Líder do BCE admite subida das taxas de juro já em Julho
Christine Lagarde diz que o agravamento das taxas acontecerá “algumas semanas” depois do fim do programa de compra de dívida.
Preocupada com a subida da inflação na zona euro, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, admitiu nesta quarta-feira que o conselho de governadores do banco central poderá subir as taxas de juro de referência já no início do Verão, poucas semanas depois de terminar o programa de compra de dívida pública.
Num discurso no banco central esloveno, em Liubliana, Lagarde frisou que o processo de agravamento das taxas será gradual. Líder de um conselho de governadores onde ainda não há unanimidade sobre o caminho a seguir — no grupo que decide a política monetária há quem defenda uma subida das taxas para evitar que a inflação se torne permanente e quem peça maior cautela para travar a entrada da economia europeia em recessão no actual contexto da guerra —, Lagarde sinalizou agora que a decisão de subir as taxas poderá estar mais próxima.
Embora não tenha dito em que mês acontecerá e tenha referido que essa decisão ainda está por tomar, Lagarde deu a entender que tal poderá acontecer já na reunião do conselho de governadores de 21 Julho e não na reunião seguinte, de 8 de Setembro.
“Em primeiro lugar, terminaremos as compras líquidas no âmbito do programa de compra de activos. A julgar pelos dados disponíveis, a minha expectativa é que [as aquisições] sejam concluídas no início do terceiro trimestre. A primeira subida das taxas, de acordo com a orientação a prazo do BCE sobre as taxas de juro, ocorrerá algum tempo após o fim das compras líquidas de activos. Ainda não definimos com precisão a noção de ‘algum tempo’, mas tenho sido muito clara [em dizer] que isto pode significar um período de apenas algumas semanas. Depois da primeira subida das taxas, o processo de normalização será gradual”, afirmou.
Como as compras líquidas de dívida pública terminam no terceiro trimestre do ano, é possível que a subida aconteça logo em Julho, refere a Bloomberg.
As variações nas taxas de juro de referência têm impacto nos custos dos empréstimos das empresas e dos cidadãos (como nos créditos à habitação).
Receosos sobre os efeitos económicos de uma inflação acima dos 7%, vários membros do conselho de governadores têm vindo a público defender uma subida das taxas de juro de referência já em Julho.
A alemã Isabel Schnabel, membro da comissão executiva do BCE, disse na semana passada que, “com base na perspectiva actual”, é possível um aumento dos juros na reunião de Julho.
Dentro de um mês, em Junho, o conselho de governadores ainda terá uma reunião e, aí, Lagarde poderá clarificar a posição que então estiver estabilizada dentro do banco central.
A 1 de Maio, o vice-presidente do BCE, o espanhol Luis de Guindos, também já admitira “não haver razão” para o programa de compra de activos não terminar em Julho e, dado esse passo, disse, “as taxas aumentarão a partir daí”, dentro de “meses, semanas ou dias”. E Julho, referiu, era uma data “possível”, ainda que isso não queira dizer “provável”.
Mais cauteloso foi o governador do banco central português, Mário Centeno, ao criticar publicamente a 5 de Maio, durante a apresentação do boletim económico do Banco de Portugal, quem defende uma subida imediata dos juros com base em “convicções”.
Centeno chegou a pedir aos colegas “alguma calma e ponderação nessas comunicações” sobre a estratégia a adoptar pelo BCE. “Ou somos dependentes dos dados ou alguém tem acesso a informação que não está disponível a todos e há aqui uma assimetria. (…) Outra coisa é, porque se tem informação que outros não têm ou porque se tem convicções fortes, tirar conclusões antes de tempo e isso eu não faço”, afirmou o governador português.
Nos Estados Unidos, as preocupações da Reserva Federal com as pressões inflacionistas levaram a autoridade monetária a reduzir os estímulos à economia e a rever em alta as taxas de juro, com o objectivo de conter a subida dos preços na economia.
Os dados divulgados nesta quarta-feira em Washington pelo Departamento do Trabalho norte-americano mostram que a inflação abrandou em Abril, embora tenha continuado num nível elevado, nos 8,3% face a Abril do ano passado (estava nos 8,5% em Março).