Pai, mãe, parem em nome dos filhos!
As relações com os bebés começam inevitavelmente nas mães, cabendo aos dois abri-la ao pai. Mas mesmo quando esse processo correu bem, muitas vezes, após uma separação, as mães voltam a condicionar essa abertura.
Querida Mãe,
Obrigada por ter escolhido tão bem o meu pai. Obrigada por ter sabido gerir os seus sentimentos de luto, tristeza, confusão em relação ao fim da sua relação de tantos anos, sem precisar de contaminar os seus filhos dizendo-lhes mal do pai.
Obrigada por lhe ter dado todo o espaço que ele merece como pai, mas, acima de tudo, aquele que nós merecíamos enquanto filhos.
Parece que lhe estou a agradecer o óbvio, não é? Ou a dar-lhe demasiado poder na relação entre nós e o nosso pai, mas não nos deixemos enganar... As relações com os bebés começam inevitavelmente nas mães, cabendo aos dois abri-la ao pai. Mas mesmo quando esse processo correu bem, muitas vezes, após uma separação, as mães voltam a condicionar essa abertura.
Por isso, o meu desejo para este Dia do Pai é que as mulheres que estão a usar, consciente ou inconscientemente, os filhos como armas contra os pais; as mães que parecem fazer tudo para alimentar em si o ódio contra o ex-marido, encontrem urgentemente a paz — nem que seja com ajuda especializada.
Mas, mãe, como sei que é difícil as pessoas, sejam homens ou mulheres, encontrarem em tempo útil o equilíbrio emocional desejável (e o tempo das crianças não é o tempo dos adultos), transformo o meu apelo num apelo aos tribunais, e a quem neles decide a vida destas famílias: que tomem decisões com rapidez e que sejam corajosos, mesmo quando é preciso desafiar o pressuposto de que as mães são mais necessárias aos filhos do que os pais, porque os danos infligidos durante estes tempos horrivelmente longos e dolorosos de espera são, por vezes, irreversíveis.
Querida Ana,
Comoveu-me muito a tua carta. Obrigada.
E assino por baixo da tua causa, que é há tantos anos a minha. Indigna-me que os tribunais estejam atolados até ao tecto com processos litigiosos entre os pais que se prolongam pela infância e adolescência dos filhos, sem que as partes envolvidas — às vezes ambos, outras vezes apenas um — consigam por o interesse das crianças à frente dos seus.
Lembras-te da reportagem que fiz para a Máxima, e que para meu orgulho recebeu um prémio dos Direitos das Crianças em Notícia? O título era uma citação de uma frase que várias juízas me disseram ouvir constantemente a estas crianças: “Por favor, faça com que os meus pais parem!” Já viste o que aconteceu a uma família, quando uma criança em desespero pede a uma juíza ou a um procurador do Ministério Público que ponha em ordem os pais, aqueles que deviam velar por ela e protegê-la?
Estes danos, Ana, são não só irreversíveis como tu dizes, mas fatais, e isso um Estado de Direito não pode permitir. Como dizes, estes profissionais precisam de muita coragem para agir, sabendo ainda por cima que tantas vezes nós, os jornalistas, acabamos por dar cobertura mediática insensata à mãe que se vem queixar de que o tribunal lhe roubou os filhos, como se a decisão tivesse resultado de um capricho momentâneo de alguém.
Sabes, Ana, como é que me apetece consolar aqueles que neste Dia do Pai sentem que não os deixam ser os pais que querem e podem ser? Dizer-lhes que persistam, que não desistam pelo cansaço ou porque têm medo de que a sua insistência traga mais sofrimento aos seus filhos, porque no final eles vão agradecer-lhes. As crianças são muito mais espertas e intuitivas do que às vezes pensamos, e sabem “ler” o que se passa entre os pais mesmo que, naquele momento, sejam frágeis demais e demasiado dependentes para fazer frente a quem por maldade ou doença as impede de terem o pai que merecem.
Contou-me uma juíza que recorda sempre aos pais litigantes, que se digladiam com pareceres de especialistas e queixas e queixinhas, que aos 18 anos os filhos vão ter acesso a todo o processo. Que vão poder conhecer os dois lados da história, e desmascarar todas as mentiras e alegações que se fizeram em nome deles. Esperava ela, e espero eu, que essa certeza os envergonhe, e os faça parar. Mas, se não fizer, é urgente que um tribunal seja capaz de por um ponto final nesta guerra — nenhum juiz pode fechar os ouvidos ao apelo: “Faça com que os meus pais parem!”
No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.