
Precisamente 40 anos depois da sua estreia em competição no Festival de Cannes, quatro anos depois da versão restaurada pela Cinemateca Portuguesa ter tido a sua 1.ª apresentação de novo nesse festival, na secção Cannes Classics, eis que volta, em sala e também em DVD e nas plataformas digitais, esse filme desmesurado e ímpar que é A Ilha dos Amores de Paulo Rocha, acompanhado do seu “complemento” documental, A Ilha de Moraes — mas é obrigatório ter a experiência em sala, como escreve Augusto M. Seabra na sua crónica.