Entrada de lusodescendente na Assembleia da República é “simbólica”, mas “há caminho a fazer”
Director do Lusojornal espera que com a eleição de Nathalie de Oliveira os partidos olhem para os portugueses que vivem noutros países como potenciais candidatos.
Nathalie de Oliveira é a primeira luso-descendente a ser eleita para a Assembleia da República, mas apesar de “simbólica” a sua eleição não vem apaziguar o sentimento de “desprezo” sentido pela comunidade portuguesa em França por parte das autoridades portuguesas.
“Foi preciso esperar quase 50 anos de democracia para que isto tenha acontecido. A maior parte dos portugueses mantém boas relações com Portugal, com os seus familiares e a sua aldeia, o que os afecta é muitas vezes o desprezo e falta de atenção que sentem por parte dos políticos e dos meios de comunicação”, disse Vitor Pereira, historiador e professor na Universidade de Pau (em França), em declarações à agência Lusa.
Vitor Pereira estuda a emigração portuguesa para França e considera que esta eleição é “simbólica”, já que até agora, a maior parte dos deputados eleitos pelos círculos da emigração “são pessoas que viveram em Portugal e que não têm mesmo ligações familiares e pessoais” às comunidades.
Esta eleição é “histórica” para centenas de milhares de portugueses que vivem em França e “é um passo importante” para a relação com Portugal, mas segundo Carlos Pereira, director do Lusojornal, maior jornal da comunidade portuguesa em França, há ainda um caminho a fazer.
“Vão dar-se passos importantes, mas há um caminho ainda a fazer. A Nathalie de Oliveira chega ao Parlamento, mas ainda não é conhecida no próprio partido e ela vai ter de se impor, tanto no PS, como no Parlamento. Percebo que haja pessoas muito contentes e as eleições são importantes, mas também é importante fazer que esta prática venha a perdurar no tempo”, defendeu o jornalista, que há mais de 20 anos acompanha a comunidade portuguesa em França.
Com a eleição de uma luso-descendente pela primeira vez, Carlos Pereira espera que os partidos políticos portugueses olhem para os portugueses em França e noutros países da Europa como potenciais candidatos que podem levar a vitórias políticas.
“É necessário que os partidos percebam que se nós somos “os queridos emigrantes” tem de se vir cá buscar os candidatos e não é uma prática muito corrente de pôr uma pessoa daqui num lugar elegível”, referiu.
Caberá agora a Nathalie de Oliveira construir o seu percurso na Assembleia da República, considerando que conta já com a identificação dos portugueses em França por ter vivido “as mesmas dificuldades e os mesmos anseios”, diz.
“Vamos ver que tipo de influência consegue ter junto do partido e também junto dos ministérios e também como é que vão ser as relações que ela vai manter também com o próximo ou com a próxima secretária de Estado”, disse Vitor Pereira.
Quanto às prioridades do seu mandato, Carlos Pereira diz que um deputado eleito pela emigração se deve bater para o aumento da representatividade dos círculos da emigração e pela resolução dos problemas nos consulados.
“Há só dois eleitos para este círculo eleitoral [da Europa] e esperemos que o número de eleitos aumente. Há ainda as questões ligadas ao funcionamento dos consulados e isso é preciso haver uma fiscalização. Os deputados têm essa função e devem alertar. A situação está péssima em Paris, com as pessoas a nem conseguirem marcar uma data para tratarem dos seus documentos”, concluiu o jornalista.