FC Porto vence Estoril no jogo da consagração e carimba recorde de pontos
“Dragões” de Sérgio Conceição chegam aos 91 pontos, marca nunca antes atingida na I Liga.
Mesmo com o campeonato nacional na mão, Sérgio Conceição prometeu aos adeptos que não iria ceder a facilitismos e bastou ver o “onze” portista escolhido para defrontar o Estoril para comprovar isso mesmo: do jogo em que carimbou o título na Luz, o técnico apenas permitiu mudanças na baliza – com Cláudio Ramos a somar os primeiros minutos no campeonato. As restantes peças do xadrez “azul e branco” foram as mesmas e cumpriram a missão pedida: com uma vitória sobre os “canarinhos” por 2-0, o FC Porto somou 91 pontos e estabelece novo recorde de pontuação na I Liga.
Foi preciso esperar pela segunda parte para que os “dragões” conseguissem desmontar a muralha estorilista: estacionados na defesa – e sem um único remate enquadrado nos primeiros 45 minutos –, os “canarinhos” juntaram as linhas e procuraram fechar a todo o custo o caminho da baliza aos portistas, que não exibiram a mesma velocidade e clareza que costumam imprimir no jogo.
Partiria de Zaidu, aos 48’, o principal contributo para desbloquear o imbróglio: um cruzamento rasteiro do nigeriano seria desviado para a própria baliza por Joãozinho num corte mal conseguido. Nas costas do defesa “canarinho”, Evanilson estava já pronto para encostar a bola para o fundo da baliza, atrapalhando ainda mais a acção de Joãozinho.
Apesar de não ter assinado o golo, Zaidu – autor do remate da vitória frente ao Benfica na última partida, que lhe tinha valido a maior ovação da tarde durante o aquecimento – ganhou nova aura de herói, com 47.512 adeptos a cantarem em uníssono o nome do lateral.
Com menos pressão nos ombros, os “dragões” regressaram ao ataque, mas voltaram a sentir dificuldades em concretizar. Na baliza do Estoril, Thiago negou por três vezes o golo aos avançados portistas, mantendo os “canarinhos” no jogo. Aos 63’, foi a barra a negar o golo a Taremi, depois de cabeceamento forte do iraniano.
O único lance de perigo do Estoril aconteceu aos 73': Mboula rematou forte, mas Cláudio Ramos, com a luva esquerda, defendeu para canto. Já se queimavam os últimos cartuchos no Dragão, quando Fernando Andrade – que ainda não tinha jogado esta época – respondeu no coração da área após passe de Fábio Vieira e fez o segundo golo da tarde aos 88’. Bastaram seis minutos para o avançado fechar com chave de ouro uma temporada menos feliz no FC Porto.
Homenagem a Igor e segurança redobrada
Apesar de o ambiente ser festivo, o homicídio de Igor Silva há precisamente uma semana colocou as autoridades sob alerta. O reforço de policiamento no Estádio do Dragão foi notório, com particular atenção para os locais frequentados pelos Super Dragões: a vítima mortal e Renato Gonçalves, principal suspeito do crime, são membros da claque portista. A Polícia de Segurança Pública (PSP) montou uma operação de segurança dupla, virando também atenções para as comemorações na Avenida dos Aliados.
O suspeito do homicídio é filho de Marco Gonçalves, um dos membros mais influentes da claque. Mas, apesar da rivalidade dos grupos que protagonizaram o incidente, não se verificaram problemas de maior na bancada ocupada pela claque portista. Aos 26 minutos – referência à idade de Igor Silva – foi exibida uma tarja de homenagem. “Igor: como nós, um de nós”, podia ler-se. E vários membros da claque usaram ainda t-shirts com a cara de Igor Silva estampada.
Milhares em festa no Dragão
A duas horas do início do jogo, milhares de pessoas pintam de azul e branco as imediações do Estádio do Dragão. Hélder Albuquerque segurava firmemente um carrinho de bebé adornado de cachecóis do FC Porto enquanto observava atentamente a passagem dos batedores da PSP. No interior, o filho de cinco meses vai dormitando indiferente ao barulho, equipado com a versão infantil da camisola do FC Porto.
“Costumava vir aos jogos, mas desde que nasceu o meu filho deixei de vir. Estive aí há duas semanas, no jogo contra o Vizela”, inicia o adepto. A partida frente ao Estoril deste sábado é mais uma que o portista teve de falhar, mas, enquanto a esposa despachava outras tarefas do dia-a-dia junto ao Estádio do Dragão, Hélder aproveitou para matar saudades: “A minha mulher foi buscar comida para os animais e eu fiquei aqui. Sinceramente, não reparo grande diferença nesta festa em relação à última antes da pandemia [2017-18], mas julgo que antigamente se festejava melhor. Não era preciso olhar para todos os lados, as pessoas eram mais pacíficas.”
A poucos metros, Mário Afonso intervém. “Você sabe que as confusões não tiveram relação com a festa”, disparou. Sócio dos “dragões” há mais de seis décadas, Mário vê no afastamento de Hélder após a paternidade um sinal de decadência no futebol: “Acho que as crianças, pelo menos até aos sete anos, deviam entrar gratuitamente no futebol. Ficavam apaixonadas por este desporto e seria uma mais-valia no futuro. Hoje em dia, os jovens já não têm aquela coisa de jogar futebol na rua. Para se meter uma criança a jogar futebol é preciso ter dinheiro. Sem as crianças, o futebol não tem futuro”, lamentou.
Apesar da apreensão de Mário, gente jovem não faltou no Estádio do Dragão, que contou com atracções reforçadas para entreter os adeptos. A principal envolveu a possibilidade de subir ao camião panorâmico que transportou o plantel portista do estádio para a Avenida dos Aliados. A fila – que chegou aos 30 minutos – foi suficiente para demover muitos adeptos, mas quem teve paciência diz que a espera valeu a pena. “Só sentir que os jogadores vão estar ali, foi uma experiência única”, exulta Pedro, com o filho no braçado igualmente maravilhado.
Menos alegria demonstravam os comerciantes. Apesar dos fortes gritos a anunciar cervejas, cachorros e outros petiscos, Bruno lamentava-se com a evolução do dia: “Não está a correr muito bem, vamos ver se com a festa isto acelera. Mas também…o barril de cerveja subiu dos 50 para os 90 euros, estamos a pedir dois euros por um fino, as pessoas estão sem dinheiro. Vamos lá ver.”
Na zona dos cachecóis, o pessimismo era o mesmo: “Os que estão a sair melhor são os de campeão nacional, mas o ritmo está muito lento. Fizemos mais negócio na festa da semana passada do que agora.”
Helton participou na festa
Foi o histórico guarda-redes dos “dragões” que levou o troféu até ao palco montado para o momento alto da tarde. Um a um, por ordem numérica, os jogadores portistas ouviram o chamamento do speaker do Dragão, com ovações especiais para Taremi, Otávio, Zaidu e Sérgio Conceição.
O fogo-de-artifício montado pelo clube pintou o Dragão em tons de dourado no momento em que a taça foi levantada pela primeira vez, com milhares de confetti azuis e brancos a serem disparados por canhões. Seguiram-se as fotos de família e a volta ao relvado de exibição do troféu.