Alertas falsos “podem fazer-nos divergir” dos verdadeiros ataques informáticos, diz PJ
Director da Unidade de Combate ao Cibercrime, Carlos Cabreiro, não confirma ataques nos últimos dias aos ministérios da Educação, da Saúde e da Cultura, e as Forças Armadas, como reivindicado por um hacker português, nem factos que permitam dizer que “alguma coisa em concreto” aconteceu.
Depois de pelo menos duas notícias dos últimos dias sobre possíveis ataques informáticos a departamentos do Estado, como os ministérios da Educação, da Saúde e da Cultura, e as Forças Armadas, entre outros, a Polícia Judiciária (PJ) não só não confirma esses ataques como diz que não alertou o Ministério da Educação para vir eventualmente ser um dos alvos.
Na manhã desta quinta-feira, em notícia exclusiva, a CNN Portugal anunciou que o Ministério da Educação tinha sido alvo de um ataque de um pirata português, conhecido por Zambrius, e que esse alerta havia sido lançado pela PJ. A denúncia fora feita pelo próprio: segundo ele, teria conseguido aceder indevidamente a uma das plataformas do Júri Nacional de Exames.
Contactada pelo PÚBLICO, a Polícia Judiciária não confirma. “É uma pessoa que procura protagonismo”, diz o director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime da Polícia Judiciária, Carlos Cabreiro, relativamente ao hacker que fez o anúncio nas redes sociais. “Não temos factos que nos permitam dizer que houve alguma coisa em concreto”, acrescenta.
Em Janeiro, Zambrius foi condenado a uma pena de prisão de seis anos num caso relacionado com desvio de dados e dano informático à Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, SAD do Benfica e Meo mas aguarda fora da cadeia o trânsito em julgado da sentença, depois de um recurso para tribunal superior, e de se ter esgotado o prazo da prisão preventiva.
Riscos da propaganda
“Tem vindo a ser publicitado nas redes sociais que várias instituições estão em risco. Estamos atentos, mas o simples facto de termos um tweet não significa que tenhamos de estar a lançar uma investigação”, continua. “Estas pessoas, além do mal que podem fazer através de ataques, podem fazer-nos divergir do essencial, ao utilizar esta propaganda”, completa Carlos Cabreiro, depois de desmentir que tenha havido qualquer interacção da sua equipa com o Ministério da Educação esta semana.
Ao fim da manhã, o Ministério da Educação admitiu ter sido alertado para a eventualidade de um ciberataque à referida página dos Exames Nacionais, mas não confirmou que o ataque tenha sido realizado.
Domínio público
Em reposta a perguntas do PÚBLICO, o gabinete do ministro João Costa, após a notícia da CNN Portugal, disse que apesar de não ter havido qualquer ciberataque, “o Júri Nacional de Exames foi informado pela Polícia Judiciária de um eventual acesso a uma área de informação, na qual consta apenas informação que é do domínio público”.
Ainda segundo a CNN Portugal, o pirata informático terá publicado nas redes sociais registos de vários acessos a páginas de infra-estruturas consideradas vulneráveis, alegando ter tido acesso a mais de “cem sistemas do Ministério da Educação” de diferentes departamentos. “Muitas são vulnerabilidades de alto risco, que me podem dar controlo remoto sobre os sistemas ou o acesso directo a bases de dados das plataformas ou aplicações”, reivindicou o hacker numa troca de mensagens escritas com a CNN Portugal.