Os trailers de Obi-Wan Kenobi e House of the Dragon são as cenas dos próximos capítulos das “guerras do streaming”
Há duas batalhas dos gigantes pop à vista, uma no final deste mês, entre os Jedi e Eleven, e outra no final do Verão, entre dragões e anéis. As plataformas usam armas “à antiga”, como a contraprogramação ou episódios semanais, na luta pelas audiências digitais.
Está a ser uma semana rica em provocações pop. Os trailers das séries Obi-Wan Kenobi, da Disney +, e de House of the Dragon, da HBO Max, mostraram ao público as cenas dos próximos capítulos das “guerras do streaming”. E há mais nas entrelinhas: já no final deste mês, no mesmo dia em que chega uma muito aguardada série Star Wars, estreia-se a nova temporada de Stranger Things, a actual jóia da coroa de cultura popular da Netflix; e no Verão, apenas 12 dias depois do debute da série prequela de A Guerra dos Tronos, a Amazon vai finalmente revelar a série mais cara de sempre, O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder.
No novo trailer de House of the Dragon, a série prequela de A Guerra dos Tronos cujas filmagens passaram por Portugal, uma personagem postula que “a história não recorda sangue. Recorda nomes”. A colecção de imagens revelada na tarde de quinta-feira pela HBO Max, e que só na sua conta principal no YouTube já foi vista mais de 16 milhões de vezes (a essas visualizações somam-se mais milhões nas redes sociais e noutras contas no YouTube), mostra dragões, claro está, e muitos Targaryen, além dos antepassados de algumas das personagens que os leitores de As Crónicas de Gelo e Fogo e que os espectadores de A Guerra dos Tronos reconhecem bem — Stark, Baratheon, Hightower, Velaryon.
A memória muscular dos espectadores do entretenimento popular de massas está treinada para reconhecer House of the Dragon como uma casa em que se luta pelo poder, num ambiente filmado na semi-obscuridade e sob a batuta do compositor Ramin Djawadi. A série, que é apenas uma de várias em desenvolvimento na HBO na sequência do êxito global de A Guerra dos Tronos — e provavelmente irrepetível pelo momento na história da televisão em que aconteceu —, é descrita pelo autor dos livros na sua origem, George R.R. Martin, como “negra, poderosa, visceral” — “exactamente como eu gosto na fantasia épica”.
O minuto e meio de imagens vertiginosas é a primeira amostra do que será a série que se posicionou estrategicamente para estrear nem duas semanas antes da sua concorrente no mundo da fantasia “histórica”, O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder. A HBO Max só anunciou a data de estreia de House of the Dragon depois de a série da Amazon Prime Video, sua concorrente na luta pelas assinaturas e relevância das plataformas de streaming, ter fixado no calendário o dia 2 de Setembro como aquele em que finalmente a série envolta em enorme sigilo se vai mostrar ao mundo. House of the Dragon estreia-se, em Portugal, na segunda-feira dia 22 de Agosto, ao que tudo indica com um episódio semanal. Também a série oriunda da obra do pai da fantasia épica, J.R.R. Tolkien, estreará apenas um episódio por semana.
A batalha entre a HBO Max e a Amazon vai aquecer no final do Verão de 2022 e será em moldes “à antiga”, em modo contra-programação e em fidelização semanal.
May the Force...
As duas séries são ambas prequelas e baseadas num universo pré-estabelecido em livro e com uma base de fãs já criada. É o que sucede também com Obi-Wan Kenobi, talvez a série Star Wars mais próxima do eterno sonho dos fãs originais dos filmes encetados em 1977 que é reviver a sua magia, quase intocada, como se na infância se situasse o novo título da Disney+. Protagonizada por Ewan McGregor e com a participação de Hayden Christensen, traz de volta a banda-sonora de John Williams, os actores dos filmes prequela (realizados por George Lucas entre 1999 e 2005) e as personagens que os fãs já conhecem — o trailer, divulgado na tarde de quarta-feira, Dia Internacional Star Wars devido à cacofonia da data em inglês “May the Fourth” e a saudação dos Jedi “May the Force be with you”, provoca o seu público com a sugestão de Darth Vader.
As estreias da Disney+ são à quarta-feira, tradicionalmente, mas para Obi-Wan Kenobi, cuja acção decorre dez anos depois de A Vingança dos Sith, a data de estreia passou de quarta-feira dia 25, como chegou a anunciar a plataforma em Fevereiro, para aterrar definitivamente nas sextas-feiras a partir de dia 27 deste mês — dia em que a Netflix já tinha instalado a quarta e penúltima temporada de Stranger Things, e dia da semana em que faz normalmente as suas grandes estreias.
A terceira série falada em inglês mais vista de sempre da Netflix é uma amálgama de influências de um mundo que Lucas e companhia ajudaram a fundar nos anos 1980, e é um dos títulos-chave da plataforma de streaming líder na fidelização dos seus assinantes e na criação de algo semelhante a um franchise como os supracitados. Originou merchandising omnipresente mas também livros, comics e um talk-show. Os franchises são tidos como peças essenciais na fidelização de subscritores nas chamadas “guerras do streaming”, tão importantes quanto séries de longa de duração ou de culto como Friends, A Teoria do Big Bang ou Seinfeld para manter a assinatura de espectadores cada vez mais solicitados por cada vez mais produtos e plataformas.