Clemente: “Marquei mais de cem golos, mas em Chaves não esquecem o do Jamor”
Antigo avançado aconselha adeptos do Tondela a seguirem o exemplo dos transmontanos, pois podem não chegar a outra final.
Passaram doze anos, mas Clemente tem a final da Taça de Portugal gravada, na íntegra, numa nuvem que não lhe sai da cabeça. O autor do golo do Desp. Chaves guardou esses momentos como uma lição que agora transmite às pessoas de Tondela, em especial aos adeptos, e que resume de uma forma tão simples e eficaz como abordava os lances de área.
“O Tondela desceu, mas tem capacidade para lutar e para regressar à I Liga. No entanto, pode nunca mais chegar a uma final da Taça de Portugal. O Desp. Chaves tem o historial que todos conhecemos e só foi uma vez ao Jamor em 73 anos de existência”, rematou de pronto, juntando outros argumentos irrebatíveis.
“As pessoas de Tondela estão tristes e desiludidas. Os flavienses também estavam... e com razão. A equipa virou a primeira volta em quinto e só ganhou um jogo na segunda metade da época. Mesmo assim, enfrentaram uma viagem de seis horas para apoiarem a equipa no Jamor, onde estiveram cerca de 12 mil adeptos em festa, como toda a gente se lembrará. E é nisso que o Tondela deve focar-se. Apoiar os jogadores, que farão tudo para honrar o nome do clube e da região”, explica o autor do golo de honra dos flavienses.
“Repito. É uma oportunidade única que não deve ser desprezada. Agora é a hora de acarinhar os jogadores e acredito que é isso que vão fazer. Trata-se de uma montra e, apesar de serem dias difíceis, é preciso acreditar e desfrutar até ao fim”, aconselha o agora dirigente do Santa Clara, pegando num exemplo que não se cansa de repetir aos amigos.
“Na final, depois de ter feito todos os jogos de qualificação, fui para o banco. Para mim, foi uma decisão injusta que me deixou triste, mais ainda porque o meu pai viajou dos Açores para me ver jogar a final. Era uma oportunidade única e eu no banco, de onde fui o último a sair, aos 80 minutos. Quando entrei estava determinado a fazer qualquer coisa para ajudar a resolver o jogo e dar uma alegria ao meu pai e aos adeptos. Havia ali um sentimento de revolta e talvez tenha ajudado a marcar o golo de que toda a gente em Chaves ainda hoje se lembra. Na carreira marquei mais de cem golos, mas é daquele no Jamor que ninguém se esquece”.
Clemente foi, além do mais, o primeiro português a marcar numa final da Taça de Portugal depois de cinco edições só com golos “estrangeiros”, o que aumentou o mediatismo.
“Depois dessa final, estive mais duas vezes nas meias-finais, mas nunca voltei ao Jamor. E as pessoas de Tondela têm que perceber que é uma festa única e que podem não voltar a viver. O Chaves superou tudo depois de bater no fundo e agora está de novo a lutar para chegar à Liga”.