Todas as crianças pela paz
A partir do livro Todas as Crianças da Terra, espectáculo de teatro homenageia Sidónio Muralha. Sábado e domingo (9 e 10 de Abril), no Teatro-Cine de Pombal. Gratuito e para todos.
“A paz é uma pomba que voa./ É um casal de namorados./ São os pardais de Lisboa/ que fazem ninho nos telhados.” Palavras antigas de Sidónio Muralha, cujo centenário de nascimento se assinalou em 2020. A homenagem encenada a este poeta que cresceu na Madragoa só agora pôde subir ao palco, suavizada a pandemia de covid-19. Deram-lhe o nome Para Todas as Crianças da Terra.
“O título é uma alusão ao livro Todas as Crianças da Terra, onde o poeta Sidónio, de metáfora em metáfora, dá vida à paz que ele deseja para todas as crianças da Terra”, descreve a nota de imprensa.
Benita Prieto, Tâmara Bezerra, Fernando Guerreiro e Ricardo Schöpke (da esquerda para a direita na foto), dirigidos por Carlos Marques, contam e cantam parte da vida do autor, a sua poesia, o seu amor pelas crianças, o compromisso com a justiça social e a protecção do nosso planeta. Neste sábado e domingo (9 e 10 de Abril), às 16h30, no Teatro-Cine de Pombal, para toda a família. Quinta e sexta-feira, as actuações foram dedicadas às escolas, a que assistiram perto de 450 crianças.
“O cenário”, faz-nos saber Benita Prieto, também directora de produção da peça, “é um elemento lúdico que se modifica ao longo do espectáculo, são desenhos feitos pela animadora de areia Pilar Puyana, concorrente do Got Talent Portugal 2022”.
Os figurinos são assinados pelo artista brasileiro Carlos Alberto Nunes, trazendo “movimento à cena, com elementos da terra e do mar que unem Brasil e Portugal”. As composições musicais “derivam da riqueza prosódica da poesia de Sidónio Muralha e reforçam os elementos contidos na sua obra literária”.
A encenação de Carlos Marques “mescla a acção teatral com a narração oral, duas artes nas quais desenvolve um trabalho notável há quase 20 anos”, diz-nos a contadora de histórias e especialista em Literatura Infantil e Juvenil e em Leitura.
Ilustrador brasileiro e “minhoto”
Sidónio Muralha publicou o seu primeiro livro de poesia infantil em 1949, Bichos, Bichinhos e Bicharocos, com ilustrações de Júlio Pomar. É um dos precursores do neo-realismo português, publicou 21 livros (prosa e poesia) para adultos e 15 livros para crianças, com a chancela de editoras portuguesas e brasileiras.
A edição que aqui se divulga foi ilustrada pelo artista brasileiro Fê, de São Paulo, formado em Arquitectura, que contou ao PÚBLICO, via email: “Este livro eu ilustrei, acredito eu, há mais de 20 anos e ilustrei tudo em técnica digital, mas em Novembro de 2010 tive um problema sério no meu hard disk [disco rígido] e perdi absolutamente tudo o que tinha de livros de literatura para infância e ilustrações. E na época eu não tinha feito backup, diferente de hoje em dia que tenho backup de tudo o que crio digitalmente.”
Na página online da editora Global, descreve: “Desde pequenininho amava desenhar; aos nove anos já pintava quadros à tinta a óleo. Desenhava em qualquer lugar que podia, desde a parede do quarto até sacos de papel de padaria. Desenhar, rabiscar, ver nascer no papel um universo de paisagens e personagens que irão povoar um livro e saber ainda que este logo estará diante de mãos e olhos curiosos de uma criança é para mim a maior felicidade do universo.”
Bem-humorado, diz ao PÚBLICO considerar-se “minhoto” e explica porquê: “Meus pais e avós são imigrantes portugueses, minha mãe é de Vila Nova da Cerveira, no Minho, e meu pai de Bragança, todos do Norte de Portugal, me considero minhoto... Amo Portugal e tenho muito orgulho da minha origem lusitana.”
Fê diz ainda que escrever e ilustrar livros “para os pequeninos” é a sua “verdadeira paixão e vocação”. Morou 14 anos em Londres (foi lá que perdeu as imagens digitais) e regressou ao Brasil em 2018.
Todas as crianças de mãos dadas
O espectáculo Para Todas as Crianças da Terra é o resultado de uma residência artística na Casa Varela, do Município de Pombal, e pretende dar a conhecer a obra de um autor que dividiu a vida entre Portugal e o Brasil. No palco, misturam-se “os múltiplos sotaques que acompanham a vida e a obra de um poeta viajante e, por isso mesmo, universal”.
O projecto integra-se no programa Garantir Cultura, do Ministério da Cultura, é realizado pela Ações & Conexões Associação Cultural. São parceiros a Câmara Municipal de Pombal, a Laredo Associação Cultural, a Fundação Sidónio Muralha, Centenário Sidónio Muralha, a Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, o Cenformaz, o Centro de Formação de Escolas António Sérgio e a Estrelas de Papel.
Esta celebração do centenário de Sidónio Muralha — O Poeta Viajante conta ainda com formação de professores, com um podcast e com a exposição Sidónio Muralha — Escritor Semeador de Futuro, na Biblioteca Municipal de Pombal até 16 de Abril.
Assim termina o livro e o espectáculo: “A paz é o oposto da guerra,/ é o sol, são as madrugadas,/ e todas as crianças da Terra/ de mãos dadas, de mãos dadas,/de mãos dadas.” Tomara que assim seja.
Ficha técnica
Texto: Sidónio Muralha
Dramaturgia: Benita Prieto, Fernando Guerreiro e Tâmara Bezerra
Elenco: Benita Prieto, Fernando Guerreiro, Ricardo Schöpke e Tâmara Bezerra
Encenação: Carlos Marques
Música e sonoplastia: Fernando Guerreiro
Figurinos: Carlos Alberto Nunes
Animação de areia: Pilar Puyana
Desenho de Luz: Ricardo Schöpke
Direcção de arte e design: Ieda Alcântara
Fotografia: Luísa Peres
Direcção de produção: Benita Prieto
Informações e bilheteira: cultura.cm-pombal.pt teatrocine@cm-pombal.pt/236 210 540