Scholz considera Portugal um “parceiro interessante” no hidrogénio verde
Tanto Olaf Scholz como António Costa sustentam que urge uma maior cooperação internacional a todos os níveis, não sendo altura para se avançar com uma “desglobalização”.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, considerou este domingo que Portugal é um “parceiro interessante” na área do hidrogénio verde e convergiu com o primeiro-ministro português, António Costa, quanto à necessidade de haver “mais cooperação internacional”.
Num discurso na cerimónia de abertura da feira de Hannover - que escolheu este ano Portugal como país parceiro -, Olaf Scholz referiu que, durante a presidência alemã do G7, que começou em Janeiro, pretende “criar um clube internacional do clima, que ficará aberto para todos os países que concordam em alguns padrões mínimos para a protecção do ambiente”.
O chanceler afirmou que, no que se refere à área climática, os parceiros internacionais avançam “de forma mais rápida” se trabalharem juntos e defendeu a necessidade de se “aprofundarem projectos de cooperação, por exemplo no que se refere ao hidrogénio verde”.
“Nesta área, Portugal é um parceiro interessante. Trata-se de um potencial que eu e o primeiro-ministro Costa iremos certamente abordar em detalhe hoje e amanhã [segunda-feira]. Se há uma resposta aos principais desafios da nossa era, ela é: juntos. Juntos, iremos defender a ordem internacional contra a agressão de Putin, ao mantermo-nos juntos, com nossos parceiros e amigos, tal como os nossos dois países já o estão a fazer, António”, afirmou, dirigindo-se ao chefe do executivo português, que o ouvia na plateia.
Scholz sustentou que é necessária “mais cooperação internacional” e considerou “perigoso” enveredar pelo caminho proposto por quem considera que “o declínio nas relações internacionais” é “desejável” e que o conceito de “desglobalização” é apropriado para a era moderna.
“Penso que se trata de um caminho perigoso, e não apenas porque a Alemanha e a Europa beneficiam de mercados abertos e do comércio livre, mas porque a divisão internacional do trabalho e a transferência global de conhecimento tem conduzido a uma maior prosperidade nos últimos anos”, referiu.
Apresentando estatísticas, Scholz disse que a “proporção de pessoas a viver em pobreza extrema nos últimos 40 anos passou de 40% para menos de 10% e, até ao início da pandemia [de covid-19], cerca de 50 milhões passavam anualmente a pertencer à classe média mundial”.
“Quando as pessoas falam em decoupling ou em ‘desglobalizar’, não devemos esquecer [estas estatísticas]. E mais: nenhum dos grandes desafios que enfrentamos a nível internacional podem ser vencidos a nível individual”, reforçou, exemplificando com o combate às alterações climáticas.
Intervindo antes do chanceler alemão, o primeiro-ministro português considerou que o actual momento é de “mudança”, com a redefinição do “modelo de crescimento europeu”, mas sublinhou que, para Portugal, a autonomia estratégica da União Europeia não pode significar fechar-se “ao comércio externo” ou esquecer “a importância, não apenas económica, das ligações entre todos os países do mundo”.
“Significa, isso sim, que temos de agir para garantir cadeias de valor mais sustentáveis, mais seguras, e que potenciem a União Europeia num mundo globalizado. Este não é tempo de “desglobalizar”, este é tempo de organizar melhor o mercado global”, sustentou.
Nesse sentido, o primeiro-ministro considerou ser “fundamental” a conclusão de acordos comerciais que estão a ser negociados pela União Europeia, “designadamente o mais potente de todos, aquele que ligará a União Europeia ao Mercosul”.
“Este é, por isso, um momento de densificar os laços entre as nossas indústrias e de aproveitar o potencial de trabalho conjunto entre grandes empresas e pequenas e médias empresas, tanto em Portugal como na Alemanha. Estes laços já provaram ser mutuamente benéficos, e continuarão a sê-lo no futuro”, concluiu.
Com o slogan “Portugal faz sentido”, a Hannover Messe'22 - considerada a maior feira de indústria do mundo - começou este domingo e termina na quinta-feira, tendo escolhido Portugal como país parceiro para a edição deste ano. Segundo o gabinete do primeiro-ministro, 109 empresas portuguesas participam no certame, desenvolvendo “actividades nas áreas de soluções de engenharia, soluções de energia e ecossistemas digitais”.
À margem da feira de Hannover - que inaugurou esta tarde com Olaf Scholz -, António Costa jantou com o chanceler alemão, num encontro fechado à comunicação social. Na segunda-feira de manhã, o primeiro-ministro e o chanceler alemão irão visitar pavilhões nacionais na feira, antes de se deslocarem a Bruxelas, onde, à tarde, participam na reunião do Conselho Europeu.