Johnny Depp volta a testemunhar para dizer que acusações de Amber Heard são “cruéis e falsas”
O actor Johnny Depp regressou ao banco das testemunhas para refutar o depoimento da ex-mulher Amber Heard, que acusa de difamação, dizendo que as alegações de abuso que a actriz formulou contra si são “brutais, cruéis e falsas”.
“Horrível, ridículo, humilhante, absurdo, doloroso, selvagem”, catalogou Johnny Depp, acrescentando que as descrições de Amber Heard, ao longo do seu depoimento, tinham sido “todas falsas”.
Ao longo desta quarta-feira, que começou com o testemunho da supermodelo Kate Moss, para garantir que Depp nunca a “empurrou, pontapeou ou atirou por umas escadas abaixo”, ao contrário do que Amber Heard insinuara durante o seu depoimento, a equipa jurídica do actor dedicou-se a continuar a refutar o caso apresentado pela defesa da actriz, mas sobretudo a atingir a sua credibilidade.
Depois de Moss, Johnny Depp voltou a assumir a posição de testemunha para recusar a ideia de que alguma vez abusou, física ou sexualmente, de Amber Heard ao longo da relação de cerca de sete anos, ainda que tenha optado por não vestir o papel de inocente. “Nenhum ser humano é perfeito”, afirmou. “Mas eu nunca na minha vida cometi agressão sexual, abuso físico.”
“Aconteça o que acontecer, cheguei aqui e disse a verdade e falei sobre o que, relutantemente, carrego aos ombros há seis anos.”
No contra-interrogatório, os advogados de Heard confrontaram Depp com mensagens de texto recuperadas do seu telemóvel. Numa mensagem para um assistente leu-se a descrição dos genitais de uma mulher como sendo “meu por direito”. “Preciso. Quero. Tomo.” Mas o actor negou ter escrito essas mensagens.
Já a mensagem enviada para a irmã, em que dizia que tinha de tirar Heard do projecto da Warner Brothers (Aquaman) foi assumida. Depp afirmou que ajudou Heard a conseguir o papel de Mera em Aquaman, que a tornou conhecida do grande público, e que sentia o dever de esclarecer os seus contactos no estúdio sobre o carácter que a ex-mulher revelara e que ia contra o que tinha defendido para lhe conseguir o trabalho.
Voltou ainda a tribunal o vídeo que mostra Johnny Depp a partir armários da cozinha, com um ex-funcionário do TMZ, o canal de entretenimento que revelou as imagens em 2016, a explicar o processo de como os vídeos são verificados antes de publicados.
Morgan Tremaine, que a TMZ tentou calar, apresentando uma moção ao abrigo da protecção das fontes, explicou que os vídeos recebidos apenas são publicados quando o canal tem autorização do criador ou detentor de direitos, sendo que, quando chegam de forma anónima, o hiato entre a recepção do material e a respectiva revelação pode ser de dias ou semanas. No vídeo em causa, esse hiato foi, de acordo com o ex-jornalista da casa, de minutos.
Ou seja, sem revelar a fonte, Tremaine explicou de forma subliminar que só poderia ser publicado tão rapidamente se tivesse sido a própria Amber Heard a entregar o vídeo. Mais: segundo a testemunha, o vídeo recepcionado tinha sido editado e não continha as partes iniciais (da actriz a ligar a câmara e a posicionar o telemóvel) nem finais (em que se vê uma serena Amber Heard a parar a gravação), entretanto exibidas em tribunal.
15 minutos de fama
No contra-interrogatório, Elaine Bredehoft, advogada de Heard, sugeriu que Tremaine estaria à procura de “15 minutos de fama” com o seu testemunho de última hora num julgamento que está a ser transmitido na televisão. “Não tenho nada a ganhar com isto. Na verdade, estou a colocar-me mais ou menos na posição de alvo da TMZ, uma organização muito litigiosa”, corrigiu Tremaine, que não resistiu a provocar a advogada: “Poderia dizer a mesma coisa de si [de estar à procura de 15 minutos de fama] por ter aceitado Amber Heard como cliente.”
Ainda nesta quarta-feira foram ouvidos a psicóloga que afirmou ter observado na actriz sinais de perturbação de personalidade histriónica e de personalidade limítrofe (borderline); um analista de metadados, que considerou que as fotografias das lesões apresentadas pela defesa de Heard não podem ser autenticadas depois de terem passado por um programa de edição de imagens, como verificou ao estudar os códigos dos ficheiros; e uma antiga funcionária do aeroporto onde Amber Heard foi detida, em 2009, que afirmou ter visto a actriz a agredir fisicamente a sua então namorada. No caso da última, Elaine Bredehoft voltou à carga com a teoria de que a mulher apenas quis testemunhar para aparecer na televisão.
Johnny Depp está a processar Amber Heard por difamação, depois da publicação de um artigo no The Washington Post em que a actriz se identificou como uma sobrevivente de abusos. O actor exige uma compensação de 50 milhões de dólares (46,7 milhões de euros), alegando ter perdido trabalhos por causa da acusação que descreve como falsa. Por seu turno, Amber Heard contra-atacou com um processo de difamação de 100 milhões de dólares (93,5 milhões de euros), argumentando que Depp a difamou ao chamar-lhe mentirosa.
As alegações finais estão marcadas para dia 27, próxima sexta-feira, e a juíza Penney Azcarate informou, ainda na semana passada, que os dois lados têm duas horas para gerir as últimas declarações, as refutações e ainda o momento para a reconvenção, ao qual a ré tem direito.
O veredicto pode demorar dias, mas muitos especialistas acreditam que o júri, até pelo cansaço — o julgamento vai no seu 22.º dia e muitos jurados devem estar ansiosos por regressar a casa, sendo que a próxima segunda-feira é feriado nacional —, entregará a sua decisão no mesmo dia. Antes disso, na quinta-feira, é esperada a última testemunha de refutação de Depp.