Guerra na Ucrânia
Mães e filhos, separados “dos homens das suas vidas”, aguardam pelo final da guerra, na Roménia
Milena, Vira, Iryna e Mariya têm algo em comum: são mães ucranianas refugiadas na vizinha Roménia. Forçadas a "abandonar os homens das suas vidas" em nome da segurança dos filhos, aguardam pelo final da guerra para poderem regressar. "Não sabemos se algum dia os iremos rever." Testemunhos recolhidos pela organização Save the Children.
O coração e pensamentos de Milena (nome fictício), refugiada ucraniana de 22 anos, permanecem na Ucrânia, apesar de se encontrar em Maramures na Roménia, numa escola reconvertida em asilo para refugiados. "É muito doloroso abandonar a minha casa, o meu país. Foi difícil dizer adeus aos homens das nossas vidas, na fronteira. Não sabemos se algum dia os iremos rever." A mãe de Bodhan, que tem apenas um ano, tomou a decisão de abandonar a Ucrânia após os primeiros bombardeamentos sobre a cidade onde vivia, Ivano-Frankivsk, em Oblast. Reuniu comida, roupa, documentos e computadores portáteis e conduziu até à fronteira com a Roménia, onde foi recebida pela organização Save the Children, que lhe proporcionou comida, abrigo e vouchers que pode trocar por bens. Tenciona regressar à Ucrânia assim que a guerra terminar.
Milena, Vira, Iryna e Mariya têm algo em comum: são mães ucranianas refugiadas na Roménia. Foram "forçadas" a abandonar a Ucrânia em nome da segurança e futuro dos seus filhos. Vira, de 26 anos, mãe de Marta e Alona, de três anos e seis meses de idade, respectivamente, sublinha à Save the Children que "foi difícil abandonar a Ucrânia". "Ninguém queria ir. Queria ficar, mas tenho filhos para proteger." Vira era enfermeira, em Ivano-Frankivsk, em Oblast, e o marido é camionista e já estava fora do país, na Alemanha, quando a guerra começou. "O mais difícil foi dizer adeus aos meus pais. Eles não sairão, mesmo em situação crítica. A minha mãe é paramédica e será útil neste contexto de guerra. Abandonar está fora de questão para ela." O seu pai, juntamente com outros familiares, "os homens que lá ficaram", acompanharam-na e aos seus filhos até à fronteira, que atravessaram a pé. A passagem pela Roménia é temporária. "O meu plano é, sem dúvida, regressar à Ucrânia."
Iryna é mãe de Nikolina de 10 anos e espera a chegada de outro filho. Recorda que tudo começou numa madrugada dos últimos dias de Fevereiro. "As sirenes dispararam, as explosões começaram", conta à organização que recolheu o seu testemunho. "Toda a gente fugiu de dentro de casa, sem saber o que fazer. Nas primeiras horas, ficámos confusos, não podíamos acreditar no que estava a acontecer."
Iryna demorou uma semana e meia a deixar a Ucrânia. A decisão de abandonar, porém, teve de tomar em menos de 24 horas. "Pela minha filha e pelo bebé eu decidi que, se fosse possível, teria de ir. Eles têm uma vida inteira pela frente." Viajaram de comboio até Lviv, no interior de uma casa de banho desactivada. "Tivemos muita sorte", observa. Dentro de três sacos, transportaram comida, roupas. "Eu não queria vir [para a Roménia], mas não me arrependo. Talvez nem regresse." Mantém contacto com a sua mãe, que decidiu permanecer na Ucrânia. "Ela não quis vir porque não encontrou alguém que ficasse com os seus animais de estimação."
Mariya, de 34 anos, tem um filho de quatro, Denys. "Tenho um marido. Tenho uma mãe." A mãe está consigo, na Roménia. "O meu marido ficou em Dnipro", lamenta. Mariya era professora, antes do dia 24 de Fevereiro. "Vivíamos um período pacífico. Estava tudo calmo antes desse dia. Nessa manhã, recebemos um telefonema de familiares, que nos disseram que tinham sofrido bombardeamento." As bombas caíram em Dnipro cinco minutos depois.
Para Mariya, foi o dia mais assustador da sua vida. A decisão de abandonar a Ucrânia foi "complexa" e "dolorosa". "Não estava determinada a abandonar", recorda. "Uma colega ligou-me, no dia 17 de Março, e disse-me que ia para a Roménia com a sua filha e a sua neta. Sugeriu que fôssemos juntas, porque eu tinha medo de ir sozinha." E assim foi. Partiu, na companhia do filho, que se encontrava doente, de comboio para Lviv. De Lviv até à fronteira com a Roménia demorou poucas horas. "Não sabíamos onde iríamos viver nem como. Foi uma viagem para nenhures. Nunca tinha estado cá, não sabia para onde ir." Tinha na sua posse apenas algumas roupas, água e bolachas. A recepção na Roménia foi muito positiva. "Os romenos receberam-nos de coração aberto; são gentis e muito empáticos." Apesar da hospitalidade, Mariya sabe que quer regressar a casa. Espera apenas pelo final da guerra.