Centeno defende subida de taxas de juro “só quando for seguro fazê-lo”
Governador do Banco de Portugal pede “alguma calma” aos seus colegas do BCE que têm vindo a dar sinais relativamente a uma decisão próxima do BCE de subir taxas de juro.
Um dia depois de a Reserva Federal ter subido as suas taxas de juro em 0,5 pontos percentuais, e na sequência das declarações de outros membros do conselho de governadores do BCE que apontam para a possibilidade de na zona euro as taxas de juro começarem também brevemente a subir, Mário Centeno veio assumir uma posição mais prudente relativamente à viragem na política monetária na Europa, assinalando os riscos que uma sobre-reacção à subida da inflação pode ter na economia.
Na conferência de imprensa do boletim económico de Maio do Banco de Portugal desta quinta-feira, o governador do banco central nacional e membro do conselho do BCE mostrou, nas respostas às questões colocadas pelos jornalistas, algum desconforto com as declarações feitas pelos seus colegas. Centeno assinalou que o BCE “decidiu agir de acordo com os dados”, defendendo que, por isso, os seus responsáveis devem ter “alguma calma e ponderação nessas comunicações”.
“Ou somos dependentes dos dados ou alguém tem acesso a informação que não está disponível a todos e há aqui uma assimetria”, afirmou, acrescentando que aquilo que é preciso fazer agora no banco central é “olhar para os dados”. “Outra coisa é, porque se tem informação que outros não têm ou porque se tem convicções fortes, tirar conclusões antes de tempo e isso eu não faço”, afirmou, num recado evidente aos seus colegas que têm dado sinais aos mercados de quando é que o BCE pode começar a subir as taxas de juro.
Mário Centeno fez ainda questão de mostrar que faz parte do grupo que dentro do BCE temem que uma resposta demasiado brusca contra a inflação possa ter efeitos indesejáveis na economia. “Aquilo que mais preocupa os agentes económicos é que o BCE tome decisões de sobre-reacção sobre a economia. Para os sectores que ainda não tinham recuperado da pandemia, não há razões nenhumas para os condenar agora a uma estagnação por causa desta crise”, disse, assinalando que, na zona euro, “o espectro da estagnação não está afastado” e que isso é algo com que o BCE tem também de se preocupar.
Ainda assim, reconheceu Centeno, uma eventual subida das taxas de juro na zona euro parece neste momento inevitável. “Não nos podermos convencer que os níveis das taxas de juro em 2020 eram os níveis desejáveis, porque eles estavam associados a uma incapacidade do próprio banco central para assegurar a estabilidade de preços. Qualquer movimento nesta direcção [de subida das taxas de juro] é desejável, mas só quando for seguro fazê-lo”, defendeu.