Portugueses que vêem TV em streaming duplicaram com a pandemia, o quarto maior crescimento na UE
Relatório da Anacom confirma tendência de crescimento pré-pandemia e pico causado pelos confinamentos, sobretudo entre os mais jovens (16-34 anos) e os estudantes.
O número de portugueses com contas de serviços de streaming como a Netflix ou a Amazon Prime Video mais do que duplicou com a pandemia. O aumento das assinaturas levou a que Portugal seja o quarto país da União Europeia (UE) em que a utilização de streaming de vídeo pago mais cresceu durante esse período, revela um novo relatório da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) publicado esta segunda-feira.
De acordo com o relatório Serviços Over-The-Top, que avalia a utilização de mensagens, chamadas e outras aplicações online em Portugal mas também na UE, a pandemia “provocou um forte crescimento dos serviços over-the-top (OTT) [ou pela Internet], sobretudo das chamadas de voz ou vídeo, do videostreaming on demand, da frequência de cursos online, bem como da compra de produtos online”.
No que toca ao streaming, uma forma de consumo de audiovisual em franca expansão e sobre a qual há poucos dados em Portugal desde que a Netflix se estreou em 2015, a Anacom indica que 34% dos utilizadores de Internet portugueses pagaram para ver séries ou filmes on demand numa plataforma digital. Esse crescimento coloca o país no 14.º lugar dos consumos de streaming na Europa. Quando se olha para o universo total e não apenas os utilizadores de Internet, em 2020 26% dos portugueses viam assim audiovisual, o que mais do que duplica a penetração deste modo de acesso a séries e filmes em relação a 2018 — são mais de 16%, mais do que duplicando o número de cidadãos que consomem vídeo em streaming.
O regulador português postula que este “elevado crescimento” resulta da “alteração do comportamento dos indivíduos decorrente da pandemia”, consolidando uma tendência já identificada em 2020 pelo Observatório da Comunicação, que mostrava como o consumo de streaming aumentou em relação ao consumo dos media tradicionais a partir do primeiro confinamento. Só entre Março e Abril de 2020, o número de assinantes destas plataformas aumentou 30%, por exemplo, como indicava na altura o Barómetro de Telecomunicações da Marktest. O primeiro semestre do ano zero da pandemia saldar-se-ia com um crescimento de 35% do número de assinaturas de serviços deste género.
Uma realidade crescente
O streaming, pela sua natureza on demand — em que o espectador escolhe o que quer ver quando quer ver — e pela vastidão crescente das suas bibliotecas, tornou-se uma alternativa chamativa durante os confinamentos e inicialmente menos vulnerável à paralisação que também a produção de TV e cinema sofreu devido à covid-19. Mesmo antes da pandemia, era já uma forma de distribuição e consumo em crescimento e um grande motor de desenvolvimento da produção de novas séries, por exemplo. Em 2021 fizeram-se 559 séries em língua inglesa nos EUA, de acordo com os dados do canal FX (em 2019 foram 532, em 2020 as paragens da pandemia fizeram o número cair para as 496).
Já em Julho do ano passado, o novo Barómetro de Streaming da Marktest mostrava que 3,6 milhões de portugueses usavam pelo menos uma plataforma de streaming e que dois milhões de pessoas em Portugal são assinantes de um serviço do género (o que permitia uma leitura indicativa de um regresso aos números pré-pandemia).
Se nos EUA o fenómeno do "cord cutting” (o cancelamento de assinaturas de televisão linear em prol do streaming) é uma realidade crescente, em Portugal a vigência dos pacotes de internet mais televisão congela essa tendência dada a fortíssima adesão dos consumidores a esse modelo. Gradualmente, as principais plataformas de streaming fazem parcerias com os operadores como a Meo, Nos ou Vodafone para estarem nos seus menus de aplicações. De acordo com dados da Comissão Europeia citados pela Anacom, no final de 2020 8% dos lares portugueses com pacotes de serviços tinham já subscrições de streaming de vídeo incluídas nessa mensalidade dos operadores do chamado cabo.
As plataformas guardam os dados de audiências ou subscrições a sete chaves mas confirma-se no relatório do regulador português que o streaming é mais usado pelos mais jovens (16 a 34 anos), com mais escolaridade (ensino superior) e mais rendimentos, o que corresponde à média europeia. Foram também os portugueses da faixa 16-34 anos e em particular os estudantes aqueles que entre 2018 e 2020 mais impulsionaram o crescimento de serviços do tipo Disney+ ou HBO Portugal.