Palcos da semana
Braga Respira! com pianos e outros sons, o Alentejo faz FITA com 18 grupos de teatro e New Max Phalasolo em Lisboa e no Porto. Na capital, é também momento de Temps d’Images e de um 5L literário.
Tempo de saudar
É com a palavra “saúde” que se anuncia o Temps d’Images. O sentido é duplo: vale para vigor e robustez, mas também para brinde, já que o festival lisboeta celebra uns redondos 20 anos a cruzar as artes performativas e visuais. Dois são também os momentos em que se torna a dividir: um agora e outro no Outono (14 de Outubro a 7 de Novembro). Neste, entram seis peças, quatro em estreia absoluta. São elas o Documentário atirado para 2062 pelos SillySeason, o Ciclone em que Leonor Cabral “investiga a ascendência da condição meteorológica sobre a condição humana”, Mas Onde Está a Espada?, um trabalho site-specific de Isadora Alves para o Parque do Vale do Silêncio, e Para Acabar com o Julgamento de Deus, “uma emissão de rádio e experiência sensorial” para “dar uma resposta a [Antonin] Artaud”, ensaiada por Jenna Thiam, Catarina Rôlo Salgueiro e Surma. Juntam-se-lhes a instalação performativa DeGelo - Diamante Bruto, de João Bento, e o conflito de uma actriz em Anima, de Pedro Baptista.
Finalmente, Phalasolo
O álbum apresentado por New Max não é novo: ressuscitou-o ao 13.º ano, conforme os apelos da memória desse disco a solo, editado digital e gratuitamente em 2009, desaparecido entretanto e, por isso, com aura de culto entre os fãs – os que ainda o guardam no leitor de mp3 e os que só ouviram falar dele. Abafado, na altura, pel’O amor é mágico dos Expensive Soul (a banda de New Max) e seu sucesso crescente, Phalasolo ganhou reedição no início de 2022 e ganha, agora, a merecida tradução ao vivo. Demo, Virgul, Sam The Kid e Regula, que nele participaram, são convidados para a celebração. Amaura junta-se à festa.
O piano volta a respirar
Com “o piano como pulmão”, o ciclo Respira! volta a inspirar concertos no Theatro Circo, depois da suspensão de dois anos à conta da pandemia. O primeiro destaque é a estreia em Portugal do francês Sofiane Pamart, autor do álbum Letters e praticante de uma inusitada mistura de rap e música clássica. A compatriota Christine Ott faz a abertura. No dia seguinte, há outra primeira vez nacional: Macha Gharibian a apresentar as fusões do premiado disco Joy Ascension, com La Chica na primeira parte. Finalmente, chega o veterano Abdullah Ibrahim, um dos mais importantes vultos do jazz sul-africano. Tocou com gente como Elvin Jones, Archie Shepp, Max Roach ou Buddy Tate e, aos 87 anos, continua a actuar e lançar discos. O último, de 2020, chama-se Solotude. Este Respira! conta ainda com o sentido vanguardista e exploratório de Diamanda Galás, não no palco mas enquanto autora da instalação sonora Broken Gargoyles, que desenvolveu com Daniel Neumann e que ecoa numa capela do Mosteiro de Tibães.
Um 5L desmedido
Língua, livros, literatura, leitura e livrarias são os cinco “L” que conduzem o festival que nasceu em 2020, à boleia do primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, e que se desconfina à terceira edição. O Lisboa 5L entra em modo plenamente presencial com um programa de “ambição desmedida” (palavra do director artístico, José Pinho, composto por muitas páginas de actividades e dezenas de convidados pela cidade. Afonso Cruz, Afonso Reis Cabral, Cláudia Lucas Chéu, Jacinto Lucas Pires, João Botelho, José Eduardo Agualusa, Maria do Rosário Pedreira, Mário Lúcio Sousa, Pedro Mexia e Richard Zimler estão entre os presentes. Livrarias, bibliotecas, largos, transportes públicos, São Luiz e São Carlos são alguns dos palcos. Há apresentações, lançamentos, mesas de autor, clube de leitura, debates, oficinas, cinema, exposições, instalações, intervenções, performances, teatro e concertos como o de Palavra Prima, que junta Jorge Palma, Luísa Sobral, Luca Argel, A Garota Não e Alice Neto de Sousa num tributo a Chico Buarque.
FITA crescente
De Beja à Vidigueira, são 11 os concelhos alentejanos a fazer FITA – mais três em relação ao ano passado. Pela nona edição do Festival Internacional de Teatro do Alentejo, organizado pela bejense Lendias d’Encantar, passam 18 grupos oriundos de Portugal, Espanha (país convidado), México, Brasil, Colômbia, Uruguai, Equador e Moçambique. Há teatro para todos os gostos e idades, do espectáculo infantil História de Uma Boneca Abandonada pela companhia anfitriã até à vingança pesada de Elektra.25 pela Cia Atalaya, passando pelo medo explorado no Barrio Caleidoscópio do Teatro de la Vuelta, o absurdo de Esperando a Godot pelo TeatronacienT ou La Odisea de Magallanes-Elcano do Teatro Clássico de Sevilha.