Netflix pode introduzir publicidade e partilha paga de contas já no final deste ano

Nota interna da empresa acelera plano para recuperar assinantes e receitas — com categorias de assinatura mais baratas pela presença de anúncios e pagando mais para estender partilha de palavras-passe.

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A Netflix continua a ser o serviço de streaming líder no mundo, mas a perda de assinaturas preocupa o mercado Dado RUVIC/Reuters

Uma comunicação interna da plataforma de streaming com mais assinantes no mundo revela que a introdução de uma nova categoria de assinaturas que inclui publicidade — e que é, por conseguinte, mais barata — pode acontecer já no final deste ano, revelou terça-feira o diário The New York Times. A decisão, que os responsáveis da Netflix admitiram pela primeira vez depois de terem começado a perder subscritores no início deste ano, foi uma inversão de marcha numa empresa que sempre recusou ter anúncios e agora a Netflix acelera a sua introdução em mais de um ano.

Em Abril, os resultados do primeiro trimestre de 2022 da Netflix revelaram a sua perda de assinantes (200 mil) pela primeira vez em mais de uma década e a previsão de que ficariam sem mais dois milhões até Junho. O anúncio levou à forte desvalorização do valor da empresa em bolsa, arrastando também a concorrência numa espécie de momento de viragem no mercado do streaming: a permanente expansão na produção, no investimento e no número de serviços deu lugar à preocupação sobre o espaço que existe no mercado e sobre o modelo de negócio inaugurado precisamente pela Netflix. Foi aí que a empresa admitiu que a publicidade, bem como o controlo do abuso na partilha de passwords por muitos utilizadores pudessem gerar mais receitas e cativar (de volta) mais assinantes.

A previsão de Reed Hastings, co-presidente da Netflix, era que tal acontecesse “no próximo ano ou nos próximos dois anos”. Agora, o memorando interno a que o jornal norte-americano teve acesso diz que a intenção é introduzir uma nova modalidade de assinatura, mais barata e com publicidade, no último trimestre de 2022. Na mesma altura começará também o controlo da partilha de contas. “Sim, é rápido e ambicioso e exigirá alguns compromissos”, lê-se na nota da empresa, citada pelo New York Times.

“Todas as grandes empresas de streaming, excepto a Apple, têm ou anunciaram um serviço apoiado em anúncios”, contextualiza a mesma nota. “Por bons motivos, as pessoas querem ter opções a preços mais baixos.” Essa concorrência, como a Disney+, a HBO Max ou a Hulu (não disponível em Portugal mas parte do grupo Disney), dispõe de categorias de assinaturas mais baratas que incluem a interrupção dos programas com anúncios nos EUA.

Não tem existido qualquer referência na comunicação da Netflix sobre a introdução de publicidade fora dos EUA e sobre se, a existir, o fará em simultâneo com o seu país natal ou gradualmente — a legislação europeia, por exemplo, inclui a obrigação do pagamento de taxas para empresas e serviços audiovisuais que incluam publicidade.

No que toca à partilha de palavras passe, que permite que muitas pessoas, para além do previsto em cada categoria de assinatura, usem a Netflix, a ideia é que quem o faça pague mais. “Se a sua irmã viver numa cidade diferente e quiser partilhar a Netflix com ela, isso é óptimo. Não estamos a tentar acabar com a partilha, mas vamos pedir que paguem um pouco mais para partilhar com ela”, exemplificou e clarificou Greg Peters, o presidente operacional da Netflix no mês passado.

A Netflix continua a ser o serviço de streaming líder no mundo, com 221 milhões de assinantes, mas a perda de assinaturas preocupa o mercado e também é um sintoma da crescente oferta de plataformas concorrentes e subsequente peso no bolso do consumidor. Nos EUA, a assinatura mais usada entre os consumidores de Netflix custa 15,49 dólares, tendo a HBO Max uma oferta concorrente nos 15 dólares mensais e uma modalidade de subscrição que custa 10 dólares mas com publicidade. Em Portugal, a modalidade mais barata de Netflix é de 7,99 euros e a média custa 11,99 euros. A mais onerosa, com maior qualidade de imagem, custa 15,99 euros.

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