Uma final da Champions que reforça uma mensagem política

Relvado novo do Stade de France, alternativa a São Petersburgo, levanta questões. Klopp passa filme de Kiev, diante do Real, em 2018. Ancelotti perdeu com “reds” quando foi melhor.

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Reuters/LEE SMITH

A final da Liga dos Campeões é um dos momentos mais aguardados no universo futebolístico, pelo que o duelo entre Liverpool e Real Madrid, que esta noite (20h, TVI) decidirá a 67.ª edição da competição da UEFA, no Stade de France, não será excepção. Desta feita, depois de a última final, entre Chelsea (actual campeão europeu) e Manchester City, no Porto, ter sido “marcada” pela pandemia (covid-19), é a guerra na Ucrânia a tocar de forma indelével a maior competição de clubes da Europa.

Desde logo pela mudança do palco, com Paris a substituir São Petersburgo, na Rússia. No final da conferência de imprensa de ontem, Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, foi confrontado com essa realidade e o alemão aproveitou para sublinhar que o facto de o jogo ser em França talvez seja a mensagem certa para a Rússia reflectir, terminando a dizer que esta final será, inevitavelmente, dedicada às vítimas ucranianas.

Normalmente avessa a mensagens políticas, a UEFA transformou a bola da final num manifesto, criando algo único para depois converter em objecto solidário.

Apesar do contexto e da sua importância, o futebol não foi esquecido. O próprio passado dos finalistas não podia deixar de ser evocado, com os ingleses a enfrentarem o fantasma de Kiev, onde o Real Madrid de Zidane (e de Cristiano Ronaldo) derrotou (3-1) os “reds” de Klopp, há quatro anos.

O Liverpool, porém, chegou prontamente ao título, o sexto, no ano seguinte, embora tenha sido o filme da final de 2018 (com a lesão de Mo Salah e o dia aziago de Loris Karius) que Jürgen Klopp recuperou para mobilizar a equipa inglesa, que agora surge reforçada com Thiago Alcântara e Fabinho, dupla que esteve em dúvida. Alcântara terá superado o desconforto sentido no tendão de Aquiles, no jogo com o Wolverhampton, estando Fabinho de regresso após ausência nas últimas três partidas, com uma entorse. Ambos estão integrados, causando boas sensações a Klopp, que surgiu “entusiasmado” por “poder sentir a atmosfera do estádio” escolhido pela organização, a levantar questões logísticas. Dotar o Stade de France de um relvado novo na véspera da final suscita dúvidas legítimas.

“Tem havido alguma correria para que o estádio fique pronto para a final. São sempre boas notícias quando o relvado parece novo. Neste caso é diferente, porque tem um dia… Alguém entendeu ser uma boa ideia colocar um relvado novo na véspera da final. Isso não afecta a minha disposição, mas é uma escolha interessante”, dissertou Klopp, que não resistiu a passar a bola para o lado dos espanhóis, atribuindo-lhes uma ligeira vantagem dada a maior experiência do Real Madrid em matéria de finais da Liga dos Campeões. O recordista de troféus (13) disputa esta noite a 17.ª final, “a quinta nos últimos nove anos”.

Jürgen Klopp libertou um pouco da carga emocional ao conceder nova camada de vantagem ao Real Madrid, atendendo à forma como os espanhóis se transcenderam para virar as eliminatórias contra o Paris Saint-Germain, o Chelsea e o Manchester City, desejando estar ao mesmo nível neste tipo de situações.

“Temos de ser iguais a nós próprios, confiantes. E se o conseguirmos, jogando ao melhor nível, somos um adversário difícil de contrariar”, advertiu, como se comprova pelos números de uma época em que perdeu três vezes em 62 partidas (com o Inter Milão, na Champions, e com o West Ham e Leicester na Liga inglesa). “É preciso aprender a ganhar. O que aconteceu em 2018 foi importante, mas vencer o troféu em 2019 foi ainda mais importante”.

A quinta de Ancelotti

Certo do apoio de uma boa parte da cidade de Liverpool, onde comandou o Everton entre 2019 e 2021, Carlo Ancelotti chega à quinta final da Liga dos Campeões, a segunda com o Real Madrid. Vencedor de três das quatro já disputadas - a primeira há já 20 anos, pelo AC Milan (que bisou, em 2007), e a última em 2014, em Lisboa, a famosa “la décima” do Real Madrid -, o treinador italiano garante que não pedirá a Benzema e companhia para jogarem mal...

“Curiosamente, a final em que a minha equipa jogou melhor foi a única que perdi”, recorda, remetendo para o jogo de 2005, em Istambul, ganho precisamente pelo Liverpool (do espanhol Rafael Benítez), no desempate por penáltis, depois de uma recuperação impressionante frente ao AC Milan, que regressou às cabinas a vencer por 3-0 ao intervalo e viu os “reds” chegarem à igualdade na segunda parte.

Esta noite, porém, à excepção de Carlo Ancelotti, todos os protagonistas serão diferentes. O peso da história será sempre secundário, pelo que o Real Madrid, campeão espanhol em 2021-22, terá que “estar preparado para dar o melhor”, mesmo que Ancelotti saiba que nem sempre é suficiente para vencer.

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