Moradores da Aguda e da Granja marcam protesto contra obra no apeadeiro
Os organizadores da iniciativa já classificaram algumas das estruturas que estão a ser implementadas de “mamarracho”, “escarro arquitectónico” ou “muros de Berlim”.
Moradores da Aguda e da Granja, em Vila Nova de Gaia, agendaram para sábado um protesto contra as obras que a Infra-estruturas de Portugal está a levar a cabo na Linha do Norte.
A acção de protesto está marcada para as 10h30 de sábado no apeadeiro da Aguda, em Gaia, e, após distribuição de informação, o grupo seguirá para a estação da Granja para replicar a iniciativa. "Pretendemos mostrar no terreno o quanto esta obra é penalizadora para todos e por vários motivos: prejudica a mobilidade, descaracteriza a zona e atenta contra o ambiente”, disse nesta terça-feira à Lusa Ivo Pinhal, do movimento Amigos da Aguda.
Em causa está o projecto que a Infra-estruturas de Portugal (IP) tem vindo a implementar ao longo do troço ferroviário da Linha do Norte entre Espinho (distrito de Aveiro) e Vila Nova de Gaia (distrito do Porto), o qual inclui a colocação de separações acústicas, reformulação de apeadeiros e construção de passagens pedonais superiores para substituir as actuais.
Um dos movimentos locais já avançou com uma queixa ao Ministério Público, bem como ao Provedor da Justiça Europeu, com o argumento de mau uso de fundos comunitários. Ivo Pinhal contou que os movimentos da Aguda e da Granja estão a convidar a população a participar no protesto através do “passa a palavra” e de apelos nas redes sociais.
Os organizadores da iniciativa, que em posições públicas recentes classificaram algumas das estruturas que estão a ser implementadas de “mamarracho”, “escarro arquitectónico” ou “muros de Berlim”, querem “alertar a IP e as autarquias locais para os efeitos da obra e pedir que esta seja revertida ou pelo menos alterada”. “Da IP e da Câmara de Gaia continuamos sem resposta. A Junta de Freguesia de Arcozelo está a encetar conversações e já pediu reuniões”, descreveu Ivo Pinhal.
Esta obra já motivou petições públicas e pedidos de esclarecimento, bem como a promessa de acções de protesto no terreno, sendo que a estrutura mais criticada é a passagem superior pedonal da Granja. Os moradores defendem a sua substituição por uma passagem inferior, mas, em resposta à Lusa, a IP explicou que essa solução constitui “maior risco à segurança dos utentes”.
“A criação de uma passagem inferior pedonal não asseguraria condições de visibilidade do exterior para o interior da passagem, o que constitui um maior risco a segurança dos utentes, e, em caso de falha de fornecimento de energia ao sistema de bombagem, ficaria impedido o acesso dos passageiros à plataforma central e a evacuação dos mesmos em casos de emergência e socorro”, lê-se no esclarecimento da IP.
Ainda a propósito deste tema, na quinta-feira, a associação ambientalista Campo Aberto acusou a IP de atitude “pouco democrática”, manifestando-se “solidária” com os moradores. “A posição da IP parece-nos eivada, mesmo que possa ter algum fundamento de índole técnica, de uma atitude tipicamente tecnocrática e, portanto, não democrática, de desprezar a priori os interesses dos moradores e as suas opiniões”, referiu a Campo Aberto numa mensagem enviada à Lusa.
A somar às críticas sobre a passagem superior colocada na Granja, os moradores têm vindo a criticar as barreiras anti-ruído que estão a ser colocadas junto à linha, apontando que com muros de 3,5 metros de altura em alguns locais as populações ficam “entaipadas”.
A Lusa contactou a Câmara de Gaia que recordou que este processo inclui uma acção judicial, algo que “o município respeita”, mas “impede a continuação do debate público”. “A acção é contra a IP, mas estando o Município em questão, importa respeitar os tribunais e deixá-los fazer a devida avaliação”, respondeu a autarquia.